sábado, 31 de agosto de 2019

Intenções

Ainda me lembro
de como o tempo
deixou teus escuros
tão grandes,
opacos,
infinitos,
talvez cheios dos meus não-ditos,
como negros-buracos...
Quem dera derrubar meus muros
e quem sabe recolher meus cacos.

31/08/2019

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

The truth I know

Ah, if only he could know
that in summer, spring, winter and fall
he's fairer than any bold girl
who dares to carry the name of the Snow...

30/08/2019

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Faísca

Será que o fogo sabe
da parte de si
que tem nome e arde
desde sempre dentro de mim?

29/08/2019

domingo, 25 de agosto de 2019

Inside out

You don't know what you crave
until it tears you apart
and pretending becomes an art
you take with you to the grave.

25/08/2019

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Forest fire

May the wind spread your ashes
so that they know who you were
as you scream "this is on you, sir",
when dispair comes and tooth clashes.

21/08/2019

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Testimony

Sunrise or sunset, you ask?
The answer is sunset,
an easy task,
but why?
For it is the gods' blood fillet
in the sky.

I never had to be told
that before the night
its touch, in all its might
sets fire to the world
and even men turn into liquid gold.

19/08/2019

sábado, 17 de agosto de 2019

Pétalas

Bem-me-quer
ou mal-me-quer,
mel da boca
da tua mulher?

Eu bem-te-quero
com tanto esmero,
ainda fico louca
porque aqui te espero!

Que sempre diz
que bem-me-quis
desde o começo...
Não escapa-me por um triz.

É só o que te peço.

17/08/2019

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Cookies and cream?

Corri até a porta depois de ouvir a campainha e o que vi me intrigou. Era uma menina de uns 8 anos; olhos inquietos, o cabelo comprido puxado num coque seguro por um elástico mais bem-feito do que eu jamais havia conseguido ou conseguiria sozinho. Poderia ter ficado com inveja se gastasse mais tempo com o que tenho, mas não significava que não achava bonito. Provavelmente ou não ela fazia balé e aquilo era tão natural quanto o passar das horas.
Era pleno verão, então não fazia sentido perguntar o que ela fazia fora da escola. Quando descansei as mãos na soleira da porta, percebi que a pequena segurava caixas contra o corpo. Assim que levantou os olhos para mim, ensaiou um sorriso de dentes grandes.
- Awn, bom dia para você, senhorita. O que posso fazer por você?
- Como vai, senhor? – rápida mudança para tentativa de tom profissional e persuasivo. – Queria saber se não gostaria de alguns biscoitos neste belo dia. – A menina me indicou as caixas, abaixando a cabeça e cortando contato visual. Não é comum ver crianças vendendo biscoitos de porta em porta por aqui, mas quem sou eu para questionar?
- Prazer em conhecê-la. Biscoitos caseiros, é isso? – ela fez que sim e algo me disse que isso facilitaria as coisas para ela, então me aproximei mais da beira do degrau e me agachei, pensando um pouco comigo mesmo. Eu estava prestes a fazer chá, então disse que daria uma olhada e apanhei a caixa para espiar o conteúdo.
- FILHOOOOOO!! O CHÁ ESTÁ PRONTO!! – gritou minha mãe da cozinha.
- JÁ VOU, MÃE. – Virei-me para a menina. – Então. Seus biscoitos parecem deliciosos, hein? – ela deu uma risadinha satisfeita, meneando a cabeça. Claro que eu estava sendo educado, mas também era verdade. Acrescentei que compraria todos, já que pelo jeito só haviam três caixas.
- Mesmo? – o sorriso que vi no início se alargou.
- Isso aí. – Verifiquei a carteira e para meu alívio o valor que eu tinha na hora dava exato. Não queria incomodá-la tendo que contar troco. – Uma para minha mãe e meu pai, uma para o meu irmão e outra para o chá.
- Obrigada, moço alto! – Ela apanhou o dinheiro, se afastando, e foi nessa hora que me dei conta de que não havia me apresentado nem perguntado seu nome, então apenas ri e acenei adeus por ora. Ela provavelmente morava perto e talvez nos cruzássemos na rua de novo.
- Onde diabos você estava, menino? O chá está esfriando! – exclamou minha mãe ao se aproximar. Eu fechei a porta e mostrei-a as caixas de biscoito.
- Não faz mal, mãe. Vamos comer uns biscoitos. E esta outra caixa é para a senhora.
- Ah, muito obrigada... – ela fez uma pausa, me olhando enviesado. – Mas e o seu pai?
Eu dei de ombros com uma risada abafada.
- Isso é com você. Quer saber? Não vou mais dar a outra caixa para o João...
- Por quê?
- Aquele puto roubou minhas meias de novo.
- PFFFFFFTTT oras. Biscoitos, então. – Minha mãe gesticulou no ar, já voltando na frente para a cozinha. – Sugiro que você esconda bem essa coisa. Você sabe o quanto seu cachorro é sorrateiro e eu não o quero espalhando farelos no meu chão. – Ela cacarejou uma risada.
- Mentira! Ele é um bom rapaz. – Protestei ao puxar uma cadeira e sentar.
- Diz isso porque viaja muito e não o vê tanto assim. Você é o bom rapaz, não ele. – Minha mãe sacudia a cabeça enquanto colocava a chaleira de volta ao fogo.
A borda da caixa meio mastigada e os farelos debaixo da minha cama no outro dia só reforçaram a minha teoria de que os cães são os piores guardadores de segredo do mundo...

15/08/2019

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Senhoria

Ei,
meu bem,
sou tua e apenas tua
pois assim o desejei
e enquanto for tua
não serei de mais ninguém.

14/08/2019

sábado, 10 de agosto de 2019

Bianca e o pássaro azul - excerto

Mais um dia como qualquer outro acabando, o sol se pondo devagar lá fora e Andrea lendo à luz baça da lamparina. Algum tempo depois, fechou o livro marcando a página com um dedo e foi até a janela para abri-la e deixar um pouco de ar entrar. Quase que imediatamente, um corvo pousou no parapeito e olhou para ele com olhinhos curiosos, o que o assustou.
- Eu já sei, desgraçado! – exclamou ele num ímpeto de fúria. Usou o livro para enxotar a ave dali e se ouviu xingando debaixo da respiração. Não precisava de um lembrete assim tão óbvio.
Andrea nunca tivera medo da morte, nem do que pudesse encontrar do outro lado, se é que havia alguma coisa. O ser cíclico e temporal como o resto todo à sua volta era o mais lindo e sublime na sua espécie. Mas ele sabia do preço a pagar por tentar barganhar com aquilo que considerava mais natural. No entanto, não se arrependera e não desistiria até conseguir seu objetivo.
Sentou-se novamente na cadeira de balanço, abrindo outra vez o volume antigo sobre a perna cruzada. Quando seus olhos focaram no poema quase da sua idade e ele notou do que se tratava, riu sacudindo a cabeça diante da ironia das coisas. O texto descrevia um eu-lírico inconformado com a morte da pessoa amada desde os tempos de criança, recusando-se a sair de perto do túmulo e do cemitério, mesmo com a desaprovação do clero local. Considerando suas circunstâncias, seu estômago embrulhou-se e sentiu dores de cabeça.
Ele fechou os olhos devagar e aos poucos pegou no sono; a cabeça contra o espaldar da cadeira num ângulo agudo que lhe esticava o pescoço e o gentil vai-e-vem do corpo no empurrar do pé que estava no chão. Porém o que lhe vieram não foram sonhos agradáveis, e sim uma sucessão de memórias picotadas e borradas, mas muito vívidas, de tudo o que o levara a estar onde estava.
As visões ficaram um pouco mais nítidas conforme mostravam a passagem do tempo em que Andrea crescia e saía de casa para seguir o que sabia ser seu destino e vocação; sempre com muito trabalho e ocasionalmente com o que alguns chamariam de sorte e uma pitada de bênção daqueles que vieram antes dele... Até chegarem ao ponto crucial.
O rapaz era acolhido em suas andanças e ânsia por aprender na casa de uma anciã sem marido nem filhos que se tornaria uma das pessoas que ele mais respeitava e admirava, em termos de personalidade, trabalho e das coisas vistas e experimentadas. Logo os vizinhos passaram a referir a Andrea como seu neto adotivo, principalmente quando os viam andar de braços dados em direção ao mercado ou ao bosque. Nenhum dos dois parecia se importar de dizer o contrário.
Até que, na noite mais escura e silenciosa de que consegue se lembrar, ele rapidamente se viu contorcido na cama do quarto de hóspedes, ardido de febre entre lençóis encharcados de suor que lhe pinicavam a pele com a sensação de que estava deitado sobre uma fogueira. Entre períodos de semiconsciência, tentava consolar a mulher iluminada que chorava em sua cabeceira enquanto soprava fumaça de sálvia queimada em sua direção e lhe impunha suas mãos sábias sobre a testa e o coração. Tudo aconteceu tão inesperadamente que nem mesmo Andrea sabia explicar o que acontecia em seu corpo.
“Meu menino, meu amigo... Você ainda tem tanto a fazer, não pode ir embora agora... Resista e fique, jovem filho das flores.”
“Não chore, Senhora... Eu não partirei... Enquanto tiver a honra da sua palavra e companhia...”
“A honra é minha, rapaz. Você sabe disso. Queria poder fazer mais por você...”
Andrea teve um ataque de tosse e cuspiu um filete de sangue entre os dentes trincados pelos calafrios. Limpando a boca agora pintada de vermelho nas comissuras e na área de transição dos lábios o melhor que pôde, acariciou a mão em seu peito com um sorriso torto e um tanto triste.
“A Senhora sabe que pode. Eu nunca lhe pedi nada a não ser abrigo, comida e orientação. Então não há de negar o último querer de um moribundo, não é?”
“Qualquer coisa, Dea.”
Ele engoliu em seco. Mal sentiu quando ela lhe afastou um cacho suado do rosto.
“Uma colher daquilo que a Senhora me ensinou a fazer, mas a nunca usar. Uma já basta.”
A mulher prendeu a respiração pelo que pareceu muito tempo enquanto ele falava e mesmo depois, absorvendo a informação.
“Tem certeza, filho?”
Andrea virou a cabeça no travesseiro com um movimento brusco e uma careta de dor.
“É o único jeito.”
Mais ou menos meia hora depois, a mulher voltou para um Andrea exausto e fraco com um frasquinho minúsculo decorado de filigranas e uma colher de sopa. Cutucou-o gentilmente; o medo dissipou dentro dela quando ouviu o ronronar suave da respiração e o lento abrir de seus olhos. Apesar de ser pequenina perto de Andrea, teve força para segurá-lo meio sentado na cama e esvaziar o frasco na colher e depois nos lábios do moço. Ele tomou a poção com a gratidão, lágrimas nos olhos e a obediência de uma criança, muito embora aquilo tivesse a textura e gosto de veneno ácido.
Sua visão ficou turva de repente, cortando para uma imagem da mesma senhora sorrindo de orelha a orelha ao vê-lo em pé novamente, ainda que com um grau de preocupação na expressão. Cortou novamente mostrando-lhe o bater de asas de um tordo marrom para a escuridão do bosque e outra vez para sua mentora afagando seu rosto e a barba por fazer, a mão descansando na gola da camisa enquanto conversavam à mesa... E virando devagar para seu pescoço. Ele acordou sobressaltado e sem ar, como se o houvessem estrangulado; a última coisa que se recorda de ter visto era o rosto de Dona Bianca por detrás de mechas de cabelo.

10/08/2019

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Oralidade

A pétala dos lábios
tão quente quanto os olhos
e o chá que bebes
para deixar as cordas mais leves...

Onde o prazer de um pio
não ecoaria ao vazio
e sim é lâmina que fundo corta
mas ainda lembra do que mais importa.

08/08/2019

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Dignidade

Se alguém me perguntar
estarei entre o povo que acha
que em dedos como os teus
tal qual os meus
não cabe graxa
mas mancha de tinta
e o prazer
na gordura da batata frita
e no suspiro de uma mulher
ao amar.

08/08/2019

domingo, 4 de agosto de 2019

Riqueza

Meu reino por um colo como aquele
onde em pequena grandeza me vejo -
minha fortuna por outro beijo
que seja dele,
que me fique na pele.

Minha alma por um olhar
e um sorrir
que mesmo sem querer
veio aqui só para derreter
esta mulher
louca por ti
e por te amar.

04/08/2019

Rocha

Deixo a luz do sol bater um pouco a cada vez sobre as várias faces e ranhuras lapidadas por tempo e destino para que ilumine e penetre a gra...