Uma das partes mais complicadas e dolorosas do amadurecimento e do autoconhecimento é se olhar. Se olhar e se enxergar de verdade.
Muito poucos conseguem parar para refletir sobre as escolhas que fizeram na vida até bem mais tarde, e talvez nunca. Outros, quando conseguem, acham que não têm mais tempo de modificar a própria postura, o próprio entorno. Outros, ainda, realmente o fazem tarde demais.
Em algumas ocasiões, é a própria vida que te faz parar tudo e questionar onde se está; o que se fez ou deixou de fazer. E, quanto mais a gente se deixa levar e adia o inadiável, mais doloroso se torna esse movimento. Machuca quem o nega e também quem toma parte nele, mas apenas um deles tem a chance de sair dali realmente transformado.
Com sorte, este não é um caminho que se percorre apenas uma vez. Isso porque, ao mesmo tempo em que é curta por natureza, a vida vem ficando cada vez mais longa para o ser humano. E, se as únicas certezas são a mudança e a morte, quem acorda da noite escura da alma precisa ficar atento para não voltar a dormir.
Estar acordado para reconhecer quem fomos, quem somos e tentar desenhar quem queremos ser. Saber nomear o que nos foi dado e permanece conosco; tudo o que não mais nos serve de modo geral; tudo o que sempre foi nosso e não há quem nos tire.
Afinal, não há mão que nos salve como a nossa própria. Não há caminho mais longo que aquele que ninguém pode trilhar por nós. Não há companhia mais leal e constante do que de alguém consigo mesmo. Não há sombra que dê mais medo do que a que tem o nosso contorno.
março de 2025
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