segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Mimosidade

Que tu achas, meu velho,
de eu pintar a unha do vermelho
mais escuro e obsceno que encontrar
não para seguir conselho
mas para a mão ficar mais corada
e bonita
para a hora não marcada
e a vontade maldita
em que eu te beijar...

Bem devagar,
sem pressa
essa bela peça
de bocal mandíbula
inferior
e ridícula,
meu amor.

E que unha e pêlo
se achem,
rocem
e cocem
com zelo
e carícia
de mordida
bem medida,
sem outra malícia...

09/09/2019

domingo, 29 de setembro de 2019

Verso leitoso

Ao contrário de outros
é lindo como não reclamas
das outras camas
sem meus pés frios.

Outras tantas,
longe ou perto que não são nossas
na minha ausência, no quando não estás.

Essas que não conhecem o processo
do escuro e do meu verso
escrito na boca pelo avesso.

Essas que só corpo e lida repousam
porque assim quer o destino
em que sonhos de menino
realizados a berço e seio voltam.

09/09/2019

sábado, 28 de setembro de 2019

Conversação

Nem calor nem frio
me deixam barulhenta,
nem se posso,
é assim comigo
até onde sei.
Porém, vejamos, moço,
se por acaso tenta
adivinhar o que acontece
se nenhum pio
entrega a minha prece...

O bater do coração
e cada músculo em tensão
do teu passarinho
cabe nesta linda mão
e no teu dado desalinho,
meu rei...

7 de setembro de 2019

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Que outro ciclo se (re)nove

Ainda em setembro
me lembro
de novembro
e entendo a ele
e ao nove.
Queres que eu prove
como debaixo de terra e pele
é por ele e nele
que tudo se move?

Foi ao ano nono
que me deram verdade e abandono,
o aos poucos
acordar de um longo sono
e olhar nos olhos dos loucos.
Tão cedo
me daria tanto medo
e de ninguém estava nos planos.
Muito menos os do meu nonno.

Nono mês
que na casa sagrada
não vivi
mas de onde me vi jogada
e, ainda que solitária na caminhada,
ainda estou aqui
inteiramente alquebrada,
tentando ficar sã
porque não pôde a irmã,
por sua vez.

Depois dos nove
ainda que eu saiba
não ser por gesto esnobe
de alguma forma
então eu não mais caiba
no que hoje me dá certa raiva
e como antes não me comove.
Eu só posso agora
tentar pedir desculpas
e de dentro para fora
buscar as minhas curas.

Novembro abençoado
em que amado é nascido,
o que não serve é esquecido
e tanto desejo
de repente vejo
que é realizado,
mesmo que contido,
nunca cantado.
Depois da tormenta
dos dezenove
que não só move
mas que arrebenta,
eu quis mais
e num quarto
de inteiro, mas quieto e fácil parto
a mim ele veio
como a nenhum outro contra meu seio.

E antes
como talvez quiseram as estrelas e cartas
em alguns instantes,
de portas
e mãos abertas
me recebem moça
e poesia
e moço
que fez da noite novo dia.
Agradecer, tentar até posso
mas a honra é tanta
que não sei se a palavra adianta,
eu não sei se conseguiria.
Devo tanto à primavera,
cada novo eu que desabrocha
em intensa tocha
para o que espera
a nova era...

Sem pedaço e sem avô
porém crescida
no melhor que pôde me dar a vida -
outra língua em rima,
uma mulher dentro da menina,
o leque do tarô
e mais crença no amor.

7 de setembro de 2019

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Co(n)densação

Sou janela
singela
à espera
do teu orvalho,
pois que abres um talho
na minha vítrea finura
e me transpassas
da forma mais pura
das raças.

6 de setembro de 2019

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Quem-te-ano

Quando se esquece o tempo
ou nele se perde
provamos da eternidade
de sonho, de olho verde,
de presença, dor,
ódio, amor
ou simples saudade.

6 de setembro de 2019

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Espelhado

Se eu não soubesse quem eras
tu me assustarias
com o orgulho com que hoje esfrias
meu sangue depois de certa feras.

O tão animalesco
nos teus dentes para fora,
na fome do teu gesto
e do que sai da tua boca
em justeza solta.

5 de setembro de 2019

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Palestrando

Não precisa se explicar,
só não cala
essa carícia no ar,
queimadura doce de bala...

Deixemos para depois
os erros e acertos dos heróis,
mas não pára
logo agora,
eu gosto de como eles soam na tua voz...

5 de setembro de 2019

domingo, 22 de setembro de 2019

Sumo

O que importa é a minha poesia
e o que é dela.
Todo o resto
apaga a vela
e eu detesto -
que fique para o nunca de outro dia.

5 de setembro de 2019

sábado, 21 de setembro de 2019

31/08/2019

Sempre que digo a ele que gosto de seus olhos castanhos, ele diz que sou engraçada, porque ninguém fala de olhos castanhos tanto quanto dos azuis. Como se os castanhos não carregassem pores-do-sol dentro de si e como se a coisa mais bonita neles não fosse o modo com que ele me olha. Todos falam de céus abertos, mares, esmeraldas e florestas nos olhos das pessoas, mas nunca da terra, do pôr-do-sol, do mel e do céu noturno nos escuros.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Sob a coberta

Amanheças
e com o orvalho
te pareças
porque assim me olhas.

Porém não como o das manhãs
que no inverno
com suas falhas
deixam-nas mais frias
que noites de inferno
e palavas vãs.

Aqueças
corpo, cama, quarto, velhas peças
com bênção
e banho
tudo o que os outros pensam,
a mim
e a tudo de estranho.

Chovas,
traga-me meu rei
e mesmo das covas
teu verso em sorriso
será com gosto talvez o único
de que beberei,
sendo grande amante ou mero cínico.

4 de setembro de 2019

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Desabrochar

Hoje olho para ti
e penso
que até certa primavera
eu nem moça o era,
mas mera menina de pouco senso
do melhor para si.

Tu, círculo de fogo inteiro
do recomeço,
alvo certeiro
que me vira
com toda a minha ira
em molde fresco de gesso...

Tu vens a mim
no teu olhar, no teu beijo e num velho pedido
nem tão grande assim
e aos poucos temos libido
numa mulher escancarada,
desaforada,
tua amada.

4 de setembro de 2019

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Provação

O que eu quero
pode não ser o que preciso -
a não ser menos atropelo
e mais riso.

E também o amor
que sei que mereço
com todo seu calor
e seu preço.

4 de setembro de 2019

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Em camadas

Qualquer unha que me raspa
em mim só encontra sangue
que talvez nem a morte exangue
e tanto pó
de tudo o que ainda tenho e morre
porque estou tão só
nesta torre
que não me basta...

4 de setembro de 2019

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Do despir-se

Puxas minha blusa
não tão rápido
quanto da tua musa
um gemido.

E tuas mãos no quadril
bem devagarzinho
logo saberão se o carinho
lhe serviu.

Sem pressa
conosco mora
e nenhum pecado nos confessa
o aqui, agora.

4 de setembro de 2019

domingo, 15 de setembro de 2019

Voyeurismo

Que delícia
andar à rua
sem malícia
sabendo que sou tua
e à hora propícia
e nua
somente a lua
vê a nossa carícia
na carne crua.

4 de setembro de 2019

sábado, 14 de setembro de 2019

Marola

Homem
que me namora
de dentro para fora
como ninguém.

Como se fosse ontem
em nós dois se demora
até que eu seja Senhora
com roupa ou sem.

4 de setembro de 2019

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Miragem

Sois sonho tão bom
que mesmo neles o sabe sê-lo
em mais que boca com cor de batom
e volume no cabelo.

Sois olhar que penetra
e beijo que fica na mão
que arrancaria a verdade mais secreta
até se eu quisesse dizer não.

Muito temo que outro derrame
me tire de cena
e por isso não mais te ame
também com lábios e pena.

4 de setembro de 2019

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Seleção natural

Ah,
vem com teu sorriso que fascina
meu coração de menina,
vem cá...

E não me provoca,
pois sou só passarinho
mas sei direitinho
o que me deixa louca...

E acabo entre os dentes
de um lobo -
não te faças de bobo,
sei que me entendes...

3 de setembro de 2019

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Insanidade

Talvez eu seja louca
por ter-te como musa,
mas esta alma sabe que bem usa
cada verso que pões na minha boca

e na minha mão que os escreve
por serem presente que se recebe e não se escolhe
mas que eu derramo por sobre o molhe
e uma onda talvez os leve...

E então mais ames
cada rima que te beija
no escuro deste amor

hoje do que antes
com todo o teu fulgor.
Se quiseres, que assim seja.

3 de setembro de 2019

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Do fanatismo dela

Flor bela,
feito estrela
já é visceral,
um tanto ideal
de morrer e matar.
Aí vem Raimundo
cortando fundo
quando musica
voz que nunca foi pudica
e pá!
Nada sobra, nada fica,
abre fenda
que só arrebenta.

3 de setembro de 2019

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Calada, eu consinto

Há tanto que eu poderia dizer,
que nos versos eu digo
e mesmo neste momento
continuo dizendo
para meu, e, quem sabe, teu prazer!

E no entanto
o mais bonito
nisso tudo e na alegria do meu pranto
e que amo tanto
é o talvez nada precisar ser dito
porque tanto tens feito por poesia e mulher,
tão difícil de descrever,
mas tão fácil sentir e ver!

3 de setembro de 2019

domingo, 8 de setembro de 2019

Heart of bird

The most vulnerable
of me
has crossed the lands
to where it ought to be,
to rest
among his love and his hands -
it couldn't find a sweeter nest.

3 de setembro de 2019

sábado, 7 de setembro de 2019

Isto que me deste

Se o meu amor me deu
a minha poesia,
foi esse teu
que ainda outro dia
e até hoje me traz
o que eu mais queria;
tão mais do que o que eu podia,
uma mulher e uma nova paz.

3 de setembro de 2019

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Niilismo desesperado

É verdade
que não sou minha dor,
meu amor.
Mas talvez eu seja como ela,
à sua maneira ainda bela -
no fundo
tão cansada
do mundo
e ainda a mesma,
comendo da minha mesa
por medo, conforto e vaidade.

Cheia de um tudo que não leva a nada,
e nada ganha
a não ser minha raiva
acumulada
e uma voz gritada
e fanha
até que me lembras
com pôres-de-sol e poemas
que estou viva,
tão viva, apenas.

3 de setembro de 2019

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Réquiem

Se de mim antes te fores,
só eu sei do meu luto,
da dimensão das dores,
embora não saiba do tamanho do tudo.

Acho que terá sido
como se um afetuoso irmão
ou um devotado marido
que guarda meu coração
no cuidado das mãos, consigo
tenha de repente partido
levando tanto de querido.

Talvez nem tanto importe
o que seja o algo
que para minha sorte
te dê ares de fidalgo.

E sim o que há de ficar comigo
da tua vontade e destemor
que cumpre de nós o destino
quer onde alma ou corpo for
nos dando tudo de mais amado,
elevado e felino
em bênção e castigo.

O prazer da tua palavra ao lado.

3 de setembro de 2019

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Point blank

When all the noise was said and done,
I gave him my chance
to be more than one word and glance.
I sat down and listened to him,
let him shoot with another gun.

Before I knew, he was under my skin
as a beloved partner
in our beautiful private conversation
in which one is dedicated gardener
and the other
looks at every flower
with a smile of adoration.

2 de setembro de 2019

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Of hunter and prey

Okay.
As you wish, young wolf.
I've never sung very loud, anyway...
I don't sing well, I was told,
but one day I might grow bold
and believe otherwise, if you so say...

2 de setembro de 2019

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Ergo sum

Eu a tomo nos braços
para que aqui fique,
mesmo que dos desejos
talvez eles tenham ficado fracos
e para que não se sacrifique.

Os nossos versos
a nós dois parecem distantes,
um pouco por falta de jeito
e outro por pertencerem a ouvidos amantes
bafejados contra o peito...

Mas neles continuamos imersos
como se faz com os beijos.

2 de setembro de 2019

domingo, 1 de setembro de 2019

Sem planos

Talvez um pássaro
agora tenha um lugar seguro -
um momento tão raro,
um presente tão puro...

Tão vulnerável e felina
mas aqui contigo e viva -
a um só tempo mulher e apenas menina
mais orgulhosa a cada tentativa...

31/08/2019

Rocha

Deixo a luz do sol bater um pouco a cada vez sobre as várias faces e ranhuras lapidadas por tempo e destino para que ilumine e penetre a gra...