sexta-feira, 31 de maio de 2019

Cracking codes

Is this what you are saying
to me?
Do I have to be sort of high on meds
after sleepless nights
soaking the sheets in bed -
with the hands shaking,
the guts almost turning,
to be able to see
this on clear lights?

To know that in the yesterday I read
while pretty okay
but confused
the real words of the day
at one place squeezed,
not as powder spread?

30/05/2019

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Amor de leoa

Eu sou apenas uma gatinha assustada implorando por atenção. Eu vou te trazer minha caça como presente aos teus pés - para te agradar e que afagues minha cabeça dizendo o quão boa eu sou por isso.

Eu devolverei tua proteção com carinho e lealdade, amor ronronado e intenso, então não se assuste... Rainhas se dedicam a bons reis e a outras que se carregam com dignidade.

Eu o cortejarei com todo o meu baralho na mesa; tudo o que eu seria capaz de te oferecer, basta que queiras. E, apesar de tudo o que me falta e das minhas falhas centradas, tu estás em meu pensamento mais vezes do que imaginas porque não consigo ser de outro jeito.

Ainda que às vezes eu esqueça disso, tentarei lembrar-te que és tesouro - seja em tinta ou no afago mais privado. Quando parecer que não me importo mais com nada, olha-me bem e de novo eu conseguirei verbalizar meu pagamento pela generosidade.

Não me deixe machucar-te... Pois, com o tempo e o conforto, a mesma pata macia que te acaricia coloca as unhas para fora e te arranha... E a mesma boca que te mima e despeja amor é a que pode dizer as coisas mais crueis, ainda que não tenha a intenção. Talvez eu deva aprender com o perdão e com tudo o que não sei expressar.

E, ainda que me doa, sinta-se livre para ir embora. A liberdade de espírito e corpo é o que mais me falta e, sendo assim, o que mais desejo a qualquer um. Mas não brinque comigo, pois gosto de justiça num mundo em que isso parece fazer falta. Não quero que meu fogo te queime, mas que seja um conforto enquanto eu aprendo a me amar te amando - não porque me preenches, mas porque me fascinas.

10/05/2019

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Convite

Quem por acaso eu seria
se não nos desse a alegria
de um dia
simplesmente me deixar
encontrar
e a gentileza me levar
a descansar
no verde brilhante desta poesia?

29/05/2019

terça-feira, 28 de maio de 2019

Nós, Emilias

Feitio de chama alerta
ansiando pela mão certa
que conheça o sorriso da contemplação
da falta e fulgor do ser
e saiba se aquecer
no que se recusa a não arder,
não se curva a outra intenção.

26/05/2019

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Singela

A maravilha
da flor que avistaste,
pegaste
pela haste,
de lado jogaste
e me deste
quando vieste
e me encontraste
te faz outra buganvília.

26/05/2019

domingo, 26 de maio de 2019

Última pousada

Tu és mais rei de ti
que eu dona de mim, até aqui.
A quem importa que não sejam deuses e, sim, cantores,
contanto que feches os olhos e ores;
que sobre mim caias no sono
em completo abandono?
Sei que nenhum mal me alcançará no fundo deste solo
feito do cheiro do teu colo...

26/05/2019

sábado, 25 de maio de 2019

Maneiras de trovador

Três ou quatro beijos de adeus
a uma dama,
daquela azul sombra
que vem até aqui e  mesmo agora me chama,
na mão eu hoje guardo
como rainhas aos luxos seus
e certos versos vêm da pena de um só bardo,
de quem meu coração sempre lembra.

25/05/2019

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Chastity belt

Try turning me into a machine,
a breeder for your plasure
and profit on display...
You wait for the beautiful day
when just for good measure
screams the most awaken beast you've ever seen...

24/05/2019

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Female end of discussion

The monters you create
of you
in your debate
of "with them, what to do?"
are the ones we kill
because we can
and we will,
we are not like certain men.

22/05/2019

quarta-feira, 22 de maio de 2019

De barbitúricos

Ah, minha Flor Bela,
sempre tão intensa!
Não há como escapar da tua crença,
de amar ou odiar tal fina entretela.

Ora a princesa vestida de saudade
vivendo sozinha o mais puro amor,
ora a louca que grita sua felicidade
para que todo o Mato saiba, se preciso for.

E eu, que chorei cada verso de mágoa
nos teus tantos trocados olhares
à cidade e à charneca sempre verde

sei bem aonde no fim deságua
toda rima que quase se perde
por só a desgraçados desejares!

09/05/2019

terça-feira, 21 de maio de 2019

Effects

One was a dog's sniff on the neck,
the hand on the throat now relaxed.
The other was a warm, kind embrace
which took me yet again, surprised.

One kissed its bold way over my back
with every hunger within its grace,
another invited me for a slow dance
made of free birds together in trance.

One strokes winter's wounds on my feet
in the long while they sting, then heal.
Another blows into my fire and its heat
as we two prepared the evening's meal...

One smiles as my dead skin begins to shed
and I am again as white as that very wall
where the other one taught me how to call
not one's deity's name, but his, instead.

And how could any soul ever dare to guess
that in the same way my fellow wild beast
eyed its way into this life and this room
rhymed rosy lips involved me, in the least,

only to rearrange the worst of an old mess
and not really fear the world's coming doom?
So no, I am not crazy enough to let him go;
prince and wolf are just the same, you know.

20/05/2019

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Recomeço

Deixa mover de baixo essas águas
entre as tuas palavras e pausas.

Dá-me todo sopro de respiração,
o vibrar das cordas do coração.

Mostra-me os tais grandes finais
que se repetem até por demais...

Deitemo-nos no pó deste deserto
que deixa nosso amor encoberto.

Diga-me de que estás apaixonado
como que num beijo sussurrado.

16/05/2019

domingo, 19 de maio de 2019

Em cheia

Sete noites em seguida
aos olhos do sol despida
como a mulher mais linda

só por um sorriso de menino
dono de todo desatino
e vontade de animal ferino

em que criança vira madame
e não há em céu, mar e terra quem reclame
da canção do seu enxame.

16/05/2019

sábado, 18 de maio de 2019

S/A

Caro A.,
Não via a hora de te escrever e contar sobre estar aqui, e também de saber notícias suas! Precisava dividir isso com alguém e tudo agora de alguma forma me remete a você. Você sabe que não estou aqui por vontade própria e sim por circunstâncias de que não exatamente gostaria. Tudo aconteceu tão rápido... Sei que isso é temporário, mas parece que vai durar para sempre. Posso até não considerar aquele lugar como minha casa e eu agora entendo que fazer o que fiz é o remédio quando não há alternativa, mas me parece errado estar assim em um lugar que de maneira nenhuma realmente te pertence.
É tudo muito estranho aqui, não só por não ser minha casa, e não consigo me sentir bem. É tão gótico e surreal. O silêncio faz com que eu me pergunte se os vizinhos e crianças são reais; mesmo que provavelmente estejam fora no trabalho ou na escola a maior parte do tempo. Logo eu que achava que por um lado seria bom e eu poderia trabalhar e pensar em paz no que fazer! Mas aqui ele é tão grande que qualquer som assusta. Olho pela janela da sala de estar e, durante o pôr-do-sol, as folhas da árvore grande que fica no gramado em frente brilham com uma sonhadora luz dourada...
De frente para esta casa fica uma área que chamam de bosque com pelo menos um banco de madeira podre e suja logo à vista, mas sei de mais um mais para dentro. Me disseram que não é muito pequeno, nem muito grande e sei que faz uma curva à esquerda, porém parece não ter fim durante a noite. Além de apenas algumas pessoas e durante o dia, nunca vi ninguém entrar lá. O bosque em especial me faz pensar em você, mas nada nisso a não ser seu nome me traz conforto – independentemente da miríade de coisas possivelmente tão maiores e mais velhas que nós que o povo diz que se esconde nos bosques que você mesmo me apresentou há um tempo.
Não sei dizer o que acontece, mas de quando em vez os cachorros de uma das casas ao lado uivam e choram todos juntos no que soa como o lamento mais triste durante minutos intermináveis. Até o que me comprometi em ajudar a cuidar parece dividir a tristeza em algumas ocasiões. Há casas aqui de todos os tipos e as grandes e antigas me fazem achar que foram construídas para que seus moradores nunca ou quase nunca tivessem que sair pela porta. Em anexo, na foto que te envio junto com esta missiva, está a lua cheia peculiarmente posicionada quase que exatamente entre o muro da casa onde estou e a de um vizinho. As folhas que espiam no canto são as da árvore brilhante.
A ruela em que esta casa está situada dentro do complexo é um beco sem saída, cujo paredão de tijolos se ergue duas casas e um campinho de futebol à direita de quem está aqui, com algumas das árvores do bosque quase lhe fazendo carinho. Mesmo nos fins de semana o movimento parece miragem; e olhe que por ora já vi a troca de duas estações enquanto estou aqui. Às vezes, quando olho para a tal área arborizada durante a noite (seja pela janela ou de fato parada do lado de fora), vejo um vazio negro e impenetrável ou uns poucos raios de lua entre as árvores bagunçadas...
Mais de uma pessoa, talvez pela falta de portões em frente ao gramado, já entrou nesta casa ou se aproximou dela sem se anunciar. Literalmente do nada. Até mesmo a dona original desta construção que parece tão mal-acabada, como se fosse uma assombração. Desde o momento em que pus os pés neste complexo e cruzei os olhos com um dos zeladores eu soube que seria bizarro ficar aqui; muito por causa de seus olhos muito grandes e de um sorriso que me parece bastante errado naquele rosto, bem como sua voz.
Eu nunca vivi assim, em território cercado de paredes a este nível. Parece um silencioso mundo separado em que me sinto ainda mais deslocada. É como se até o tempo passasse mais devagar aqui (e quase não sair também não ajuda). Sei que foi o único que pude encontrar, mas às vezes me questiono se foi a coisa certa a fazer. Você sabe o quanto sou ruim em tomar decisões e a capacidade de meus impulsos em me deixar ainda mais perdida... Só queria ficar longe, só um pouquinho... Felizmente o velho piano da proprietária ainda consegue me consolar. Foi até uma surpresa ver que uma casa estranha como esta pudesse ter um – mas, de qualquer forma, tudo aqui parece diferente.
Deve ser a solidão alimentando as minhas paranoias, mas esse lugar me parece cheio de negatividade (ou será eu sendo conduzida pela minha própria?) e que acho que a hora de eu voltar e encarar as coisas pode estar chegando. Não que algo literal e físico tenha acontecido comigo, mas alguns boatos que ouvi mesmo num contexto como este me fazem ousar imaginar o grau de nojeira a que o ser humano pode chegar. Juro que estou me cuidando o máximo que posso! Apenas não achava que seria tão desconfortável, talvez até mais do que o que me fez vir para cá. Não fui feita para estar onde estou. Você sabe aquilo que minha alma mais anseia e de todos os sentidos da frase anterior.
O loop a que estou presa estando aqui parece mais estreito e repetitivo do que nunca. Venha me buscar, meu amor. Por favor. Chega disto. Só você mesmo para olhar para mim com tanto carinho, com o coração tão aberto e vazio de julgamento; apenas desejando que eu faça o que tem de ser feito dentro das minhas possibilidades, como eu mesma te desejo e você bem sabe... Coragem e iniciativa são o que nos levarão adiante, mas tudo o que preciso agora é estar ao teu lado de novo; estar em casa. Apenas venha, o mais rápido que puder – o sabá terminou.
De quem muito te ama,
S.
P.S.: Não tenho como te agradecer o suficiente por ter me apoiado nesta empreitada louca – mas sei que tenho de voltar para a realidade e não sucumbir às minhas infelicidades/frustrações para que alguma coisa finalmente aconteça. Eu precisava tentar respirar outro ar, mas tudo o que sei é que o daqui não me fez bem. Pode ser que os meus pais nunca entendam o que fiz, mas não cabe a eles querer adivinhar o que se passa na minha ou na sua cabeça. Fico te devendo muito pelo resto da vida e pretendo te devolver em dobro, se for possível.

Olhos fechados em solidão. Silêncio, a carícia de mãos trêmulas e um tanto frias mesmo para uma tarde quente de outono. O produto da carícia em eco pelo aposento de distribuição engraçada, talvez atravessando a janela pela qual, pela primeira vez em algum tempo, não se pegou espiando. Apesar dos medos e ansiedades, nada mais do que o momento dentro do breve transe da Marcha Turca de Mozart. Tão centrada no agora, mesmo ali, como tantas vezes sente dificuldade em fazer, que não notou o que acontecia ao seu redor. De foco não na precisão do que estava fazendo, mas no simples fazer e do que ele era capaz.

S. não notou o sorriso de A. diante da quietude envolta pela música ao chegar ao aposento. Nem quando ele jogou a mochila que tinha nas mãos no sofá – sua cor de sangue um contraste peculiar com a costumeira neutralidade de suas roupas – e se aproximou suavemente do piano enquanto a peça aos poucos chegava ao fim. Querendo talvez dar um susto nela, A. escondeu uma das mãos às costas e com a outra gentilmente afagou o cabelo da moça.

- Fermata. – sussurrou ele exatamente quando a última tecla com a última nota foi pressionada e tal pressão ainda se fez sentir por alguns longos segundos. Pelo jeito o susto não acontecera, porque tudo o que S. fez foi abrir os olhos devagar e puxar a longa mão pousada sobre sua cabeça para que ficasse contra o rosto, como se aquilo fosse a coisa mais familiar e íntima do mundo. O que de fato era, em sua medida...

- Amado! – S. exclamou ao virar-se no banco do piano e atirar os braços ao pescoço do outro. Sendo muito alto e um tanto tímido, ele sorriu com afeto e dobrou o corpo para retribuir ao gesto, o rosto semi-escondido numa mistura do próprio cabelo e do dela.

- Desculpe chegar assim. Acho que meu aviso de que eu viria não te alcançou a tempo. Até cheguei a bater na porta, mas o piano provavelmente abafou o som. – A. levou a mão à cabeça, fez uma careta e instintivamente coçou entre as raízes do cocuruto. – Mozart, hein? Se eu não desejasse tanto fazer as coisas de ouvido e passasse mais tempo com as teclas, tocaria melhor...

- Melhor que seja você do que qualquer um. Muito obrigada mesmo por vir me buscar. E sim, era Mozart. – Exclamou S. ao jogar-se novamente no banquinho, enxugando uma lágrima que ameaçava cair do canto do olho. – Por favor, sente-se! Você deve estar cansado por causa do terreno acidentado. Há uma cadeira logo ali.

Tudo o que A. fez foi sussurrar “com prazer” antes de apanhar a cadeira e colocá-la de frente para a moça, respeitando quase um metro de espaço pessoal. Sentou-se com as pernas cruzadas e mãos nos bolsos da jaqueta; estudava a amiga ternamente, buscando seus olhos. Depois de algum tempo, ele viu S. morder o lábio, suspirar e deixar escapar um trêmulo “estou com medo”. A. assentiu com a cabeça e trouxe o tronco para frente no assento.

- Tudo bem ter medo. – murmurou o rapaz. – Você já esteve aí antes. Você sabe que medo é esse. Tente limpar sua mente e você vai saber como enfrentá-lo. – ele tomou a mão pequenina de S. numa das palmas compridas e cobriu-a com sua outra.

- Eu sei. – respondeu S., deixando a mão permanecer entre as dele. Depois de algum tempo em silêncio ela pousou os olhos nele e perguntou: - Gostaria de um chá? Tenho mel, se você quiser colocar um pouco. E umas torradas e biscoitos.

- Uma xícara quentinha entre as mãos... Eu te acompanho, muito obrigado. – ambos se levantaram para procurar entre os armários que rangiam; S. apanhou um xale depois de reclamar entre os dentes que a casa era muito fria.

Enquanto a infusão acontecia, A. apertou novamente a mão da moça.

- O que você acha de bebermos o chá no bosque? Pode ser ali no banco da frente... Queria conhecer o que te dá medo e por enquanto não está tão frio. O silêncio eu já senti: definitivamente não é como o do campo. A não ser que te deixe desconfortável.

S. pensou em abrir a boca quando os cachorros do vizinho iniciaram uma onda de uivo coletivo que dava a impressão de que estavam sendo torturados, ou que eram pessoas lamentando a perda de um ente querido. Gesticulou para que A. esperasse um pouco e foi buscar um pedaço de papel onde pudesse escrever uma resposta sem precisar gritar. Enquanto isso, ele sentou-se meio de lado ao piano, brevemente exercitou uma escala e fez um pouco de festa para o cachorro no fundo do pátio.
Respirou fundo com a caneta na mão, tentando ponderar se seus medos faziam mesmo sentido – se havia de fato, se não uma coisa, uma energia ali que a fazia estremecer. Concluiu que de qualquer forma precisaria encontrar um método de purificação que que ele provavelmente lhe estava sendo oferecido bem naquele momento.

“Quer saber? Aceito. Obrigada por estar aqui, por cruzar esta fronteira comigo.” Foi o que ela rabiscou e mostrou a ele. Então, com latas de biscoito, uma garrafa térmica e canecas enroscados nos braços e mãos, os dois atravessaram a ruela deserta até o emaranhado de árvores sem olhar para trás e a princípio sentaram-se no banco logo à entrada da clareira.

Por algum tempo falaram sobre tudo e nada enquanto bebericavam o chá e comiam. Depois, A. levantou-se e espiou por entre o emaranhado de árvores, instigando S. a acompanhá-lo. O rapaz descansou os utensílios ao lado de um tronco e deixou-se cair com as costas contra ele. S. pegou-se olhando em volta de si antes de se posicionar na terra sem se importar com a sujeira que aquilo faria em suas roupas.

- Estava com saudade... – sussurrou A. ao afastar um cacho caído aos olhos pela cabeça inclinada.

- Ah, eu também, você sabe disso. – S. indicou as próprias pernas esticadas à frente. – Venha, deite-se aqui. Queria te ver direito, sem fugir. – sentiu um pouco de hesitação, que logo desapareceu quando ele deu de ombros e descansou a cabeça sobre os joelhos dela.

- Sei que você não foge porque quer. Mas eu te acho, como agora, como sempre. É questão de treino.  – sorriu A.

- É verdade. E sempre encontra o que mais importa, como só outro homem na minha vida é capaz de fazer. Porém eu falo sério: chega de me esquivar do que é bom para mim. Além do mais, ouvi falar em algum lugar que o caráter de um homem pode ser deduzido pelo modo como ele aperta a mão de uma mulher. A julgar pelo seu, é um abraço de respeito, carinho e igualdade. É justo que eu me deixe levar pelo sono que vejo nos seus olhos. – ambos riram; A. brevemente cobriu o rosto com as mãos noutro cacoete de timidez.

- Eu agradeço, mas... Pareço sonolento e te causo sono? Eu ando quase sempre cansado, envolvido em mil coisas, é verdade... – diante da pergunta, a moça apenas fez que não e roçou os dedos entre os cachos dele como se fossem solo fofo e revirado.

- O “sono” é uma gentileza que você carrega. Fico grata por confiar em mim o bastante para descansar em meu colo. Há tanto tempo não afago nada mais que a mim mesma ou o cão desta casa que esqueço que consigo fazê-lo. Claro que o cão conta, mas você entende o que quero dizer.

- Ah, obrigado! – S. sorriu ao ver A. corar de leve. – Os cães e sua honestidade... – ele virou-se de lado, com o rosto na direção dela, o cabelo comprido um tanto amassado.

Ela pensou um pouco e confessou que gostava da mistura de vulnerabilidade e força que A. parecia ter. E de como aquilo se manifestava tanto em palavras quanto no simbolismo do pouco de corpo que ele deixava exposto à vista por hábito deliberado nas camisas mal abotoadas e, às vezes, mangas enroladas. A fragilidade física de pescoço, mãos, olhos, pulsos e o espaço perto do coração abertos a dentes, garras e quase toda a intempérie. E, no entanto, sua altura e estrutura óssea o tornavam imponente, mas não de uma forma intimidadora. Que tal amostra de vulnerabilidade não eliminava, mas destacava a discrição com que tratava a própria vida para com quem não tinha intimidades.

Enquanto o sol se punha, os primeiros raios de lua os alcançavam e ele absorvia as palavras, A. efusivamente agradeceu pelo que ouviu e enfatizou a doçura e coragem de quem as dizia; algo que poderia ser encontrado e deveria ser exercitado em toda a humanidade. Que era bonito S. ver algo assim no que para ele era apenas um costume, bem como sua maneira de demonstrar afeto.

O cantar dos grilos veio com o leve frio da noite; A. virou-se de barriga para cima e, olhando para o céu, suavemente começou a cantarolar uma melodia que S. logo identificou. Ele acenou com a cabeça para que ela o acompanhasse, se quisesse. Lágrimas felizes lhe chegaram quando ele cantou de novo dia e nova vida. Foi com isso martelando em mente que S. olhou em volta e percebeu que não tinha mais medo do lugar. Ao voltarem para dentro eles arrumaram as malas dela, fizeram o jantar e partiram no dia seguinte.

10/05/2019

sexta-feira, 17 de maio de 2019

11/04/2019

Talvez os nossos silêncios já existam, na medida em que nada é dito ou precisa ser dito quando nossas mãos estão juntas.

No eco de cada desculpa que não deveria ser pedida e de cada palavra deixada no ar da distância para ser devolvida quando o tempo e o coração acharem melhor.

Na quietude das salas que se prestam a ouvir só as nossas vozes.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Mini-resenha de "Quando o risco vale a pena"!

Então, pessoal. Sabe quando se divulga um trabalho nosso para alguém que de uma forma ou outra acompanha aquilo que a gente faz, e se pergunta o que a pessoa acha daquilo, mas ao mesmo tempo nem imagina que ela tenha de fato tido contato com a obra e que se importou de tirar um tempinho para ler e fazer um comentário?

Pois bem. Aconteceu comigo! Um tempo atrás eu falei sobre o meu livro de estreia na poesia num comentário num dos vídeos da Janaína do canal do Youtube/blog Nina e Suas Letras (com quem retomei contato desde que tirei as teias deste humilde bloguinho e fiquei sabendo que agora faz vídeos sobre literatura. Não seja bobx e vá lá dar um conferes!). E não é que dona Nina resolveu ler minha poesia no último mês de abril? Se não sou avisada, nem fico sabendo (risos), me pegou mesmo desprevenida, mas lisonjeada.

"Quando o risco vale a pena" acabou como uma das leituras da Nina para abril, entre outras que estão incluídas no vídeo abaixo:


Muito obrigada pelo carinho e sinceridade, Nina! E por mencionar o vídeo (eu não necessariamente assisto os vídeos na ordem em que eles são postados, então o aviso não estragou a surpresa, viu?). Fico muito feliz com os comentários e a divulgação. Quem sabe um dia não venham outros poemas publicados... Parabéns pelo teu trabalho, um beijo :)

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Algumas regalias

Amor, se o que queres que eu diga
sejam versos improvisados
para dentro dos teus lindos lábios
nas minhas noites ou nos nossos dias
ou teu nome suspirado a cada palavra que ouço
pois amo como soam na tua voz de moço,
talvez de bom grado eu consiga
te reservar algumas regalias...

09/05/2019

terça-feira, 14 de maio de 2019

Bush song

Beware of my thorn,
handle me with care.
Remember, please, that I was born
for the touch of your hand, cold and bare.

I may not offer you safe shadow,
for I am not as sturdy as a tower...
But if you come see me at the meadow,
for your hair I might have a white flower.

If need be, let me fall and die and burn,
smoke and spread the quickest fire.
Have my warmth and sweetness in return
for the chance to rid you of evil and liar.

09/05/2019

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Ao peixinho

Filho, não faz mal que não creia
que desde aquela lua cheia
da tua cabeça na minha mão
eu te guardo da tempestade mais feia
e tu carregas a minha paixão.

Pois todos têm este charme
capaz do maior desarme
e sabem da vida o que é bom
para a alma e para a carne
e respeitam o seu dom.

Eu te recebo em todo o teu voltar
ansioso para o mar,
um homem refeito
pelo cheiro da terra do lar
te apertando contra o peito.

08/05/2019

domingo, 12 de maio de 2019

Lured in

I know he'll always call me back
as I felt he would,
and just like that I followed his track
for his and my own good
into the sea, the city and the wood.

No fear, eyes closed
and a smile on my face.
neck and soul exposed
as should always be the case,
touch, voice and word treasured.

My love, I could cut him open
if I made the wrong move
by teeth, claw and untruth spoken
but not a thing would change in him or up above
as a rose cannot be a foxglove.

I roar as I hear his howl
saying he's to stay and never run
and then the earth holds our taken bow
of the moon worshipped by the sun,
crashing dance of two in one.

08/05/2019

sábado, 11 de maio de 2019

Anseios

Se tu estivesses aqui
eu tomaria todas as rimas
que tu me sussurras
na minha pena e voz
e as beijaria em ti.
Elas seriam tuas meninas,
as filhas da pureza das juras
que só pertencem a nós.

Eu te mostraria os únicos belos cortes
que alguém pode ter nos dedos
e fazem nascer rainhas e reis
de sangues azuis, negros, vermelhos...
Os que marcam tantas vidas e mortes,
sabem dos nossos segredos,
nos mantém jovens ou deixam velhos,
eu te poria a par das leis.

Se deste coração sou senhora e governante
desde sempre e amo como uma,
se apenas tu soubesses que o que parece que falta
é que fiques aqui, amante...
Vem e este amor perfuma,
nos eleva à patente mais alta!

07/05/2019

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Mantra

Sussurro teu nome
ao pé do ouvido
como a nenhum outro
por prazer.

Pelo prazer que consome
o simples estar contigo,
a água benta do bebedouro
do que tens a dizer.

Já que não importa se mereço,
é o som do que cai no meu regaço,
o estalo desta chama.

Porque ele é fim e também começo
que eu de todo abraço
como a teu corpo, nesta cama.

07/05/2019

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Ladrilhos

O caminho dos teus beijos
no meio
entre um e outro seio
até meu umbigo
fica comigo,
é uma gota de perfume
com a qual eu talvez nunca me acostume.
Perfume, é claro,
o mais caro
veneno dos desejos
da tua boca feita flor
para nada menos que canções de amor.

07/05/2019

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Sob o carvalho

Musgo!
Roça meu ombro,
nos meus dedos e enreda
e nos esconde...
Me acaricia
até chegar o dia
num piscar nunca brusco
em que de cima do monte
você me veste
para outro mundo que não este
onde não temo a queda.

02/05/2019

terça-feira, 7 de maio de 2019

On Andrew and devotion

Since I am pumped for #WastelandBaby, here comes a thread of thoughts I've been having over Hozier and his writing style, so don't mind me.

I noticed from the beginning that his songs tend to deal with love and desire related to devotion, I love that. Even his "I am idealizing this person" kind of songs carry a lot of that. Makes sense with him thinking of love like "I love you so by extension I hate the rest".

Of love as a violent act against the world because the person you love is all that matters. I quite like how he uses female references and pronouns for the sake of rhyme scheme so also this SHE could be me, you, anyone, no one, everyone, no matter their gender.

The people he describes are always sublime, that's so gothic and so absolutely how every woman should be seen as (or lover, you get the gist). Something not divine but that you look at and just stand in awe of. He also sometimes connects love and devotion with salvation.

His persona views his lover as someone sometimes more worth of worship in all their humanity than god, especially when sex is seen as sinful and/or nothing but a power play.

I don't care if the stories themselves arent his because the words are and if he chooses to tell this kind of story and with such care for imagery construction and the use of vocabulary... that says a lot.

He has stated time and again that making love/making babies/loving somebody is one of the most important things a person can do so. Yeah. I guess that's why his material resonates so much with me.

27/02/2019

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Poisonous

Let me confess
that I love it,
that I am a mess
and I crave it.

You and your freedom -
in drinking just a bit,
but a drop of it,
I'd embrace martyrdom.

30/04/2019

domingo, 5 de maio de 2019

Fadiga

Cansa, cara.
Cansa se ver envelhecendo em posição sentada
e ver que, mesmo por trás da bolha
que nunca foi minha escolha
o mundo parece tão previsível quanto uma escara,
parece que as pessoas não aprendem nada...

Cansa
ser o tempo todo a criaturinha mansa,
sem voz, sempre menina
e “nossa, que inteligente!”
repetindo para si mesma com o olhar para cima
que sim, é atraente,
poeta, mulher e leonina.

Cansa
que não percebam que algumas coisas não mudarão
e que até eu tive de aceitar;
que outras, não, eu não acho bonito ou engraçado
e não ousem rir amarelo, porque saberão;
nem toda pequenez é motivo de festança
e só cabe a mim me consertar,
eu sou o meu próprio fardo.

Como cansa
a infantilidade do tom e pergunta
de quem sempre vê criança,
mas juro que com o tempo a gente acostuma
porque a chance disso acontecer é tão maior que só uma,
às vezes várias destas vindo de forma conjunta
como os lugares que até espero que bem não receba
quem viva, coma, beije, beba,
menstrue ou não, conheça ou padeça dos espermas,
mas não anda com as tuas pernas.

Ninguém sabe como a alguns cansa
quando só querer viver vira teste
sempre para nós, mas mais para o mundo
a cada segundo
servindo de lembrete ou lembrança
ou dádiva celeste.

30/04/2019

sábado, 4 de maio de 2019

Cortes

Sua Majestade, herdeiro da maré,
sopro de maresia.
Imperador dos bosques
que te abriram os braços
como um dia eu o fiz
e dono dos beijos do sol
que te igualam em fogo amado
a quem te trouxe aqui
em faces e batidas melenas...
Empresta-me teu ouvido!

Tu, com teu amor aprendido e declarado
pela beleza no que há
de selvagemente honesto
nos sons alados que ouves
e que te foram dados antes da palavra
e à quietude suave onde a chance te perde,
a mesma que o destino parece
ter dado aos teus olhos...
Atenta-te de corpo e gesto ao meu lamento!

Tu, partido por tantos desejado
em suas distâncias,
que anseia pelo amor de todo inocente
chegado às tuas mãos suaves -
senhor de honra e humilde orgulho
que não teme frio, fundura ou chama
pelo que tu e o povo merecem,
o que ainda não foi dito
com leveza e força em par
em terra, água doce e no mar...
Guarda-me um lugar aos teus pés!

Tu, que veneras eco e coração
vindo e trazido de mulher,
nunca acima ou abaixo
mas em círculo concebido
que reconhece e completa
em abraço de aceitação
nos mais doces termos,
como tu, vestidos de lua...
Toma minha pequenez entre as palmas!

Tu, que sem palavras guias
aqueles que caminham a teu lado
sob a neblina da busca
pela efêmera imortalidade
e a justeza de plebeus e príncipes,
a memória dos sinceros e leais
e do preço que eles pagam...
Põe gentileza neste meu corpo, nestes meus lábios!

Mestre dos toques etéreos ao nada,
dos dentes cerrados e muitas vozes
em que mesmo as palavras alheias
parecem que sempre te pertenceram.
Mesmo as minhas, que são nossas
por estarem no mel da tua língua...
Recebe-me de volta ao teu regaço!

Contempla teu beijo na minha mão e no meu verso!

26/04/2019

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Ingenuidade

Tão estranho
conhecer o amor
e mesmo depois de tal banho
sentir que não se sabe amar, minha flor...

25/04/2019

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Tesouro

Eu não preciso de luxo,
só daquele homem por perto
se assim ele quiser -
com tudo de errado e certo
na menina e na mulher.

De vai e vem em cada repuxo,
já que aqui permanecemos
pelo que pode nos tocar -
ora os versos que lemos e gememos,
ora as nossas mãos e as do mar.

De olhos que com a chuva chovam
de promessas suaves de amor
sussurradas num canto -
não por algum vazio e ônus da dor
e sim, nas respostas, o que há de santo.

De paciências e vozes que sorriam
ao bonito que é grande sendo pequeno
dentro do doce e da lembrança -
que sabem aquilo que prepara o terreno
para cada nova bonança.

25/04/2019

quarta-feira, 1 de maio de 2019

(Con)tato

No escuro
eu não minto
e esta é sua graça.
Te procuro,
adoro
e acho
em cada poro,
cada cacho,
por instinto
que revele e desfaça.

23/04/2019

Rocha

Deixo a luz do sol bater um pouco a cada vez sobre as várias faces e ranhuras lapidadas por tempo e destino para que ilumine e penetre a gra...