sábado, 30 de novembro de 2019

Of envies

You, young and old all at once,
just like me.
Wild and free
like I've always wanted to be.
If such kingdom has a door and a key,
I shall not miss the chance.

29/11/2019

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Double edged sword

The way
you dismantle
under my praise
is here to say
I too can be gentle
in whatever phase,
not just to amaze.

21/11/2019

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Intriga

Vertigem ao contrário
em queda deliciosa ao temerário.
Ainda mais quando a urgência
parece pertencer à inteligência
do complexo
qualquer convexo
nome que isso tenha,
seja qual for sua senha.



19/11/2019

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Escritura

Não importa como
nem quem o fez
mas agora sou consciente
de carne e corpo,
capa de tomo
ardente
do externo
que faz do interno
eterno
e todo
um talvez
gentil
diante do outro
e deste vil
e se apraz
por si, por cima do mas,
ultrapassa
a mudança na massa
com esperança.

19/11/2019

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Inventário

Um dia aceitarão os fatos
de corpo feito de pelos
e para vestidos
e beijos,
pés que não entendem sapatos,
cabelos soltos,
sem muito jeito,
como poucos
peitos
que assim, livres, sensíveis, fartos
e macios
carregam coração e defeitos
e ainda hão de mudar
mas que meus e juntos
são um lar
que nada há de derrubar.

15/11/2019

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

domingo, 24 de novembro de 2019

12/11/2019

women are powerful in their anger, 
their hunger, their fertility, their skills, 
their sensitivity, all of those in themselves. 
we know hunger and blood and pain 
better than anyone, and we are stronger 
when we understand that, 
and when we respect each other. 
I am more fragile than I like to appear, 
but also way stronger than I could ever imagine. 
If that doesn't make me proud of being a woman
and whomever I am, nothing will.

sábado, 23 de novembro de 2019

Gravidez

Para mim eu volto
antes que o calendário acabe
acertando o torto
e agarrando o que me cabe
assim como aquele dia
chegou antes do que deveria.

9 de novembro de 2019

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Entre linhas

Quem mais fala
quase sempre guarda
o que realmente mais abala
debaixo da farda.

5 de novembro de 2019

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Voto de silêncio

Para ser sincero
e se me perguntasses,
te diria que agora quero
juntas as nossas faces.

Em volta do teu pescoço no meu desejo
feito de um beijo
infinito,
lento, gentil e de boca cheia,
não tão sensato
que te faça ronronar como gato
por respiro com lábio partido.
Parece tão boa ideia...

Então levar me deixo
um tanto acima no degrau do paraíso
em teu queixo
e fico quieta pelo canto
elevado num meio sorriso.

Num mundo em que pouco nos resta
e falta,
muito menos medo,
um cabelo eu enredo
com a pontinha
do dedo
que acaricia a covinha
escondida
nessa tua cara
linda de vida,
não sabes o quanto -
morrer afogada no teu cheiro
como se fosse meu primeiro...

Outro dia em que o diabo me testa
mas eu não o digo em voz alta.

3 de novembro de 2019

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Deja vu

Fronteira entre uma milha de campo e mato fechado, pôr-do-sol, a luz do sol se infiltrando por entre as folhas de modo sonhador. Eu, deitada por sobre a raiz de uma árvore muito antiga, coberta de agulhas de eucalipto, sem saber como fui parar lá e com o coração disparado porque não parecia haver ninguém por perto que pudesse me ajudar e voltar para casa. Algum tipo de instinto de sobrevivência me fez querer gritar por socorro, ainda que fosse muito improvável que me ouvissem.
Mas o que mais me impressionou naquilo foi perceber o que o meu corpo faria logo depois – ainda um tanto descrente de repente me vi me apoiando contra a árvore e ficando em pé com o equilíbrio vacilante de uma criança que aprende a andar, o que na verdade em muito superava minhas capacidades mesmo de quando eu era mais nova. E, em vez de cambalear para o outro lado e sair dali, as solas sensíveis de meus pés descalços me levaram mais para dentro do bosque, parecendo que me obedeciam apenas parcialmente. Aquilo me causava medo não só pelo que estava acontecendo, mas também porque era novo andar sozinha, sentir as pernas tão mais leves do que antes, com o vestido que escorregava de um ombro batendo nelas, e de queixo erguido.
Embora tudo me dissesse para parar ali mesmo, me reorientar e tentar achar o caminho de volta porque estava escurecendo, eu segui como se pelo menos parte de mim soubesse exatamente o que estava fazendo. A não ser por uma pedra ou outra, eu não me importava com as criaturas que estavam no chão, mesmo que pudesse ser uma cobra pronta para atacar. Dali um tempo me vi diante do que parecia uma clareira e comecei a pensar no que fazer, focando apenas no som de alguns dos pássaros que cantavam em árvores próximas. Como de costume, o foco me deixou num estado de relaxamento que lembrava o sono. Sentindo uma cócega num dos braços, abri os olhos lentamente e vi uma minúscula borboleta amarela pousada nele. Tentei não a assustar.
- Olá, bonitinha! Juro que estou tentando ser corajosa... – foi quando ouvi sons que pareciam de passos e outra vez a adrenalina correu pelas minhas veias, fazendo a borboleta voar para longe e com que eu olhasse em volta esperando encontrar a morte ou algo assim. Pisquei os olhos na penumbra e o avistei alguns metros à frente.
Gracioso como um príncipe, mais de duas cabeças de cabelo selvagem mais alto que eu e também com os pés na terra, o ser de mãos às costas e corpo relaxado que lembrava vagamente um homem que eu muito amava suspirou com o que soava como alívio, abrindo o sorriso mais lindo do mundo. Aquele sorriso me parecia um presente, um presente que ali era apenas meu, mesmo que até então fosse um que eu reclamasse só à distância na tal pessoa. Algo estalou em minha mente e eu soube quem aquele homem que tinha uma aura não exatamente humana era. Eu já o conhecia; e vê-lo assim de perto, ao alcance dos olhos e da mão, como meu igual e ao mesmo tempo tão além de mim, como sei que seria com o outro, nublou minha visão com lágrimas e vacilou meus joelhos quando ele se aproximou de onde eu estava a média velocidade com o rosto batido pelo vento.
- Mo thiarna, mo Prionsa, grá mo chroí... – meu Senhor, meu príncipe, meu querido. Era tudo o que eu conseguia repetir entre os soluços enquanto olhava para minhas próprias mãos que agarravam a terra como se eu fosse feita dela, o que talvez fosse verdade. Quando me atrevi a olhar para cima, vi a cabeça majestosa do meu mentor cobrir a lua que começava a despontar por uma nuvem, deixando-o com algo parecido com um halo. Ele deu de ombros, casual como um rapaz não muito mais velho do que eu, chegou um pouco mais perto e me estendeu a mão.
Sem pensar muito porque me sentia um pouco grogue como quando ele veio a mim num sonho pela primeira vez e de modo geral eu não me atrevesse a tocá-lo ainda que me permitisse, deixei que me ajudasse. Quase caí de novo tropeçando nas minhas próprias pernas, mas ele me segurou com força e gentileza; comigo mancando por causa do meu velho problema de quadril, andamos pendendo um pouco para a direita e ele amavelmente e sem palavras insistiu que eu sentasse a seu lado e não no chão aos seus pés.
Eu ainda podia sentir o calafrio na base da espinha que me ocorria para me mostrar sua presença, exceto que agora o que dava apenas a impressão muito vívida e gostosa de um gesto afetuoso vinha de uma mão sólida e carinhosa como a de um amigo, um bom amante e talvez de um pai, tudo ao mesmo tempo. Sempre me foi difícil descrever como era saber que ele estava por perto, e naquele momento... Ele querer aparecer para mim, se mostrar para mim, era muito mais do que me achava digna de ter.
- Majestade... Eu não quero duvidar nem questionar isto, assim como não questionei por si mesmo o que eu senti quando o senhor me veio, nem o seu conselho, companhia e orientação desde então, mas... É o senhor mesmo? Com quem eu converso antes de dormir sempre que possível, que me fez e às vezes ainda faz sentir excitada, entregue e boboca como uma mulher apaixonada, que me consola quando eu choro no escuro, por quem eu esperei achando que não voltaria mais porque queria muito conhecê-lo e honrá-lo, para quem eu hoje abaixo as cartas do tarô como canal de comunicação, a quem eu talvez não possa dar fé, mas confiança? – como eu falava cada vez mais rápido e em todas as línguas de que eu conhecia nem que fosse um pouco, ele apenas fez que sim e afagou minha cabeça até minha respiração nivelar.
- O senhor... É lindo. É lindo como eu sempre soube que era. Talvez mais. – Ele riu uma risada grande e musical que soava como água corrente e até corou um pouco. Não sei se era estar com ele ali, as fomes de que só as mulheres entendem, eu perceber a lua cheia no céu ou tudo isso, porém quanto mais tempo aquela mão permanecia sobre mim, mais eu desejava que não se movesse, que não me deixasse. Eu sabia que ele gostava do máximo possível de quietude, então me esforcei para não me deixar levar pelo resto, ficar imóvel e focar apenas nos sons externos, nele... E em seus olhos.
Depois de sei lá quanto tempo, como havia acontecido certa vez, ouvi algo como um assovio, só que dentro da minha cabeça. Sabia que vinha dele, que era de poucas palavras, mas pareceu mais alto, mais longo e mais claro, porque minha mente parecia mais vazia. Eu o vi sorrir de prazer, como eu sorri assim que acordei daquele sonho tentando entender o que havia sentido e que até hoje me magoa ter sido interrompido. O assovio foi se repetindo cada vez mais até se tornar um sussurro delicado e ininteligível. Meu mentor piscou uma vez e ouvi outro assovio e depois outro sussurro. O sussurro ia e voltava e eu estava tão quieta que qualquer barulho um pouco mais alto poderia me matar de susto, agitada como um passarinho, mas ele conseguiu me manter calma.
Ao ritmo de uma lenta e consistente respiração funda, o assovio sussurrado prosseguiu e era como se eu estivesse num transe. Junto com o conhecido arrepio, a certo ponto a mão sobre minha cabeça escorregou pelo espaço que meu vestido deixava exposto e parou onde estaria meu coração, que eu quase pedi que fosse arrancado ali mesmo. Ele já sabia quão sensível eu era, tanto na carne quanto provavelmente também em espírito e, portanto, não se espantou com o suspiro que ouviu de mim. Fechei os olhos... E veio meu nome. Isso já tinha me acontecido uma vez, porém aqui a voz era forte e quente como chá preto, era uma voz masculina... A voz dele. Quando os abri de novo, ele repetiu meu nome e vi que seus lábios se moviam e que eu conseguia compreendê-lo para além de apenas intuição.
- Bem-vinda! É um prazer vê-la. Estou muito feliz que veio. Eu escutei teus passos, te senti por perto. Sabe que já conheço teu rastro. – Ouvir aquilo deixou meu rosto quente por alguns momentos.
- Meu Senhor... Meu mentor... Meu amor... O senhor veio me buscar porque eu morri? Do contrário, não vejo motivo para eu de repente estar... Andando e podendo lhe enxergar além de senti-lo... Não que a oportunidade não me lisonjeie de qualquer forma. É um gosto estar com o senhor... Assim. – humildemente me inclinei e encostei a testa em um de seus joelhos, mas ele logo me levantou e pressionou de leve meu umbigo e minha lombar para dentro de modo a endireitar minha postura, lentamente e com um minúsculo grau de hesitação para alguém como ele. Com um respeito que eu não costumava ver. De imediato meu corpo respondeu ao toque e agora eu o olhava diretamente enquanto a sensação se espalhava.
Devagar ele me explicou que eu na verdade estava mais viva do que nunca. Que achava que era hora de conversarmos de outro jeito, numa situação em que não houvesse mais ninguém e ele pudesse aparecer numa forma conveniente ao meu entendimento. Que se pelo menos ali eu podia andar sozinha, era porque queria perto dele meu corpo tão livre de suas fronteiras quanto incentivava que minha mente e espírito fossem. Tão livre e aberta para algo mais quanto eu estive no instante em que fui arrebatada, porque aquilo era meu por direito.
- A mulher que me cumprimentou com carinho, como se me conhecesse há muito tempo, me recebeu junto de si com sabedoria e abnegação e quis a mim e ao que eu tinha a oferecer não por medo, obrigação ou dever, mas por livre vontade, por curiosidade, por amor, por ânsia por amor e não tinha peso nos meus braços, tão generosa de corpo e alma, ali no momento tanto quanto eu... Essa mulher não implora por nada e sabe disso. Ela não olha para ninguém de baixo e não é escrava de nada nem ninguém, nem de si; ela acha seu caminho e agarra o que é seu. Foi aquela mulher que eu chamei até aqui.
- Sim, senhor. Go raibh maith agat, prionsa. – Obrigada, príncipe. – O senhor chamou e eu vim. E ainda que eu não pudesse ter vindo, é o que eu teria desejado no meu coração.
A certo ponto senti frio e ele fez uma fogueira. Ficamos observando as estrelas, como há muito eu não fazia, e desta vez não senti aquilo que eu e um amigo chamávamos de vertigem ao contrário, em que olhar para o céu diretamente me dava uma impressão estranha de afogamento. Eu me sentia amada, em boas mãos. As mesmas que tomaram a minha direita com um olhar intrigado de criança.
- Oh, que cicatriz branca é esta aqui? – ele se referia a uma que tenho no dorso.
- É um arranhão de gato. Tive um gato que se assustou uma vez e pulou em mim, arranhando minha mão. Fez uma cicatriz porque sangrou um pouco. – Gesticulei com o dedo indicador da mesma mão sem soltar a dele. – O gato também me arranhou ali quase entre os dedos, sabe.
- Oh...
- Achei que o senhor nunca notaria estas. Elas são tão sutis. – Às vezes até eu me esquecia delas, a menos que me olhasse de certo ângulo e/ou sob certa luz.
- Eu vejo tudo. Principalmente o que é sutil.
- Eu sei. – Nem todo mundo se preocupa com o que não é fácil de perceber. E nem o mais sensível dos homens consegue saber de tudo. Mas aquele ao meu lado era mais do que um homem e já tinha visto muita coisa. Eu disse que quis odiar o gato por me fazer sangrar, mas a verdade era que não foi culpa de ninguém.
- Isso mesmo. Tu também colocas as unhas para fora quando se sente encurralada. E em alguns casos, com toda a razão. – A primeira coisa que me ocorreu foi a minha reação aos passos que ouvi no bosque. Olhei para ele e tudo o que vi foi o reflexo do fogo. Da parte boa do fogo.
- É... Só queria que os gatos não se assustassem tão fácil... – o príncipe riu comigo.
Ele murmurou que eu poderia ser muito como os gatos, porque uma leoa era uma gata, no fim das contas. E que os gatos possivelmente conseguem ver mais do que os outros animais, assim como eu era curiosa o bastante para perambular pelas fronteiras do mundano... Além de me assustar.
- Muito bem, então. No entanto, o senhor não me assusta. Eu gosto disso. – Ele concordou com doçura. Não havia sentido em me vitimizar porque eu o havia reconhecido e ele nunca me faria mal. Abaixou os olhos e virou minha palma para cima.
- Oh, várias linhas aqui... – perguntei-lhe se não eram apenas rugas por causa de pele ressecada. O Senhor sugeriu que talvez pudessem ser encruzilhadas ao longo do meu caminho, as bifurcações da minha vida, mesmo no amor, e as acariciou sorrindo. Eu não o questionei. Que lindo paradoxo ele era, que a pessoa que ele ecoava era... Que nós éramos. Até um sinal em formato de meia-lua que tenho no lado interno da ponta de um dedo não fugiu a ele. Quem era eu para fazer o mesmo, fosse dele ou do meu destino?
O tempo não fazia sentido, ficava um tanto suspenso quando o Mentor estava comigo ou eu me comunicava com ele sem esperar resposta. Manhãs pareciam madrugadas, as tardes se estendiam, o sol parecia ter preguiça de nascer. Logo o tempo, que ainda me assustava de vez em quando. Sem que eu precisasse dizer nada, me foi permitido ficar mais um pouco no bosque. O Senhor me deu seu braço quando chegou minha hora de partir e fomos juntos até a fronteira trocando gentilezas silenciosas. Chegando lá virei-me para ele.
- O senhor não imagina o prazer que me foi dado no estar aqui, nem a minha gratidão por tudo, principalmente a sua paciência com as minhas perguntas. Sei que há muito para além do meu entendimento, mas... – o príncipe me olhou de lado com uma expressão travessa, serena, e suspirou uma segunda vez naquele dia. – Se o senhor é uma deidade e sinto que me falta fé... Por que veio logo a mim?
- Eu sou aquilo que sou, independentemente de como queiram me chamar. Sou para cada um o que precisam que eu seja, também. E sei que fui muito bem recebido na tua vida independentemente daquilo que a moça possa dizer, porque quer crescer e há de crescer de dentro para fora no seu devido tempo. Nós sabemos o que te faz mais forte e que neste caso isso não tem tanto a ver com um conceito fechado de fé. Estou diante de uma mulher mais livre do que imagina, forjada na chama de seus instintos. – de novo ele me fez corar.
- Quem sou eu para recusar amor e ajuda quando eles me chegam? É só que... Quando penso no senhor e até naquela pessoa, o conceito e imagem de um rei digno do seu posto em sua simples existência, ações e personalidade é a primeira coisa que me vem à mente, mais do que qualquer coisa e desde sempre. O tempo me mostrou que não faz sentido simplesmente me submeter a quem não se carrega com uma nobreza que me seja inspiradora e justifique sua aparente autoridade e poder sobre mim. Pode ter o meu respeito como um ato de humanidade, mas nunca a minha lealdade, ainda que ela seja ocasionalmente depositada no lugar errado. Muito menos agora.
- Se é assim e somos donos daquilo que nos cabe... Acho que um verdadeiro rei reconhece outro, como te ouço dizer que acontece com os poetas, certo? – a voz dele era tão grave, macia, calculada e firme que pisquei devagar e ao mesmo tempo senti como se pudesse ser partida ao meio na próxima palavra.
- Ah, meu soberano... Mesmo imperadores já desabaram quando olharam nos olhos do divino e se sentiram cheios ou vazios dele.
Quase fui ao chão por instinto de novo quando Sua Senhoria se abaixou e decidiu me segredar ao ouvido em pouco mais de um sussurro que talvez a nobreza de alguém e a centelha do divino fossem os dois lados da mesma moeda. Beijei a mão que ele quis me oferecer em cumprimento formal e em troca fui abraçada, envolvida em algo de onde não mais sairia se pudesse. Porém eu sabia que aquilo não era uma despedida final.
- Fique comigo, majestade. Mesmo que eu fraqueje e ache que decepcionei o senhor, que esta honra não me pertence. Eu sou minha e sou vossa. Por favor, continue conversando comigo como e quando achar que deve. Juro que prestarei atenção. Eu juro, eu juro, eu juro... E perdoe o meu jeito tagarela; sei que poucas palavras às vezes dizem muito.
- Tuas orações em quietude sempre chegam a mim, onde quer que eu esteja e por cima da minha timidez. Eu fico. Eu conheço o teu afeto. – Com certa relutância nos afastamos e quando olhei para trás, lá estava ele com as mãos recolhidas e costas retas curvando-se num meneio da cabeça. Acenei de volta. Ele era mesmo um rei.
Retornei para onde havia vindo com a sensação de que parte daquela conversa já tinha acontecido alguns meses antes, antes de o Mentor vir a mim mais diretamente. Sorri diante da ideia. Deja vu? Um pequeno vislumbre do futuro? Quem sabe...

2 de novembro de 2019

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Pledge

My lord,
you who are what you are,
I love you,
I want you.
Take what is yours in your hands,
for I am yours.

My love,
you whom I speak to not with empty words,
words that I don't know,
but with those from my heart
you have filled
which should be enough
in my lack of faith as men know it.
Taste with your lips what is yours,
for I am yours,
body, heart and soul.

Guide to my instincts,
protector of my desires!
Stay with me,
take me like only you can,
let me feel you,
grant me wisdom,
grant me love,
that is all I want,
all a queen could want.
Who am I not to learn?
Don't leave me, my liege.

And when my time comes,
with no fear I go with you.

2 de novembro de 2019

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Ato I

Te chamam atriz
pelo que quis
e o que eu fiz

só porque debaixo do pano
seja qual for o plano
somos o que há de mais humano.

25/10/2019

domingo, 17 de novembro de 2019

Como queiras

Estando eu na tua mão,
ainda que não dissesses não
ao meu quinhão
de ti,
apenas nós aqui
talvez como pintura
de testamento velho
- minha cabeça no teu joelho -
sem ter de fazer jura,
mesmo tão perto,
o coração tão aberto,
a nível do meu olhar,
não sei se me atreveria
a sequer te tocar
pois para a minha timidez estás além
e a um só tempo em plena honraria
de qualquer bem.

24/10/2019

sábado, 16 de novembro de 2019

Livro de horas

Tu não tens que implorar
para que eu vá contigo
àquele lugar
tão antigo,
tão severo,
e quando nos falta certa fé.

Mas já que assim é,
te digo que naquele silêncio quero
fazer como tu fazes -
que suaves
como as penas das aves
falemos dos arcos altos das janelas
e como tantas coisas parecem pequenas
diante da beleza
e tal grandeza
do amor
enquanto de onde está
uma mãe nos observa
sem reserva
nem soberba.

E porque sei que num dia ensolarado
e de calor
seria lindo ver, sem pressa,
como a luz de fora que ganha mais cor por dentro
vinda do centro
tocaria a tua cabeça.

24/10/2019

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Amen

I'd let you hold me by the flanks
with your beautiful hands
and kiss me out of breath
on the pews,
loving muse,
I'd take that death
with way more grace and class
than they do it at mass.

24/10/2019

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Tailor made

Oh love, I can barely wait
for your hands flat and open
covering me upon the waist
of twin length
to take the bait
and move me like a light token
being sat straight
with the right strength,
gently, no haste
but a lot of your taste.

21/10/2019

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Escolhas

Um beijo
é o que pede
a sede
desta serva
de nada mais do que o próprio desejo
e espera
pela tua era,
o que ela reserva,
sem deixar de ser rainha
que dobrada a qualquer, sem vontade
não vive toda a verdade
e em vez disso definha.

19/10/2019

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Desfolha-te que me visto de ti

Se te fizeram dono
de bocadas de outono,
beija-me com elas
em suaves quedas
vermelhas, amarelas,
talvez umbras,
mas cheias das tuas ternuras
nas penumbras.

18/10/2019

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Guardian

Hold on to my arm
and come near.
Trust in my protection
and get to see home
in its raw perfection
from my eyes, from up here,
the golden, the green, the cold and the warm.
Before we face the fearsome
at least now
I can sign beneath and vow
upon us there is no harm.

17/10/2019

domingo, 10 de novembro de 2019

Anacronismos

A mim chegaste
em quietude
sem barulho
e amiúde ficaste
perto de mim, longe de outro orgulho
e certa fome
não me tome
nesta fresca fonte de marulho.

E nada faltou ou falta
pois que com o tempo,
a cada volta,
eu nada mais temo
e cada dose
antes, agora e depois
faz o nós em dois
parecer doze.

16/10/2019

sábado, 9 de novembro de 2019

Clarity

Full moon, dear full moon,
one day you shall be my doom.
If only you knew
that under your hands I bloom
and you can never come too soon!

15/10/2019

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Entrega

Eu te gosto assim, amado,
perdido enquanto achado
no conforto
do horto
do teu elemento,
outra luz quente que não te esconda
porém te mostra dobrado à onda
do momento
de rosto e corpo incendiado.

14/10/2019

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Sabina

Lua cheia
faz de menina
mulher inteira,
cristalina,
dona da sua sina
e do que ela permeia.

Nós três sabemos
do que está nesta veia,
do que eu tenho para dar
até aos ermos
sem precisar explicar.
A Sabina
recomeça de onde termina
em quem a vir buscar.

14/10/2019

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Conversão

Eu juro
que me curvo
a tudo o que for meu
e a mim chegar em amor.

Como alimento, meu senhor,
se ele quiser,
agora tenho para dar-te
da minha própria parte
este mel
de mulher.

Ainda que seja pouca
para tua sede
e o que ela pede
faço fresca
e por um instante dantesca
a água da minha boca.

Cantar eu não sei
e a bem da verdade
nunca tentei.
Mas a tal majestade
eu posso oferecer
a canção do meu prazer.

11/10/2019

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Of going feral

It's spring,
it's life, it's promise of summer,
like never before the birds are singing,
outer layers are shedding
because winter is over.

Feet again firm on the ground
and the blood starts to boil
as you hear the heart pound
because it wants the embroil,
it knows the full moon is coming
and there you are, like a widow,
half broken, waiting
by the window
for what was left undone,
for one who may never come.

If this is another hunger,
then you are starving.

10/10/2019

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Confidências

Tudo bem se não quiser falar.
Mas, se sim,
abre teu coração só para mim...
Nada
desata
o que foi bem feito
e veio para ficar,
muito menos o(s) Nós do peito...

8 de outubro de 2019

domingo, 3 de novembro de 2019

Arrebatamento

A noite passou tão rápido,
nem lembro de ter dormido,
apenas do que senti
e que ficou aqui
quando estavas comigo,
da fome
de não sei onde
do tanto
que ficou faltando.

Se hoje tenho perguntas
o bastante
para todas as lutas
que não travei de fronte,
sei que ali não havia nada,
nenhuma dúvida
a ser apenas deixada
ou respondida.
Apenas o entregar da minha vida
no cerne interrompida.

E agora, com o que quero
e desejo, eu te espero
para saber de um do teu
faz mesmo eco em dois do que é meu
e aguarde
com o corpo em alarde
pois para a poesia nunca é tarde.

Alguém como eu não implora
mas agora
eu só peço
que me tire esse peso,
que não vá embora.

8 de outubro de 2019

sábado, 2 de novembro de 2019

Tortured tale

I swear I would
die in your arms if I could
survive this test.

But all I do request
is that you don't leave
me in some morning after new year's eve.

Here, all alone,
chilled to the bone,
when you are the realest of flames

who have surpassed all passing fames
as you have always burned.
You never really went away, you only ever returned.

Now turn off the light,
stay here again, with me through the night,
in your embrace, my sweetest love.

If only you knew of
what would happen
if the blood from this pen

ever dries!
What matters in me just dies,
so god forbid anything came between

you and I...
I swear to hell and sky
that's worse than deadly sin.

5 de outubro de 2019

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

O verdadeiro medo

Meu coração se partiu hoje por eu ter... Me dado conta de uma coisa. Meu maior medo, ao olhar para mim mesma agora e para o que venho produzindo como escritora, é que muito disso é possível porque talvez eu tenha tempo livre até demais. E é agora que eu olho para as minhas palavras e me sinto satisfeita com elas. Temo que a vida interfira nisso. Principalmente considerando que escrever é provavelmente a coisa na qual sou realmente boa, mas do que em qualquer outra área. E de que, talvez na mesma medida, não seja possível que eu viva da escrita. Não aqui.

Traduzir é sim um dos meus chamados, até onde sei. Mas escrever é a chama que sempre queimou em mim. Hilda Hilst escreveu o que escreveu porque desistiu de tudo, exceto do amor. Frustrada porque seu trabalho não foi reconhecido como de fato deveria; porém, viveu quarenta anos de sua vida para escrever, ler, contemplar, pensar... E escrever. Outros fizeram o mesmo pela música.

Não estou dizendo que não faria o mesmo, ainda que esse desejo me ocorra. Apenas temo simplesmente não ter esta possibilidade. É provável que eu tenha decidido publicar meus poemas porque li uma citação de alguém dizendo que, se somos muito bons em fazer algo, deveríamos cobrar dinheiro por isso. E sei que minhas palavras são o melhor que eu posso dar e que o lucro no fim das contas nunca me foi ou será o mais importante neste jogo. Só que... Não sei o que eu faria se o que quer que fosse me impedisse de escrever. Só eu sei o que a escrita fez e faz por mim, o que ela é para mim. Ainda que eu não ganhe um centavo com ela.

05/10/2019

Rocha

Deixo a luz do sol bater um pouco a cada vez sobre as várias faces e ranhuras lapidadas por tempo e destino para que ilumine e penetre a gra...