Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2021
Sussurros
sexta-feira, 24 de dezembro de 2021
Descobertas
percebes as outras formas
da tua sede
no poço infinito da minha língua
e por uma chance de matá-la
acomodada e renascida
na tua boca
oceanos e conceitos de tempo
te perpassam
reconhecendo-as
como outras de si
na terra onde todos os desejos veem a luz.
24/12/2021
domingo, 12 de dezembro de 2021
Quando o risco vale a pena - atualizações
A semana foi cheia de boas-novas para o livro!
Esta
é a capa oficial do meu livro "Quando o risco vale a pena", que me foi
enviada no dia 7 de dezembro junto com o miolo oficial.
Estou muito contente com o resultado. E vocês, o que acharam?
Depois de uma última correção no miolo e de mais alguns detalhes acertados, na sexta-feira o pessoal da @editorapenalux me contou que o livro já foi pra gráfica pra produzir as primeiras cópias que vou receber em casa!
Logo logo ele começará a ser vendido e não vejo a hora de contar pra vocês. O jeito é esperar mais um pouco...
Quer
reservar a tua cópia com autógrafo? Me manda uma mensagem que te ponho
na lista! Quando chegar eu te aviso, separo uma e acertamos o valor
depois.
Serão poucos exemplares, tá? Reserva o teu que o autógrafo vai junto quando for a hora. :)
sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
quinta-feira, 18 de novembro de 2021
18/11/2021
quinta-feira, 9 de setembro de 2021
Liquefeita II
terça-feira, 31 de agosto de 2021
Aliterado II
é no escuro e no silêncio,
no quase vácuo
que, por fração de segundo, ele vem.
passa por ti e olha
na tua direção -
não anda por ela.
e, exatamente como antes,
apenas segue.
o que quase foi apagado
mas em mais de um lugar ainda permanece
cala as palavras,
talvez porque não haja nada a ser dito.
entre sons e cores frias
te dá um breve eco de sonho que nunca se realizou
e te arranca o sorriso agridoce
que não chegou a ver.
não mais te prende e outra vez se vai,
mas é de ti que a verdade escapa,
sendo simplesmente o que é -
e quem se importa?
ah, se soubesse
do que te faria atirar-se às chamas...
mas, assim como tu, de certa forma
ele sabe.
talvez seja um defeito,
ou apenas uma maneira de não fugir
do que acena de volta de vez em quando...
o passado tem dessas coisas.
30/08/2021
quinta-feira, 26 de agosto de 2021
Água II
em ondas sobre mim,
mas sem o gosto de sal.
em que se banha
e de que se bebe.
que se oferece a mim em goles esparsos,
porém sôfregos,
que me fazem arfar e querer mais
na sede de que me lembras.
que se derrama, que escorre lenta
ora desde os cabelos,
ora do pescoço para baixo como numa purificação,
ora desde os lábios
porque neles não se contém.
furtiva, se guarda em certos lugares, certas taças,
até morrer em outros -
entre pétalas de flor, folhas e linhas.
de mãos trêmulas e quentes,
faz estremecer a finura que toca
em um misto de devoção e rotina.
canta, sussurra e recebe.
porque tu és água.
24/08/2021
quarta-feira, 25 de agosto de 2021
Motivos II
atravessei céus inteiros
e fui parar na beira de uma água que nunca vi -
abanei a cabeça e sentei
perto do fogo que tuas mãos fizeram e deixaram aceso
vendo o pôr do sol,
a lua
e cada pontinho que se atreve a brilhar no escuro.
me embrenhei no mato só pra voltar pro silêncio
da falta de televisão
e finalmente ler, num sofá alugado,
o calhamaço com letra pequena
emprestado da minha mãe
que há anos não termino
e de repente as canções de amor
começaram a fazer sentido de novo.
te convidei dia após dia
pra passar as horas nos meus braços -
o máximo possível da vida
vivida e resolvida no calor da cama
fizemos amor
como se cada vez fosse a última
das tolices fantasiosas
escritas no espaço entre duas peles
por saberes que não és dono
da vida nem do corpo em tuas mãos.
por atenção,
pelo prazer,
pela espera.
talvez por paixão.
tomara que por amor.
24/08/2021
terça-feira, 24 de agosto de 2021
24/08/2021
Talvez o que faça com que as palavras
se misturem e se tornem inúteis
seja quando se resumem a apenas uma.
sábado, 7 de agosto de 2021
Conversão
o templo se abre e recebe
o sentimento, a oração,
a rendição
abraçada
e una
dito o nome,
a terra morna deste
aceita
e come
o mel que deita
sobre as pérolas dadas
e bebe
o cálice de lágrimas
da libação
até que, derrubada
cada coluna
só sobre a ti e a deusa que de mim fizeste.
07/08/2021
sexta-feira, 6 de agosto de 2021
Debaixo do véu
na distância entre duas línguas
se pinta a imagem
e se sente
e se vê
a mão que se estende e toca
trêmula,
a oferenda,
o instante do eclipse
alterado no escuro
do que pensam as duas cabeças
da hidra
e do que respondem os tantos lábios
das coisas desfeitas.
05/08/2021
quinta-feira, 5 de agosto de 2021
Poeira
segunda-feira, 5 de julho de 2021
Somas
sexta-feira, 2 de julho de 2021
Shameless
quinta-feira, 1 de julho de 2021
Merecimento
quinta-feira, 17 de junho de 2021
Scenarios
quarta-feira, 9 de junho de 2021
Like a jazz standard
sábado, 15 de maio de 2021
Mera verdade
terça-feira, 4 de maio de 2021
Unmade plans
quinta-feira, 29 de abril de 2021
Amor a muitas vistas
Sexta à noite me liberaram do trabalho por volta das dez horas ou dez e meia, algo assim. Imediatamente troquei de roupa e resolvi me meter dentro do carro. Liguei o foda-se mesmo, porque me dei conta de que precisava sair - precisava de um tempo longe da cidade para olhar pr’as estrelas, olhar pro que há para ver e só… Aproveitar o estar ao ar livre. Eu tenho dessas coisas. Sou do tipo que sai fazendo trilha na floresta e tal, sou esse tipo de pessoa.
Estava friozinho então pus um blusão e fiquei batendo perna pra me aquecer e vencer o vento que soprava se fazendo ouvir muito bem já fazia algum tempo. Tentei ir o mais longe possível pra ter a melhor vista, a pouco mais de uma hora de distância da zona urbana, e la luna me agraciou com sua presença em faceta minguante. Mesmo o que eu via apenas por conta do brilho da lua já era fantástico. Era tão bonito lá fora, magnífico de verdade.
Eu olhava para cima e pensava no tanto de tempo desde que estive pra fora e fui capaz de ver as estrelas brilharem daquele jeito. No outro lugar onde trabalhei até dava certo, mas havia muita área urbana por perto, com poluição visual, o que dificultava o sair e enxergar.
Algo que realmente gosto estando aqui e eu nem imaginava é que as pessoas sempre me perguntam o que é que tanto me agrada neste lugar, o que me atrai a ele, porque é tão sem graça e sem sentido, por que eu iria querer estar ali? Bem, este é um dos motivos. Conseguir sair durante a noite e encontrar um lugar ótimo e ver as estrelas - vê-las brilhando e girando um tantinho e tudo mais.
Essa é uma das coisas que eu adoraria mostrar a ela. Sei bem que cada hemisfério tem suas constelações mais visíveis durante épocas diferentes do ano, mas é que gosto tanto disso… Gosto tanto das estrelas aparecendo à noite e deixar meus olhos se ajustarem.
Foi interessante porque eu estava dirigindo por essa estrada estadual que tem só uma casa de um lado e sei lá o quê do outro e pensando comigo “cadê? cadê o lugar bom, o lugar que vai me dar a melhor vista, de preferência sem árvores?”. Onde eu parei haviam algumas árvores, mas tudo bem, qual é a parte boa de se ver, sem nada pelo caminho?
Finalmente encontrei e aos poucos saí dos 110 km por hora a que eu estava, o cascalho batendo atrás de mim. Cheguei aos 10 km, 5, depois 0 e parei o carro. Desliguei os faróis e putz, a luz do painel ainda era tão forte, que porra! Ainda não consigo ver direito no escuro, então tive que abrir um pouco a porta e é claro que a luz de dentro ligou porque quem é que não vai querer enxergar o que está dentro do carro? Enfim.
Desliguei a bendita luz e tentei me acostumar com a escuridão. Saí do carro sem enxergar nada porque não faço isso há séculos; ir a uma região relativamente selvagem… Tá certo que ainda tem alguma civilização por perto porque a nordeste vejo a luz vermelha do que deve ser uma torre de telefonia ou alguma outra torre e uma fazenda ou sítio mais pra lá… Mas ainda é pra fora considerando que preciso conseguir voltar pra cidade.
Foi a primeira vez que fiz isso estando aqui e sem mais ninguém por perto; nas últimas ocasiões, quando morava de fato aqui, eu saía com outras pessoas, como os meus pais, porque a gente faz viagens tipo essa no meio da noite pra achar onde parar e olhar pr’as estrelas, e é tão legal.
Meus olhos ainda não estavam acostumados… Olho em volta e me dou conta de que realmente não consigo ver nada. Tinha bem poucos animais que teriam vontade de dizer oi pra esquisitice que apareceu ali do nada, mas não era uma probabilidade nula, então me ocorre tomar cuidado com a bicharada que pode querer chegar perto. Por isso fico rondando e olhando, já que não quero levar uma mordida.
Aos poucos minha visão se ajustou, é claro, com a ajuda da lua, adorável que é, mandando um pouco de luz pra que eu pudesse ver. Com isso eu consigo ver a estrada se estendendo a leste e a oeste. Olho pra cima e vejo as lindas estrelas e a linda lua, e era tão bom estar ali!
São miudezas assim que fazem diferença pra mim, por isso me peguei querendo um dia poder mostrar pelo menos isso pra ela. E que talvez ela possa me mostrar um pouquinho do lugar de onde ela vem. Assim eu posso ver um pouco da beleza que ela consegue encontrar. E me peguei chorando… Porque a amo tanto e adoraria que ela visse aquilo também. Ainda que de onde estava naquele momento devesse estar dormindo ou acordando pra ter um dia maravilhoso.
26/04/2021
quarta-feira, 28 de abril de 2021
28 de abril de 2021
Então, Letícia criança.
Os nossos sonhos nesses anos todos não vão mudar muito. Talvez eles, apesar de tudo, tenham ganhado um pouco mais de forma. Tu vai viver mais experiências do que imagina, ainda que na superfície isso não pareça verdade. E, apesar das dúvidas, da constante sensação de que não sabemos o que fazer, tu vai ao mesmo tempo ter cada vez mais certeza, até com um outro nome.
Tu vai perder gente, e vai perder a si mesma pelo caminho, mas é justamente isso que vai fazer com que tu te conheça cada vez melhor, porque é muito melhor estar de olhos abertos e nunca é tarde demais. Tu vai sentir mais medo do que nunca, e ainda assim vai tentar algo. De novo, de novo e de novo. Vão tentar te dizer o que é ser mulher, o que fazer da tua vida, que o que tu faz de mais bonito não vale a importância que tu dá. Tu vai te cobrar tanto, tanto, tanto… Tu vai aprender que não vale a energia.
Vai ter muita coisa que tu não vai saber, mas vai encontrar a quem pedir conselhos. Vai querer cada vez mais aquilo que tu sabe ser o teu desejo mais verdadeiro. Vai achar vez ou outra que o teu tempo tá se esgotando, até aprender que tudo tem sua hora contanto que se vá atrás. E, principalmente, que o tempo tá na tua mão até o teu último suspiro - assim como que tu mesma vai determinar o que fazer desse tempo.
Vai ser quando tu mais se sentir fracassada que tu vai te lembrar de se agarrar ao que tu conquistou sozinha, que não te foi dado de bandeja. Vai aprender a valorizar cada passo, cada pessoa nova, mesmo com a ansiedade. A recorrer às pessoas certas. A se respeitar, a se amar e se valorizar, uma e outra vez… Depois de entender que no fundo se odeia. E vai aprender o custo das coisas. Da perda, da disciplina e do amor.
Vai escrever livros no impulso mais acertado da tua vida. Vai fazer amizades novas que vão transformar tua poesia e tua visão das coisas. Gente que vai te fazer acreditar mais. Que vai te abrir de dentro para fora e te fazer contar a mesma história de um jeito muito mais bonito e maduro. Gente que vai te abrir caminhos. Gente que vai querer te oferecer o que tu mais dedica aos outros.
Gente que vai te fazer perceber que os nossos sonhos no fim das contas nem são tão grandes, mas grandes pra nós. Que não são nada menos do que o que todo mundo merece, e é isso que importa. Que, assim como fazemos muito de tão pouco, nem precisamos de tanto assim… Contanto que seja nosso; um presente, uma oportunidade. Ainda que demore, não é impossível a menos que tu diga que seja.
- exercício de escrita proposto pela Maria Vitória do blog A Estranhamente
terça-feira, 27 de abril de 2021
Paramour
segunda-feira, 26 de abril de 2021
Em camadas
domingo, 25 de abril de 2021
Da proximidade
sábado, 24 de abril de 2021
Tábua de salvação
sexta-feira, 23 de abril de 2021
Loba crisálida
quinta-feira, 22 de abril de 2021
Sincronia
segunda-feira, 19 de abril de 2021
Decisões
sábado, 17 de abril de 2021
Premonição
segunda-feira, 12 de abril de 2021
Autobiography
domingo, 11 de abril de 2021
Aproppriation
sábado, 10 de abril de 2021
Meus pecados como escritora
Ainda que eu deteste a definição de pecado, usá-la-ei pelo bem do texto. Sendo assim, que atire o primeiro lápis mordido quem esteja limpo como escritor de algum destes.
- a GULA de morder ponta de lápis e ponta de caneta; a GULA de querer escrever todo tipo de coisa de uma vez só.
- a LUXÚRIA pela vida aparentemente perfeita e rara de quem vive apenas da palavra literária, sem viver da escrita por outros meios.
- a INVEJA do estilo de escrita lindíssimo da pessoa do lado e/ou por ter chegado antes na posição que se quer alcançar.
- a PREGUIÇA de fazer aquele post pra alimentar o blog ou rede social; a PREGUIÇA de trabalhar naquela história nem que seja pra desenvolver o personagem; a PREGUIÇA de desenvolver aquela ideia e/ou de escrever no diário para não perder o hábito.
- a IRA pelas coisas não estarem saindo como se quer, sendo que a culpada é o pecado descrito logo acima e a falta de paciência.
- a SOBERBA de se achar com uma escrita tão boa que fazer cursos, nem que seja os de escrita criativa, são perda de tempo de alguma forma.
- a AVAREZA de não dar crédito a si mesmo pela evolução; a AVAREZA de não querer gastar com cursos ou não aproveitá-los, mesmo os gratuitos.
Já cometeu algum desses? Pode se confessar comigo.
09/04/2021
sexta-feira, 9 de abril de 2021
Servidão
quinta-feira, 8 de abril de 2021
Waterfalls
quarta-feira, 7 de abril de 2021
Efeito borboleta
terça-feira, 6 de abril de 2021
Motivos
Me diz, minha flor.
Por que foi que eu fiz aquilo? Por que foi que eu atravessei céus inteiros e fui parar na beira duma água que nunca vi? Por que foi que eu abanei a cabeça e sentei perto dum fogo que tuas mãos fizeram e deixaram aceso, vendo o pôr-do-sol, a lua e cada pontinho que se atreve a brilhar no escuro?
Por que foi que me embrenhei no mato ao teu lado só pra voltar pro silêncio da falta de televisão e finalmente ler, num sofá alugado, o calhamaço com letra pequena emprestado da minha mãe que há anos não termino? Por que é que as canções começaram a fazer sentido de novo?
Por que foi que te convidei dia após dia para passar as horas nos meus braços; o máximo possível da vida vivida e resolvida no calor da cama? Por que diabos fizemos amor como se cada vez fosse a última, e minha pele quis que tu dormisses contra ela e tu fizeste das minhas tolices fantasiosas as tuas?
Tomara que não tenha sido só porque não te incluis entre aqueles que se atrevem a pensar que são meus donos, dando pitacos sobre a minha vida e o meu corpo. Ou só pela atenção e pelo prazer. Tomara que seja por paixão… Por amor.
Diz pra mim que foi por amor.
domingo, 4 de abril de 2021
It's the little things
sábado, 3 de abril de 2021
Flor de calçada
O que já me tornei me assusta porque não sei se serve de alguma coisa e é por isso que sinto enjoo. Enjoo pra mim é dor de estômago, fígado bichado ou excesso de dor. Quem dera que fosse dor de amor.
O que foi que me tornei mesmo? Será que ainda estou fugindo? Será mesmo que adianta querer o que quero? Será que tem sentido saber da verdade?
Eu quero ir embora daqui. Pelo menos desta casa e desta vida. Ou talvez a resposta nem esteja aqui onde nasci, mas para onde eu iria? Que outro lugar nessas calçadas vazias e esquecidas por deus pode abrigar o que se faz de grande, mas no fundo é pequeno?
Será que adianta não querer repetir padrões quando eles ainda me prendem aqui? Acho que na verdade é de mim que sinto asco. De mim e do meu dom para obedecer. De mim e da minha preguiça. De mim e da minha indecisão que parece que nunca acaba, mas que sempre acaba em tinta.
sexta-feira, 2 de abril de 2021
Comédia da vida escancarada
As batatas que assei ficaram duras e quase quebraram de novo o dente que quase arranquei na semana passada. Eu nunca tomo jeito mesmo, parece que nunca aprendo. Perco o tempo do forno, mordo do lado errado. Logo eu, que amo batata. Mais fácil ficar desdentada e fazer purê.
O Lucca veio aqui em casa hoje e me pediu dois adesivos. Custou muito pra eu lembrar que ainda tinha aquele caderno velho da faculdade que lá pela metade tem o diário da minha descoberta da depressão. Ele não especificou o tipo de adesivo então vai de praia mesmo.
Agora há pouco choveu granizo e quebrou uma das janelas da vizinha que, tentando fechar o basculante, cortou a mão. Tomou remédio e quando liguei pra ela, falou toda grogue que tinha certeza que o Michael Jackson ainda era vivo. Também me perguntou se a dor era real. Boa pergunta, D. Damiana. Com remédio não se discute.
Foi um dia insano. Vou tomar um banho e ler o livro da Ana Cláudia pra ver se rio um pouco da desgraça alheia. Coisa boa ver uns palavrão de vez em quando. Gente caretona, viu? Ninguém diz o que pensa.
quinta-feira, 1 de abril de 2021
New old lovers
quarta-feira, 31 de março de 2021
Sincericídio
Respiração acelerada, passos apressados. A bolsa escorregando pelo ombro, por pouco não derruba tudo. Sempre foi um desastre, esquecendo o zíper aberto e a aba levantada, largada de qualquer jeito nas cadeiras. Hoje não. E mesmo assim…
Estação lotada, um frio do cão, gente se esbarrando mesmo sem querer. Esperava que não tentassem puxar a alça da bolsa porque não queria ter que usá-la para bater em alguém. Ainda que pesasse, aquele peso estava ali para tudo menos manter posição de defesa.
Não queria pensar no que carregava como um fardo, por mais que às vezes parecesse tão fácil de se quebrar. Não importa o que dissessem, aquilo estava sempre pronto para ser usado, para ser compartilhado, sem medo, no seu tempo, apesar dos riscos.
Sentou no banco da estação assim que encontrou um espaço, com a bolsa no colo e as mãos sentindo o calor que vinha dali através do tecido. Olhou para frente e achou ter visto um vulto do outro lado dos trilhos. Percebeu que a hora estava chegando e sorriu para consigo. Abriu o zíper da bolsa e enfiou o punho dentro dela num gesto tão delicado quanto decidido enquanto caminhava em direção ao trilho.
Contou até dez sem desviar os olhos e lentamente foi retirando a mão cheia, mas firme, apesar da pegada estranha, de dentro da bolsa… E ouviu o grito chocado de quem notou o que pulsava frenético entre os dedos, quase como se quisesse saltar e ir embora por vontade própria. E quem disse que não queria?
Alguns desmaiaram, outros fugiram, outros ameaçaram chamar a polícia. Mas tudo o que fez foi abanar a cabeça e afirmar com serenidade que aquele bem era seu e que podia fazer com ele o que quisesse. Que nada no ato era novidade; a única diferença era a frieza do lugar, o idioma diferente. Alguns dos que ouviram as palavras se perguntavam o que aconteceria e pararam para observar.
Mais por medo da própria pontaria do que do ato em si, aproximou-se com cuidado da beirada, mas não o bastante para pensarem que estava bancando Anna Kariênina. Apreciou por mais um momento o peso do que estava em sua palma e se pegou numa espécie de transe que só foi quebrado por ter visto o vulto outra vez.
Lutou contra o espasmo do próprio punho, agachou-se e rolou o que segurava pelos trilhos com os olhos apertados… Bem na hora em que o trem passou e parou, fazendo seus muitos barulhos que induziam aos susto e ao corpo encolhido. Podia ter dado tudo errado.
Depois da eternidade que encheu os vagões e que o levou embora, quem ficou achou tudo aquilo loucura maior ainda depois que ouviu uma risada histérica misturada com choro de um lado, e um som parecido com ronronar do outro, vindo de quem agarrava o que foi jogado com as duas mãos - como um gato faz com novelos de lã. Empoeirado pelo caminho percorrido, mas intacto e que arrancou um suspiro de alívio.
“É teu agora, bichano. Fica com ele. Mas não é brinquedo, tá?”
“Eu sei, amor. Valeu esperar pra juntar esse coração com o meu.”
30/03/2021
- exercício de escrita proposto pela Maria Vitória do blog A Estranhamente
terça-feira, 30 de março de 2021
O basta há muito já veio
Não importa o que chegasse perto da casa. Não importava quem saísse. Ele fazia barulho, ele gritava, esperneava, atormentava, sem ter noção da própria voz ou da própria força. Ele se assustava com o que nem tinha a ver com ele e pobre de quem ouvia. Dava vontade de mandá-lo embora. Dava vontade de questionar por que ele veio pra cá.
Ele era grosseiro. Se estourava fácil, dizia coisas sem sentido, achava que podia dizer o que passasse pela cabeça. Não me conhecia de verdade e eu estava há muito já cansada de tentar. Só queria que ele parasse, que não falasse comigo, que parasse de achar que o que é só meu também é dele pra dar pitaco. Que ele parasse de achar que manda.
Não tem tato. Não tem noção das consequências do que diz, que mesmo as pequenas coisas ficam e machucam. Acho que foi assim que aprendi a ser cruel. No fundo quer ajudar, mas a verdade é que só atrapalha, porque quer tomar meu lugar fazendo tudo e tudo do próprio jeito. Não sabe ensinar, não sabe dar espaço, não sabe quando parar de se envolver. Dane-se quem esteja ouvindo - despeja ordens e põe a mão no que não é seu. E quem não faz é mal-agradecido e burro.
Só o que eu quero é que pare. Só o que eu quero é ir embora.
segunda-feira, 29 de março de 2021
Vida de segunda
Mais uma segunda. Na segunda eu tento ter disciplina. Na segunda eu tento ser adulta, ainda que digam que eu ajo como uma criança, nem que seja só um pouquinho.
Nem que seja pra gastar os dedos mandando emails que provavelmente não serão respondidos. Nem que seja só pra receber um não. Nem que seja pra tentar construir um futuro onde, olhando lá pra fora, parece não haver nenhum.
Gastando os dedos com variações das mesmas palavras, quando eles poderiam estar fazendo carinho no inesperado que veio pra mim. No que quer o que quer mesmo de longe, mesmo com a loucura, mesmo com o medo, mesmo com o contexto insano.
Na segunda eu levanto e tento de novo. Quero pelo menos um fim de semana. Dois dias e meio pra lembrar das histórias largadas, das profundidades necessárias, de que existe mais nesse mundo, do formato da lua e das estrelas do céu, nem que seja pela voz do inesperado.
29/03/2021
- exercício de escrita criativa proposto pela Maria Vitória do blog A Estranhamente
sábado, 27 de março de 2021
Projections
quarta-feira, 24 de março de 2021
Faun's labyrinth
segunda-feira, 22 de março de 2021
A pelican's wound
sábado, 20 de março de 2021
Of the sublime
sexta-feira, 19 de março de 2021
Homecoming
quinta-feira, 18 de março de 2021
Work anew
segunda-feira, 8 de março de 2021
08/03/2021
terça-feira, 23 de fevereiro de 2021
Deprimida e poeta
Escrevo desde que consigo me lembrar e desde antes de entender o que estava fazendo ou o que eu dizia. Era e é de certa forma automático colocar no papel o que me passasse pela cabeça sempre que houvesse a oportunidade… E isso em parte forjou quem eu sou hoje.
Isso não mudou quando desenvolvi ansiedade e depressão. Muito pelo contrário, só se intensificou. Foi quando questionei absolutamente tudo e enfrentei uma das piores épocas da minha vida que eu me agarrei a tudo o que me restava e hoje percebo ser o que tenho de mais valioso.
Por me sentir sozinha, eu escrevia. Por me sentir um fardo e um fracasso, eu escrevia. Ainda que estivesse exausta, eu escrevia. Mesmo tendo largado tudo e estivesse estudando para um vestibular que não fiz, eu escrevia. Preferia escrever a fazer qualquer outra coisa, na verdade.
Escrevia para me ocupar. Escrevia porque não sabia que tinha tanto a dizer. Escrevia para entender o que acontecia comigo. Vi minha poesia mudar, ficar curta, grossa, perder o enfeite, ficar calculada e ao mesmo tempo sem rumo. Aprendi sobre ser brutalmente honesta. E é por isso que ainda estou aqui.
domingo, 14 de fevereiro de 2021
Feito para (a)mar
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Fontes de inspiração
Uma amiga que tive o gosto de fazer há alguns anos e que influenciou muitos dos riscos que passei a tomar como poeta costuma dizer que a inspiração está dentro do poeta… E concordo com ela. Acredito que isso vale para independentemente da forma de expressão.
As coisas acontecem de acordo com intenção, método, tipo de conteúdo que se consome e, principalmente, do olhar que se tem sobre o mundo. Afinal de contas, a obra final vem de nós, não importa o quanto nos distanciemos dela a nível pessoal.
Acredito que a minha obra seja fruto da minha vontade de deixar algo para trás. E, dentro disso, das minhas memórias, experiências, contato com outras pessoas, o observar daquelas que estão à minha volta e escolhas literárias, musicais e no cinema, que se expandem gradualmente e deixam seu rastro.
Quanto mais velha fico, mais conscientemente busco conteúdo que vá além da superfície, que me faça pensar e que tenha honestidade por trás. Que tenha uma história para contar e que me induza a refletir sobre a minha a partir do entendimento da perspectiva do outro.
Talvez a verdade seja que, como costureira de palavras e amante dos detalhes, eu busque as histórias por trás de tudo. A beleza por trás da feiura e a verdade debaixo da bravata. O que é e poderia ter sido a partir da possibilidade de mudança onde ela se faz presente.
12/02/2021
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021
Próxima aventura: empreendedora
Então, gente... Sou MEI agora!
Faz um tempo que estou para contar que na finaleira do ano passado abri meu CNPJ como redatora, desde que a fantástica Maria Vitória me mostrou que era possível viver de escrita e se tornou alguém que quero ser quando crescer.
Apesar de todas as minhas inseguranças, é melhor fazer trabalho de formiguinha do que esperar que as coisas caiam do céu. É por isso que venho compartilhando minha história por aqui e dando um passo de cada vez.
A verdade é que eu fugi do meu destino por tempo demais, e esse destino é escrever. Quem liga que não seja por literatura? Lidar com palavras é o que sei fazer de melhor, ainda mais quando se trata das que vem de mim. Se elas podem ajudar alguém e me dar sustento, é o que pretendo fazer.
Independentemente do que ainda me falta, eu não vou esperar estar “pronta” para abraçar as oportunidades... Ganhar experiência e habilidades e criar hábitos ao longo do caminho parece ser a coisa certa para alguém como eu, do contrário a hora da verdade nunca chega.
Então acho que esse texto sou eu “botando minha cara no sol”, como a Maria costuma dizer. Dizendo quem eu sou e a essência do que posso fazer. No próximo a gente vê quanto ser eu há de custar... Por ora, me desejem sabedoria.
08/02/2021
08/12/2024
O excesso de medo não nos faz mais sábios. Ele nos afasta daquilo que é para ser nosso e que, no fundo, sabemos que queremos
-
Uma coisa que com o tempo percebi ser muito peculiar é a de que, no contexto em que vivo, existe muito contato físico. Como ainda preciso de...
-
Não precisa se explicar, só não cala essa carícia no ar, queimadura doce de bala... Deixemos para depois os erros e acertos dos heróis...
-
Olá, meu anjo. Que saudade… Um dia, quero perceber que o silêncio é o bastante para nós. Talvez já seja, não sei. Mas quanto isso, a gente...