quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Sussurros

Essa criatura
que mal se sabe
mal se conhece
se atreve a existir

assim torta
despida
desfeita
em fio de voz descompassado
que apenas a face mais escura da noite
ou a hora do amanhecer
podem ouvir

é feita de meros sopros
demarcados e, por isso, fáceis de esquecer
e que, mesmo assim,
se alimentam da beleza
de talvez morar em teus lábios.

30/12/2021

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Descobertas

 percebes as outras formas
da tua sede
no poço infinito da minha língua

e por uma chance de matá-la
acomodada e renascida
na tua boca
oceanos e conceitos de tempo
te perpassam

reconhecendo-as
como outras de si
na terra onde todos os desejos veem a luz.

 

24/12/2021

domingo, 12 de dezembro de 2021

Quando o risco vale a pena - atualizações

 


 

A semana foi cheia de boas-novas para o livro!

Esta é a capa oficial do meu livro "Quando o risco vale a pena", que me foi enviada no dia 7 de dezembro junto com o miolo oficial.

Estou muito contente com o resultado. E vocês, o que acharam?

Depois de uma última correção no miolo e de mais alguns detalhes acertados, na sexta-feira o pessoal da @editorapenalux me contou que o livro já foi pra gráfica pra produzir as primeiras cópias que vou receber em casa!

Logo logo ele começará a ser vendido e não vejo a hora de contar pra vocês. O jeito é esperar mais um pouco...

Quer reservar a tua cópia com autógrafo? Me manda uma mensagem que te ponho na lista! Quando chegar eu te aviso, separo uma e acertamos o valor depois.

Serão poucos exemplares, tá? Reserva o teu que o autógrafo vai junto quando for a hora. :)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Liquefeita II

Se eu reunisse todas as lágrimas
da tua presença,
seria pouco mais que força
altiva e desmanchada -
seria pouco mais que um mar.

E talvez 
ouviremos o nome do destino
na música de amor
própria desse inteiro partido.

09/09/2021

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Aliterado II

é no escuro e no silêncio,
no quase vácuo
que, por fração de segundo, ele vem.

passa por ti e olha
na tua direção -
não anda por ela.

e, exatamente como antes,
apenas segue.

o que quase foi apagado
mas em mais de um lugar ainda permanece
cala as palavras,
talvez porque não haja nada a ser dito.

entre sons e cores frias
te dá um breve eco de sonho que nunca se realizou
e te arranca o sorriso agridoce
que não chegou a ver.

não mais te prende e outra vez se vai,
mas é de ti que a verdade escapa,
sendo simplesmente o que é -
e quem se importa?

ah, se soubesse
do que te faria atirar-se às chamas...
mas, assim como tu, de certa forma
ele sabe.

talvez seja um defeito,
ou apenas uma maneira de não fugir
do que acena de volta de vez em quando...

o passado tem dessas coisas. 

30/08/2021

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Água II

 em ondas sobre mim,
mas sem o gosto de sal.
em que se banha
e de que se bebe.

que se oferece a mim em goles esparsos,
porém sôfregos,
que me fazem arfar e querer mais
na sede de que me lembras.

que se derrama, que escorre lenta
ora desde os cabelos,
ora do pescoço para baixo como numa purificação,
ora desde os lábios
porque neles não se contém.

furtiva, se guarda em certos lugares, certas taças,
até morrer em outros -
entre pétalas de flor, folhas e linhas.

de mãos trêmulas e quentes,
faz estremecer a finura que toca
em um misto de devoção e rotina.

canta, sussurra e recebe.

porque tu és água.

24/08/2021

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Motivos II

 atravessei céus inteiros
e fui parar na beira de uma água que nunca vi -
abanei a cabeça e sentei
perto do fogo que tuas mãos fizeram e deixaram aceso

vendo o pôr do sol,
a lua
e cada pontinho que se atreve a brilhar no escuro.

me embrenhei no mato só pra voltar pro silêncio
da falta de televisão
e finalmente ler, num sofá alugado,
o calhamaço com letra pequena
emprestado da minha mãe
que há anos não termino

e de repente as canções de amor
começaram a fazer sentido de novo.

te convidei dia após dia
pra passar as horas nos meus braços -
o máximo possível da vida
vivida e resolvida no calor da cama

fizemos amor
como se cada vez fosse a última
das tolices fantasiosas
escritas no espaço entre duas peles

por saberes que não és dono
da vida nem do corpo em tuas mãos.

por atenção,
pelo prazer,
pela espera.

talvez por paixão.

tomara que por amor.

 

24/08/2021

terça-feira, 24 de agosto de 2021

24/08/2021

 Talvez o que faça com que as palavras 

se misturem e se tornem inúteis 

seja quando se resumem a apenas uma.

sábado, 7 de agosto de 2021

Conversão

o templo se abre e recebe
o sentimento, a oração,
a rendição
abraçada
e una

dito o nome,
a terra morna deste
aceita
e come
o mel que deita
sobre as pérolas dadas

e bebe
o cálice de lágrimas
da libação
até que, derrubada
cada coluna
só sobre a ti e a deusa que de mim fizeste.

07/08/2021

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Debaixo do véu

na distância entre duas línguas
se pinta a imagem

e se sente
e se vê

a mão que se estende e toca
trêmula,
a oferenda,
o instante do eclipse
alterado no escuro

do que pensam as duas cabeças
da hidra
e do que respondem os tantos lábios
das coisas desfeitas.

05/08/2021

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Poeira

eu realmente não sei dizer adeus.

as ausências se estendem
como se a volta fosse sempre certeza

até que o encontrar qualquer
se torna o despedir
onde o longínquo
leva tudo embora
 
e tão pouco me sobra
 
pois não me deixaram mais que teu nome,
a memória repentina
do buraco negro dos olhos
alargados por detrás dos aros
que te permitiam ver tão fundo,
 
a foto da tua parede
cheia do passado
em quem até quem nunca esteve contigo te reconhece.
 
nem mesmo um lenço de rosas
para secar as lágrimas
que por um momento fingiram
que não cairiam
 
na breve exceção das tuas garras raras,
por um instante nuas
que permanecem em mim
em dedos
que se ferem com outra ponta
 
mas, espero eu, com a mesma coragem.
 
05/08/2021

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Somas

De quem é a posse?

Tua de mim
no que vejo
em cada carícia 
e beijo
mesmo depois
do fim
do desejo...

Ou minha de ti
quando te colocas no centro
e te recebo dentro
do permanecer aqui
em prece
que não reza
mas que faz sem pressa,
sem pecado que se confesse...
 
Ou será de dois por dois?

05/07/2021

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Shameless

I neither regret
nor forget
what it is to want you.

I erase not what I have said -
I take you against my bare back
instead,
like I said I would.

01/07/2021

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Merecimento

 Coisa querida
a ser conhecida,
entendida
e assumida
pelo que sou e faço.

Feita para ser amada,
acariciada
e sentida
por mente, mão
e coração,
guardada no terno abraço
do teu querer
mais sincero.

Pois posso não ser violão,
mas em alma de mulher
o tanto que quero
é como a um te pertencer.

01/07/2021

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Scenarios

Those silly things that lovers do...

Driving away from the loud and sad
and confessing to the moon's brightness
having the stars as our witness
hoping to later caress
the hours on end in bed
like love is made on the grass
after the kisses in between statues and glass
to then baring body and soul underwater
and embracing on the kitchen counter...

What if I want them with you?

17/06/2021

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Like a jazz standard

The day nothing makes me happy,
for death i will be ready
cause i will have no soul...

The day love wont make me silly,
only then you can feel pity
of the me you used to know...

And the day that your warmth
becomes easy thing to replace
is when i think of the north
as but another distant place.

But for now, here, just come,
grant me your sweetest smile.
Let us make of bodies the home
we have dreamed of for a while.

09/06/2021

sábado, 15 de maio de 2021

Mera verdade

 Por mais que eu hesite,
que eu engula
por medo de dizer em vão,
não ignoro a coisa pura
que se fez e existe
em mais de um coração...

Que a tua presença possa escrever
na minha boca essas palavras
e que elas sejam derretidas
com o mais doce sabor
sobre mim quando eu as disser...

E que esse sabor seja teu
como de outros também fora
ainda que não o tenha provado
porque nunca quis ser meu
embora não deixe de ser sagrado
há um século ou agora...

15/05/2021

terça-feira, 4 de maio de 2021

Unmade plans

 If you had taken the holy
offer that is my body
before Armageddon,
we could have gotten on.

On with the kissing,
on with my ridding
you of your clothes
and the rational bit of your senses.

Until you were inside
me as a great treasure
I'd never want to hide
and then, just for good measure...

While I feel you warm
and soft and so very deep
in your beautiful shape and form
like this, we fall asleep.

Tangled together, you and I -
body and kiss and a twinkle in the eye
under our own sacred norm,
and taken by pleasure.

04/05/2021

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Amor a muitas vistas

Sexta à noite me liberaram do trabalho por volta das dez horas ou dez e meia, algo assim. Imediatamente troquei de roupa e resolvi me meter dentro do carro. Liguei o foda-se mesmo, porque me dei conta de que precisava sair - precisava de um tempo longe da cidade para olhar pr’as estrelas, olhar pro que há para ver e só… Aproveitar o estar ao ar livre. Eu tenho dessas coisas. Sou do tipo que sai fazendo trilha na floresta e tal, sou esse tipo de pessoa.

Estava friozinho então pus um blusão e fiquei batendo perna pra me aquecer e vencer o vento que soprava se fazendo ouvir muito bem já fazia algum tempo. Tentei ir o mais longe possível pra ter a melhor vista, a pouco mais de uma hora de distância da zona urbana, e la luna me agraciou com sua presença em faceta minguante. Mesmo o que eu via apenas por conta do brilho da lua já era fantástico. Era tão bonito lá fora, magnífico de verdade.

Eu olhava para cima e pensava no tanto de tempo desde que estive pra fora e fui capaz de ver as estrelas brilharem daquele jeito. No outro lugar onde trabalhei até dava certo, mas havia muita área urbana por perto, com poluição visual, o que dificultava o sair e enxergar.

Algo que realmente gosto estando aqui e eu nem imaginava é que as pessoas sempre me perguntam o que é que tanto me agrada neste lugar, o que me atrai a ele, porque é tão sem graça e sem sentido, por que eu iria querer estar ali? Bem, este é um dos motivos. Conseguir sair durante a noite e encontrar um lugar ótimo e ver as estrelas - vê-las brilhando e girando um tantinho e tudo mais.

Essa é uma das coisas que eu adoraria mostrar a ela. Sei bem que cada hemisfério tem suas constelações mais visíveis durante épocas diferentes do ano, mas é que gosto tanto disso… Gosto tanto das estrelas aparecendo à noite e deixar meus olhos se ajustarem.

Foi interessante porque eu estava dirigindo por essa estrada estadual que tem só uma casa de um lado e sei lá o quê do outro e pensando comigo “cadê? cadê o lugar bom, o lugar que vai me dar a melhor vista, de preferência sem árvores?”. Onde eu parei haviam algumas árvores, mas tudo bem, qual é a parte boa de se ver, sem nada pelo caminho?

Finalmente encontrei e aos poucos saí dos 110 km por hora a que eu estava, o cascalho batendo atrás de mim. Cheguei aos 10 km, 5, depois 0 e parei o carro. Desliguei os faróis e putz, a luz do painel ainda era tão forte, que porra! Ainda não consigo ver direito no escuro, então tive que abrir um pouco a porta e é claro que a luz de dentro ligou porque quem é que não vai querer enxergar o que está dentro do carro? Enfim.

Desliguei a bendita luz e tentei me acostumar com a escuridão. Saí do carro sem enxergar nada porque não faço isso há séculos; ir a uma região relativamente selvagem… Tá certo que ainda tem alguma civilização por perto porque a nordeste vejo a luz vermelha do que deve ser uma torre de telefonia ou alguma outra torre e uma fazenda ou sítio mais pra lá… Mas ainda é pra fora considerando que preciso conseguir voltar pra cidade.

Foi a primeira vez que fiz isso estando aqui e sem mais ninguém por perto; nas últimas ocasiões, quando morava de fato aqui, eu saía com outras pessoas, como os meus pais, porque a gente faz viagens tipo essa no meio da noite pra achar onde parar e olhar pr’as estrelas, e é tão legal.

Meus olhos ainda não estavam acostumados… Olho em volta e me dou conta de que realmente não consigo ver nada. Tinha bem poucos animais que teriam vontade de dizer oi pra esquisitice que apareceu ali do nada, mas não era uma probabilidade nula, então me ocorre tomar cuidado com a bicharada que pode querer chegar perto. Por isso fico rondando e olhando, já que não quero levar uma mordida.

Aos poucos minha visão se ajustou, é claro, com a ajuda da lua, adorável que é, mandando um pouco de luz pra que eu pudesse ver. Com isso eu consigo ver a estrada se estendendo a leste e a oeste. Olho pra cima e vejo as lindas estrelas e a linda lua, e era tão bom estar ali!

São miudezas assim que fazem diferença pra mim, por isso me peguei querendo um dia poder mostrar pelo menos isso pra ela. E que talvez ela possa me mostrar um pouquinho do lugar de onde ela vem. Assim eu posso ver um pouco da beleza que ela consegue encontrar. E me peguei chorando… Porque a amo tanto e adoraria que ela visse aquilo também. Ainda que de onde estava naquele momento devesse estar dormindo ou acordando pra ter um dia maravilhoso.

 

 26/04/2021

quarta-feira, 28 de abril de 2021

28 de abril de 2021

 Então, Letícia criança.

Os nossos sonhos nesses anos todos não vão mudar muito. Talvez eles, apesar de tudo, tenham ganhado um pouco mais de forma. Tu vai viver mais experiências do que imagina, ainda que na superfície isso não pareça verdade. E, apesar das dúvidas, da constante sensação de que não sabemos o que fazer, tu vai ao mesmo tempo ter cada vez mais certeza, até com um outro nome.

Tu vai perder gente, e vai perder a si mesma pelo caminho, mas é justamente isso que vai fazer com que tu te conheça cada vez melhor, porque é muito melhor estar de olhos abertos e nunca é tarde demais. Tu vai sentir mais medo do que nunca, e ainda assim vai tentar algo. De novo, de novo e de novo. Vão tentar te dizer o que é ser mulher, o que fazer da tua vida, que o que tu faz de mais bonito não vale a importância que tu dá. Tu vai te cobrar tanto, tanto, tanto… Tu vai aprender que não vale a energia.

Vai ter muita coisa que tu não vai saber, mas vai encontrar a quem pedir conselhos. Vai querer cada vez mais aquilo que tu sabe ser o teu desejo mais verdadeiro. Vai achar vez ou outra que o teu tempo tá se esgotando, até aprender que tudo tem sua hora contanto que se vá atrás. E, principalmente, que o tempo tá na tua mão até o teu último suspiro - assim como que tu mesma vai determinar o que fazer desse tempo.

Vai ser quando tu mais se sentir fracassada que tu vai te lembrar de se agarrar ao que tu conquistou sozinha, que não te foi dado de bandeja. Vai aprender a valorizar cada passo, cada pessoa nova, mesmo com a ansiedade. A recorrer às pessoas certas. A se respeitar, a se amar e se valorizar, uma e outra vez… Depois de entender que no fundo se odeia. E vai aprender o custo das coisas. Da perda, da disciplina e do amor.

Vai escrever livros no impulso mais acertado da tua vida. Vai fazer amizades novas que vão transformar tua poesia e tua visão das coisas. Gente que vai te fazer acreditar mais. Que vai te abrir de dentro para fora e te fazer contar a mesma história de um jeito muito mais bonito e maduro. Gente que vai te abrir caminhos. Gente que vai querer te oferecer o que tu mais dedica aos outros.

Gente que vai te fazer perceber que os nossos sonhos no fim das contas nem são tão grandes, mas grandes pra nós. Que não são nada menos do que o que todo mundo merece, e é isso que importa. Que, assim como fazemos muito de tão pouco, nem precisamos de tanto assim… Contanto que seja nosso; um presente, uma oportunidade. Ainda que demore, não é impossível a menos que tu diga que seja.

 - exercício de escrita proposto pela Maria Vitória do blog A Estranhamente

terça-feira, 27 de abril de 2021

Paramour

 Even if I don't dare say it out loud
because I don't want to say it in vain,
something to later regret
or be sure of only god knows when.

Even if it becomes a mistake
that in your face I may never make
or a glory I may only take
when I am with you, if I do so.

Even if it brings us our doom
leaving me with nowhere else to go,
here's what I whispered to the bedroom,
here's what I've said in my heart.

I love you, I have said.
Yes, that's what I did
since you tore me apart
despite all my fears.

With all those foolish tears
and even not knowing of tomorrow...
The other golden morning and right now,
with my broken love, I love you.

26/04/2021

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Em camadas

 No vagar do beijo
moram
e se alternam
os tipos do desejo

pelo perto em forma infinita
também de luxúria
ausente
sem deixar de ser consciente

da própria penúria
que na tua boca é a mais bonita.

24/04/2021

domingo, 25 de abril de 2021

Da proximidade

Dou-te o passe
para prostrar-te sobre o meu rosto
como se apenas hoje te respirasse
e do teu hálito tirasse meu gozo.

Como se jamais adivinhasse,
mesmo no escuro,
tuas reais cores,
e por elas não soubesse
do prêmio aos nobres perdedores -
no chão mais sujo pisa o pé mais puro.

Como se eu louvasse,
em toda a sua altivez,
diretamente do lugar em que nasce,
uma lágrima tua, pela primeira vez.

23/04/2021

sábado, 24 de abril de 2021

Tábua de salvação

 Que grande pena
não ter cama
para quando começa o drama
e cada inútil cena.

E nela fugir da coisa pequena
ainda que apenas para lembrar da chama,
de onde, da boca mais justa e insana,
se faz o mais belo poema.

23/04/2021

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Loba crisálida

 Um dia
ainda hei-me de ver
pelos teus olhos.

Não como criança arredia
e sim para reaprender
a ser a mais real cria dos sonhos.

Não pela vida triste e fria
de de tal milagre depender
e sim, para ser o corpo de todos os versos.

Não por nome... Nunca por glória.
Não se tal vitória não me trouxer
o tudo que foi meramente (des)coberto pelos teus lábios.

23/04/2021

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Sincronia

 Tu te lavas
das brancas manchas
da tua fome
como se fosse coisa que fácil some.

Como se essa mesma água
fosse capaz de apagar
cada confissão crua
que se asseia
multiplicada em grão de areia
que vive longe do mar.

Que escorre, se desfaz
refeita de coisa sussurrada, serena
na paz
que serve de selo,
ainda que pequena,
por cada linha, curva, sangue e pelo.

22/04/2021

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Decisões

 Essa coragem de quem se embrenha
consciente da solidão do mato
é fato
que se encaixa 
como uma luva
quando se repete em retrato
e senha
por toda a altura fulva
de escura alvura
da planta baixa
da minha vulva...

Pois que venha
o ato.

19/04/2021

sábado, 17 de abril de 2021

Premonição

 Eu troco a vergonha
por cada linha
traçada pela vida
no meu seio
hoje esbranquiçada
e seu mal
por orgulho de rainha
em carregá-las como sinal
de tempo que veio
e que de amor só o fez mais cheio.

17/04/2021

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Autobiography

 Am I crazy?
Am I doing too much
for writing cheap poetry
since the tender eleven
and using touch
from sweet sixteen
to see a beauty
and to find a body?

Am I no less silly
yet no less of a judge
when I say I don't need pity
while every now and again
my own voice says I'm forever guilty
for things I dare believing in?
Am I too greedy?

Am I noisy,
dramatic and such
for making of anger an elegy
before I even get to count to ten,
caring nothing for the makeup smudge,
only the scratches of the pen
and how far the fingers can reach
to tell a good, broken story?

12/04/2021

domingo, 11 de abril de 2021

Aproppriation

 I can do so much
way better from the bed -
the reading of rhymes,
the rebuking of my own lies,
and I order layers to be shed
to take this flesh as such.

08/04/2021

sábado, 10 de abril de 2021

Meus pecados como escritora

 Ainda que eu deteste a definição de pecado, usá-la-ei pelo bem do texto. Sendo assim, que atire o primeiro lápis mordido quem esteja limpo como escritor de algum destes.

- a GULA de morder ponta de lápis e ponta de caneta; a GULA de querer escrever todo tipo de coisa de uma vez só.

- a LUXÚRIA pela vida aparentemente perfeita e rara de quem vive apenas da palavra literária, sem viver da escrita por outros meios.

- a INVEJA do estilo de escrita lindíssimo da pessoa do lado e/ou por ter chegado antes na posição que se quer alcançar.

- a PREGUIÇA de fazer aquele post pra alimentar o blog ou rede social; a PREGUIÇA de trabalhar naquela história nem que seja pra desenvolver o personagem; a PREGUIÇA de desenvolver aquela ideia e/ou de escrever no diário para não perder o hábito.

- a IRA pelas coisas não estarem saindo como se quer, sendo que a culpada é o pecado descrito logo acima e a falta de paciência.

- a SOBERBA de se achar com uma escrita tão boa que fazer cursos, nem que seja os de escrita criativa, são perda de tempo de alguma forma.

- a AVAREZA de não dar crédito a si mesmo pela evolução; a AVAREZA de não querer gastar com cursos ou não aproveitá-los, mesmo os gratuitos.

Já cometeu algum desses? Pode se confessar comigo.


09/04/2021

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Servidão

 Quem sou eu para parar
o universo que se alinha
ou para jogar no ar
coisa desejada que quer ser minha?

Quem sou eu para pedir
que cada verão seja eterno
ou para simplesmente te impedir
de plantar tua flor no meu terreno?

Quem sou eu para crer na mentira
que eu mesma sei contar tão bem
quando ela dói no fim em dois

cortando o que eleva e respira
e fingindo que se pode viver bem
deixando a beleza para depois?

08/04/2021

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Waterfalls

 Until the very end
of every summer
it is easier to remember
or even to pretend.

Pretend that I have a body
where I could always belong -
that never once faked it was strong
to try to spare me.

Much less spare me the pain
of being a wild, warm forest
constantly put to the test

of the bold, wandering kiss
from a storm of steady rain
never afraid of my abyss.

08/04/2021

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Efeito borboleta

Outro dia mesmo, disse que eu era linda. Mas o mundo tem coisas ainda mais lindas, ainda que eu não ouse desmentir o que aqueles olhos veem.
Linda é a mão que conhece a minha coxa e que escreve do meu corpo como se pudesse enxergá-lo no escuro desde sempre. Lindo é o que aquela boca aberta faz.
Lindas são aquelas curvas contra as minhas, cheias de ânsias. Lindos são os sons que saem de nós... Os quereres nomeados em substantivos curtos e verbos rápidos, mas que ficam.
Linda é aquela cabeça inclinada sobre o meu pescoço. Lindo é o instante da paráfrase dos dedos que me despem e da pele que me veste, tão cheia de si.
Linda é a passagem que se abre com a carícia e acelera a respiração. Lindo é o olho que acha que o prazer me embeleza e que enxerga o meu prazer como nosso.
Linda é aquela voz, aquela carência por mim. Lindo é o jeito inquieto, mas livre, como o calor, e cada gesto que deixam.

02/04/2021

terça-feira, 6 de abril de 2021

Motivos

Me diz, minha flor. 

Por que foi que eu fiz aquilo? Por que foi que eu atravessei céus inteiros e fui parar na beira duma água que nunca vi? Por que foi que eu abanei a cabeça e sentei perto dum fogo que tuas mãos fizeram e deixaram aceso, vendo o pôr-do-sol, a lua e cada pontinho que se atreve a brilhar no escuro?

Por que foi que me embrenhei no mato ao teu lado só pra voltar pro silêncio da falta de televisão e finalmente ler, num sofá alugado, o calhamaço com letra pequena emprestado da minha mãe que há anos não termino? Por que é que as canções começaram a fazer sentido de novo?

Por que foi que te convidei dia após dia para passar as horas nos meus braços; o máximo possível da vida vivida e resolvida no calor da cama? Por que diabos fizemos amor como se cada vez fosse a última, e minha pele quis que tu dormisses contra ela e tu fizeste das minhas tolices fantasiosas as tuas?

Tomara que não tenha sido só porque não te incluis entre aqueles que se atrevem a pensar que são meus donos, dando pitacos sobre a minha vida e o meu corpo. Ou só pela atenção e pelo prazer. Tomara que seja por paixão… Por amor.

Diz pra mim que foi por amor. 


04/04/2021

domingo, 4 de abril de 2021

It's the little things

 Come and tell me your stories,
take and point me the stars.
Under the trees, show me both butterflies
and pour me the best wine of the bars.

It can be coffee, if you prefer -
what won't we do for a rhyme?
My promise remains to never say never
and to take what you want to be mine.

01/04/2021

sábado, 3 de abril de 2021

Flor de calçada

 O que já me tornei me assusta porque não sei se serve de alguma coisa e é por isso que sinto enjoo. Enjoo pra mim é dor de estômago, fígado bichado ou excesso de dor. Quem dera que fosse dor de amor.

O que foi que me tornei mesmo? Será que ainda estou fugindo? Será mesmo que adianta querer o que quero? Será que tem sentido saber da verdade? 

Eu quero ir embora daqui. Pelo menos desta casa e desta vida. Ou talvez a resposta nem esteja aqui onde nasci, mas para onde eu iria? Que outro lugar nessas calçadas vazias e esquecidas por deus pode abrigar o que se faz de grande, mas no fundo é pequeno?

Será que adianta não querer repetir padrões quando eles ainda me prendem aqui? Acho que na verdade é de mim que sinto asco. De mim e do meu dom para obedecer. De mim e da minha preguiça. De mim e da minha indecisão que parece que nunca acaba, mas que sempre acaba em tinta.


30/03/2021

- exercício de escrita proposto pela Maria Vitória do blog A Estranhamente

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Comédia da vida escancarada

 As batatas que assei ficaram duras e quase quebraram de novo o dente que quase arranquei na semana passada. Eu nunca tomo jeito mesmo, parece que nunca aprendo. Perco o tempo do forno, mordo do lado errado. Logo eu, que amo batata. Mais fácil ficar desdentada e fazer purê.

O Lucca veio aqui em casa hoje e me pediu dois adesivos. Custou muito pra eu lembrar que ainda tinha aquele caderno velho da faculdade que lá pela metade tem o diário da minha descoberta da depressão. Ele não especificou o tipo de adesivo então vai de praia mesmo.

Agora há pouco choveu granizo e quebrou uma das janelas da vizinha que, tentando fechar o basculante, cortou a mão. Tomou remédio e quando liguei pra ela, falou toda grogue que tinha certeza que o Michael Jackson ainda era vivo. Também me perguntou se a dor era real. Boa pergunta, D. Damiana. Com remédio não se discute.

Foi um dia insano. Vou tomar um banho e ler o livro da Ana Cláudia pra ver se rio um pouco da desgraça alheia. Coisa boa ver uns palavrão de vez em quando. Gente caretona, viu? Ninguém diz o que pensa.


30/03/2021

- exercício de escrita proposto pela Maria Vitória do blog A Estranhamente

quinta-feira, 1 de abril de 2021

New old lovers

I need not leave a mark
(be it a bruise or a burn)
on what insists to return
and to belong
to me.

We needn't be like the couples in the park
taking god knows how long
to shape
the letters of a love
upon a tree.

Not if we don't intend to escape
from every promise we have made
and the proof sits on your knee.

30/03/2021

quarta-feira, 31 de março de 2021

Sincericídio

 Respiração acelerada, passos apressados. A bolsa escorregando pelo ombro, por pouco não derruba tudo. Sempre foi um desastre, esquecendo o zíper aberto e a aba levantada, largada de qualquer jeito nas cadeiras. Hoje não. E mesmo assim…

Estação lotada, um frio do cão, gente se esbarrando mesmo sem querer. Esperava que não tentassem puxar a alça da bolsa porque não queria ter que usá-la para bater em alguém. Ainda que pesasse, aquele peso estava ali para tudo menos manter posição de defesa.

Não queria pensar no que carregava como um fardo, por mais que às vezes parecesse tão fácil de se quebrar. Não importa o que dissessem, aquilo estava sempre pronto para ser usado, para ser compartilhado, sem medo, no seu tempo, apesar dos riscos.

Sentou no banco da estação assim que encontrou um espaço, com a bolsa no colo e as mãos sentindo o calor que vinha dali através do tecido. Olhou para frente e achou ter visto um vulto do outro lado dos trilhos. Percebeu que a hora estava chegando e sorriu para consigo. Abriu o zíper da bolsa e enfiou o punho dentro dela num gesto tão delicado quanto decidido enquanto caminhava em direção ao trilho.

Contou até dez sem desviar os olhos e lentamente foi retirando a mão cheia, mas firme, apesar da pegada estranha, de dentro da bolsa… E ouviu o grito chocado de quem notou o que pulsava frenético entre os dedos, quase como se quisesse saltar e ir embora por vontade própria. E quem disse que não queria?

Alguns desmaiaram, outros fugiram, outros ameaçaram chamar a polícia. Mas tudo o que fez foi abanar a cabeça e afirmar com serenidade que aquele bem era seu e que podia fazer com ele o que quisesse. Que nada no ato era novidade; a única diferença era a frieza do lugar, o idioma diferente. Alguns dos que ouviram as palavras se perguntavam o que aconteceria e pararam para observar.

Mais por medo da própria pontaria do que do ato em si, aproximou-se com cuidado da beirada, mas não o bastante para pensarem que estava bancando Anna Kariênina. Apreciou por mais um momento o peso do que estava em sua palma e se pegou numa espécie de transe que só foi quebrado por ter visto o vulto outra vez.

Lutou contra o espasmo do próprio punho, agachou-se e rolou o que segurava pelos trilhos com os olhos apertados… Bem na hora em que o trem passou e parou, fazendo seus muitos barulhos que induziam aos susto e ao corpo encolhido. Podia ter dado tudo errado. 

Depois da eternidade que encheu os vagões e que o levou embora, quem ficou achou tudo aquilo loucura maior ainda depois que ouviu uma risada histérica misturada com choro de um lado, e um som parecido com ronronar do outro, vindo de quem agarrava o que foi jogado com as duas mãos - como um gato faz com novelos de lã. Empoeirado pelo caminho percorrido, mas intacto e que arrancou um suspiro de alívio.

“É teu agora, bichano. Fica com ele. Mas não é brinquedo, tá?”

“Eu sei, amor. Valeu esperar pra juntar esse coração com o meu.”


30/03/2021

- exercício de escrita proposto pela Maria Vitória do blog A Estranhamente

terça-feira, 30 de março de 2021

O basta há muito já veio

 Não importa o que chegasse perto da casa. Não importava quem saísse. Ele fazia barulho, ele gritava, esperneava, atormentava, sem ter noção da própria voz ou da própria força. Ele se assustava com o que nem tinha a ver com ele e pobre de quem ouvia. Dava vontade de mandá-lo embora. Dava vontade de questionar por que ele veio pra cá.

Ele era grosseiro. Se estourava fácil, dizia coisas sem sentido, achava que podia dizer o que passasse pela cabeça. Não me conhecia de verdade e eu estava há muito já cansada de tentar. Só queria que ele parasse, que não falasse comigo, que parasse de achar que o que é só meu também é dele pra dar pitaco. Que ele parasse de achar que manda.

Não tem tato. Não tem noção das consequências do que diz, que mesmo as pequenas coisas ficam e machucam. Acho que foi assim que aprendi a ser cruel. No fundo quer ajudar, mas a verdade é que só atrapalha, porque quer tomar meu lugar fazendo tudo e tudo do próprio jeito. Não sabe ensinar, não sabe dar espaço, não sabe quando parar de se envolver. Dane-se quem esteja ouvindo - despeja ordens e põe a mão no que não é seu. E quem não faz é mal-agradecido e burro.

Só o que eu quero é que pare. Só o que eu quero é ir embora.

29/03/2021

- exercício de escrita proposto pela Maria Vitória do blog A Estranhamente

segunda-feira, 29 de março de 2021

Vida de segunda

 Mais uma segunda. Na segunda eu tento ter disciplina. Na segunda eu tento ser adulta, ainda que digam que eu ajo como uma criança, nem que seja só um pouquinho. 

Nem que seja pra gastar os dedos mandando emails que provavelmente não serão respondidos. Nem que seja só pra receber um não. Nem que seja pra tentar construir um futuro onde, olhando lá pra fora, parece não haver nenhum.

Gastando os dedos com variações das mesmas palavras, quando eles poderiam estar fazendo carinho no inesperado que veio pra mim. No que quer o que quer mesmo de longe, mesmo com a loucura, mesmo com o medo, mesmo com o contexto insano.

Na segunda eu levanto e tento de novo. Quero pelo menos um fim de semana. Dois dias e meio pra lembrar das histórias largadas, das profundidades necessárias, de que existe mais nesse mundo, do formato da lua e das estrelas do céu, nem que seja pela voz do inesperado.


29/03/2021

- exercício de escrita criativa proposto pela Maria Vitória do blog A Estranhamente

sábado, 27 de março de 2021

Projections

don't tighten your grip
on me,
please no,
for my soul is to be free.

but also, 
don't quite let me go...

for time might be generous
to trust us 
and might allow me to be
more than this.

more than the shadow of a kiss
to bruise your lip.

27/03/2021

quarta-feira, 24 de março de 2021

Faun's labyrinth

 Your presence
is in the air
in the constance
in which it makes me aware
of every rightness
and dissonance.

In every image
you planted and won't take back
from the darkness -
the palm on my hip
playing with the fingertip,
the mouth on my neck
down the warmth of the cleavage.

You are present
and yet absent
in the mark behind the ear
waiting god knows how many a year
to be maybe more than a ghost.

I don't blame the hunger now
when there was nothing then.
After all, I don't even know
if things are ever gonna get even.

In the meantime, I appreciate the host.

24/03/2021

segunda-feira, 22 de março de 2021

A pelican's wound

 Poor, poor lad!
By making an art
of all the ways I could break your heart
I cast you the hardest stone,
the one that makes you most sad -
I break my own.

22/03/2021

sábado, 20 de março de 2021

Of the sublime

Your voice to me
is more than sound -
it is a sea,
it is among the things, the forces that abound
in how they rise and rise
and come,
so wise
only to forevermore,
however briefly,
touch the shore.

Only to go back
in their track,
in and out, on and on,
a wall that knows
the ways it grows
from the bottom, paramount,
Topkapi outside of Istambul,
only to suddenly be undone
into a touch so humble
as you speak...

Never detrimentally weak.
Instead, just conducted by a hand so warm
that can cause and stop the same storm.
One of which I wonder if I would feel afraid
but through which
I take the pleasure in being a wee fish
just here, to navigate.

19/03/2021

sexta-feira, 19 de março de 2021

Homecoming

 I wish I could talk
with way more pride
of the language, name and land
I was given.

With the same one with which I write
these lines
under this taken pen
that reaches far and wide
so that even my folk
who dream that I would walk
do not understand.

I wish I didn't let down
my own past,
this wretched, forgotten town,
on its, like mine, old, disjointed bones
that insist to last
at the corner
of the border
only to watch its own doom.

I wish I knew it as well
as the worst parts of myself -
to hear its voice like the bell
at five o'clock.

I guess I can still wish
for high river with fish
and good enough health
from the boon
of a late, yet welcomed bloom
to our stock.

Or do I really?

18/03/2021

quinta-feira, 18 de março de 2021

Work anew

 I love you
not like you do...

Not yet.

I'm sorry
if it seems that I play hard to get
when loving for me
is a thing so easy...

But who knows,
time is a river that flows
exactly the way it wants!

If you work hard enough
to woo
a buttery skin that tries to be tough
when you least expect...

You may achieve the goal you pursue
watched by the sunset.

18/03/2021

segunda-feira, 8 de março de 2021

08/03/2021

 Mesmo quando ofereço
sem esperar por algo em troca,
sei que ofereço
aquilo que gostaria de ter.

- trecho do meu diário

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Deprimida e poeta

 Escrevo desde que consigo me lembrar e desde antes de entender o que estava fazendo ou o que eu dizia. Era e é de certa forma automático colocar no papel o que me passasse pela cabeça sempre que houvesse a oportunidade… E isso em parte forjou quem eu sou hoje.

Isso não mudou quando desenvolvi ansiedade e depressão. Muito pelo contrário, só se intensificou. Foi quando questionei absolutamente tudo e enfrentei uma das piores épocas da minha vida que eu me agarrei a tudo o que me restava e hoje percebo ser o que tenho de mais valioso.

Por me sentir sozinha, eu escrevia. Por me sentir um fardo e um fracasso, eu escrevia. Ainda que estivesse exausta, eu escrevia. Mesmo tendo largado tudo e estivesse estudando para um vestibular que não fiz, eu escrevia. Preferia escrever a fazer qualquer outra coisa, na verdade.

Escrevia para me ocupar. Escrevia porque não sabia que tinha tanto a dizer. Escrevia para entender o que acontecia comigo. Vi minha poesia mudar, ficar curta, grossa, perder o enfeite, ficar calculada e ao mesmo tempo sem rumo. Aprendi sobre ser brutalmente honesta. E é por isso que ainda estou aqui.


23/02/2021

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Feito para (a)mar

Toda mulher é mar
livre e sem farsa
que no seu ir e voltar
em onda nua
filha da lua
no fim sempre abraça
em gozo e graça
o respeito
ao seu leito
que não há de lhe afogar.

14/02/2021

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Fontes de inspiração

 Uma amiga que tive o gosto de fazer há alguns anos e que influenciou muitos dos riscos que passei a tomar como poeta costuma dizer que a inspiração está dentro do poeta… E concordo com ela. Acredito que isso vale para independentemente da forma de expressão.

As coisas acontecem de acordo com intenção, método, tipo de conteúdo que se consome e, principalmente, do olhar que se tem sobre o mundo. Afinal de contas, a obra final vem de nós, não importa o quanto nos distanciemos dela a nível pessoal.

Acredito que a minha obra seja fruto da minha vontade de deixar algo para trás. E, dentro disso, das minhas memórias, experiências, contato com outras pessoas, o observar daquelas que estão à minha volta e escolhas literárias, musicais e no cinema, que se expandem gradualmente e deixam seu rastro.

Quanto mais velha fico, mais conscientemente busco conteúdo que vá além da superfície, que me faça pensar e que tenha honestidade por trás. Que tenha uma história para contar e que me induza a refletir sobre a minha a partir do entendimento da perspectiva do outro.

Talvez a verdade seja que, como costureira de palavras e amante dos detalhes, eu busque as histórias por trás de tudo. A beleza por trás da feiura e a verdade debaixo da  bravata. O que é e poderia ter sido a partir da possibilidade de mudança onde ela se faz presente.


12/02/2021

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Próxima aventura: empreendedora

 Então, gente... Sou MEI agora!

Faz um tempo que estou para contar que na finaleira do ano passado abri meu CNPJ como redatora, desde que a fantástica Maria Vitória me mostrou que era possível viver de escrita e se tornou alguém que quero ser quando crescer.

Apesar de todas as minhas inseguranças, é melhor fazer trabalho de formiguinha do que esperar que as coisas caiam do céu. É por isso que venho compartilhando minha história por aqui e dando um passo de cada vez.

A verdade é que eu fugi do meu destino por tempo demais, e esse destino é escrever. Quem liga que não seja por literatura? Lidar com palavras é o que sei fazer de melhor, ainda mais quando se trata das que vem de mim. Se elas podem ajudar alguém e me dar sustento, é o que pretendo fazer.

Independentemente do que ainda me falta, eu não vou esperar estar “pronta” para abraçar as oportunidades... Ganhar experiência e habilidades e criar hábitos ao longo do caminho parece ser a coisa certa para alguém como eu, do contrário a hora da verdade nunca chega.

Então acho que esse texto sou eu “botando minha cara no sol”, como a Maria costuma dizer. Dizendo quem eu sou e a essência do que posso fazer. No próximo a gente vê quanto ser eu há de custar... Por ora, me desejem sabedoria.


08/02/2021

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Minha querida impostora

 Não sei se posso dizer que sou impostora quando se trata de literatura. Talvez o mais correto seja dizer que sempre considerei que existe muita gente por aí que escreve com um estilo muito mais bonito do que eu, o que não quer dizer que o meu não seja, de acordo com suas limitações.

Gosto de pensar que estou sendo humilde e reconhecendo a beleza no trabalho do outro, que pode vir a influenciar o meu e contribuindo para que melhore cada vez mais. O escrever desde que consigo me lembrar me faz enxergar tanto a qualidade no momento do que faço e também naquilo que consumo.

Tenho quase certeza que o confiar nas minhas habilidades e capacidade de aprender com teoria e prática são o que faz a minha escrita o que ela foi, é e será. Assim como a reconhecer e respeitar o processo de criação em geral e dentro de cada gênero. Eu sei o custo de escrever um poema, um conto e um romance.

Também sei o que cada trabalho nos ensina sobre os pontos fracos na execução de cada gênero. Eu escrevo prosa poética e versos melhor que escrevo histórias. Mas nada disso me impede de tentar um pouco de cada, nem ambicionar redação para a web. Então a minha impostora está não na falta de confiança, mas de autoestima.

Eu não sou impostora naquilo que sei que sou boa e no que sei que pode ser ainda melhor. Cada vez mais tenho consciência das minhas habilidades e que é loucura da minha parte não encontrar um jeito de usá-las para meu proveito e dos outros. Se eu não fosse inteligente e pelo menos um pouco louca, não estaria aqui agora.

Eu sou impostora por causa daquilo que não me foi ensinado. Sou impostora porque fui armada para ambicionar ter o mundo nas mãos, mas não para saber o que fazer com isso. Sou impostora porque quero pensar fora da caixa, fazer o que os que vieram antes de mim não fizeram, agarrar as chances… Mas tenho medo.

Por mais que eu deseje que as possibilidades do meu intelecto me façam transcender os limites do corpo e da geografia, eu carrego um medo que talvez nem seja meu. Medo disfarçado de cautela, mas que sei que é medo. E ele me faz questionar até o que no fundo sempre foi verdade. Mas é tudo barulho, eu sei agora.

Medo que me faz ter que correr atrás de tanta coisa completamente sozinha, nem que seja para tentar. Porque sem tentar, nada acontece, não se chega em lugar nenhum, nem mesmo no errado. Medo que me faz duvidar que conseguirei crescer, ter disciplina, dar conta do tempo que passa e viver. Mas os mentores estão aí para isso...

02/02/2021

 

02/02/2021

Rocha

Deixo a luz do sol bater um pouco a cada vez sobre as várias faces e ranhuras lapidadas por tempo e destino para que ilumine e penetre a gra...