Numa tarde de janeiro
ele me levou dali
porque ninguém mais entenderia
aquelas verdades.
Ele me levou dali
porque o vento quente
me secaria as lágrimas
e sopraria nossas palavras.
Ele me levou dali
porque os bancos de praça
são colos de mãe
para os poetas de boteco.
Ele me levou dali
porque o silêncio da rua barulhenta
é também o nosso
e acolhe a solidão dividida.
Ele me levou dali
porque eu me desculpava
por sempre me desculpar
e por chorar.
Ele me levou dali
porque nos entendemos bem
e ainda melhor quando
somos só os dois.
Ele me levou dali
e me deu coragem
de finalmente vê-lo
e enxergá-lo.
Ele me levou dali
porque eu já vivo presa demais
em mim mesma
e anseio por paz de espírito.
Ele me levou dali
e eu ouvi,
silenciei,
compreendi também.
Ele me levou dali
e por umas horas eu estive em casa;
espero ter voltado pro mundo cruel
alguém melhor.
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