quinta-feira, 29 de abril de 2021

Amor a muitas vistas

Sexta à noite me liberaram do trabalho por volta das dez horas ou dez e meia, algo assim. Imediatamente troquei de roupa e resolvi me meter dentro do carro. Liguei o foda-se mesmo, porque me dei conta de que precisava sair - precisava de um tempo longe da cidade para olhar pr’as estrelas, olhar pro que há para ver e só… Aproveitar o estar ao ar livre. Eu tenho dessas coisas. Sou do tipo que sai fazendo trilha na floresta e tal, sou esse tipo de pessoa.

Estava friozinho então pus um blusão e fiquei batendo perna pra me aquecer e vencer o vento que soprava se fazendo ouvir muito bem já fazia algum tempo. Tentei ir o mais longe possível pra ter a melhor vista, a pouco mais de uma hora de distância da zona urbana, e la luna me agraciou com sua presença em faceta minguante. Mesmo o que eu via apenas por conta do brilho da lua já era fantástico. Era tão bonito lá fora, magnífico de verdade.

Eu olhava para cima e pensava no tanto de tempo desde que estive pra fora e fui capaz de ver as estrelas brilharem daquele jeito. No outro lugar onde trabalhei até dava certo, mas havia muita área urbana por perto, com poluição visual, o que dificultava o sair e enxergar.

Algo que realmente gosto estando aqui e eu nem imaginava é que as pessoas sempre me perguntam o que é que tanto me agrada neste lugar, o que me atrai a ele, porque é tão sem graça e sem sentido, por que eu iria querer estar ali? Bem, este é um dos motivos. Conseguir sair durante a noite e encontrar um lugar ótimo e ver as estrelas - vê-las brilhando e girando um tantinho e tudo mais.

Essa é uma das coisas que eu adoraria mostrar a ela. Sei bem que cada hemisfério tem suas constelações mais visíveis durante épocas diferentes do ano, mas é que gosto tanto disso… Gosto tanto das estrelas aparecendo à noite e deixar meus olhos se ajustarem.

Foi interessante porque eu estava dirigindo por essa estrada estadual que tem só uma casa de um lado e sei lá o quê do outro e pensando comigo “cadê? cadê o lugar bom, o lugar que vai me dar a melhor vista, de preferência sem árvores?”. Onde eu parei haviam algumas árvores, mas tudo bem, qual é a parte boa de se ver, sem nada pelo caminho?

Finalmente encontrei e aos poucos saí dos 110 km por hora a que eu estava, o cascalho batendo atrás de mim. Cheguei aos 10 km, 5, depois 0 e parei o carro. Desliguei os faróis e putz, a luz do painel ainda era tão forte, que porra! Ainda não consigo ver direito no escuro, então tive que abrir um pouco a porta e é claro que a luz de dentro ligou porque quem é que não vai querer enxergar o que está dentro do carro? Enfim.

Desliguei a bendita luz e tentei me acostumar com a escuridão. Saí do carro sem enxergar nada porque não faço isso há séculos; ir a uma região relativamente selvagem… Tá certo que ainda tem alguma civilização por perto porque a nordeste vejo a luz vermelha do que deve ser uma torre de telefonia ou alguma outra torre e uma fazenda ou sítio mais pra lá… Mas ainda é pra fora considerando que preciso conseguir voltar pra cidade.

Foi a primeira vez que fiz isso estando aqui e sem mais ninguém por perto; nas últimas ocasiões, quando morava de fato aqui, eu saía com outras pessoas, como os meus pais, porque a gente faz viagens tipo essa no meio da noite pra achar onde parar e olhar pr’as estrelas, e é tão legal.

Meus olhos ainda não estavam acostumados… Olho em volta e me dou conta de que realmente não consigo ver nada. Tinha bem poucos animais que teriam vontade de dizer oi pra esquisitice que apareceu ali do nada, mas não era uma probabilidade nula, então me ocorre tomar cuidado com a bicharada que pode querer chegar perto. Por isso fico rondando e olhando, já que não quero levar uma mordida.

Aos poucos minha visão se ajustou, é claro, com a ajuda da lua, adorável que é, mandando um pouco de luz pra que eu pudesse ver. Com isso eu consigo ver a estrada se estendendo a leste e a oeste. Olho pra cima e vejo as lindas estrelas e a linda lua, e era tão bom estar ali!

São miudezas assim que fazem diferença pra mim, por isso me peguei querendo um dia poder mostrar pelo menos isso pra ela. E que talvez ela possa me mostrar um pouquinho do lugar de onde ela vem. Assim eu posso ver um pouco da beleza que ela consegue encontrar. E me peguei chorando… Porque a amo tanto e adoraria que ela visse aquilo também. Ainda que de onde estava naquele momento devesse estar dormindo ou acordando pra ter um dia maravilhoso.

 

 26/04/2021

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pelo feedback!

Rocha

Deixo a luz do sol bater um pouco a cada vez sobre as várias faces e ranhuras lapidadas por tempo e destino para que ilumine e penetre a gra...