Então, Letícia criança.
Os nossos sonhos nesses anos todos não vão mudar muito. Talvez eles, apesar de tudo, tenham ganhado um pouco mais de forma. Tu vai viver mais experiências do que imagina, ainda que na superfície isso não pareça verdade. E, apesar das dúvidas, da constante sensação de que não sabemos o que fazer, tu vai ao mesmo tempo ter cada vez mais certeza, até com um outro nome.
Tu vai perder gente, e vai perder a si mesma pelo caminho, mas é justamente isso que vai fazer com que tu te conheça cada vez melhor, porque é muito melhor estar de olhos abertos e nunca é tarde demais. Tu vai sentir mais medo do que nunca, e ainda assim vai tentar algo. De novo, de novo e de novo. Vão tentar te dizer o que é ser mulher, o que fazer da tua vida, que o que tu faz de mais bonito não vale a importância que tu dá. Tu vai te cobrar tanto, tanto, tanto… Tu vai aprender que não vale a energia.
Vai ter muita coisa que tu não vai saber, mas vai encontrar a quem pedir conselhos. Vai querer cada vez mais aquilo que tu sabe ser o teu desejo mais verdadeiro. Vai achar vez ou outra que o teu tempo tá se esgotando, até aprender que tudo tem sua hora contanto que se vá atrás. E, principalmente, que o tempo tá na tua mão até o teu último suspiro - assim como que tu mesma vai determinar o que fazer desse tempo.
Vai ser quando tu mais se sentir fracassada que tu vai te lembrar de se agarrar ao que tu conquistou sozinha, que não te foi dado de bandeja. Vai aprender a valorizar cada passo, cada pessoa nova, mesmo com a ansiedade. A recorrer às pessoas certas. A se respeitar, a se amar e se valorizar, uma e outra vez… Depois de entender que no fundo se odeia. E vai aprender o custo das coisas. Da perda, da disciplina e do amor.
Vai escrever livros no impulso mais acertado da tua vida. Vai fazer amizades novas que vão transformar tua poesia e tua visão das coisas. Gente que vai te fazer acreditar mais. Que vai te abrir de dentro para fora e te fazer contar a mesma história de um jeito muito mais bonito e maduro. Gente que vai te abrir caminhos. Gente que vai querer te oferecer o que tu mais dedica aos outros.
Gente que vai te fazer perceber que os nossos sonhos no fim das contas nem são tão grandes, mas grandes pra nós. Que não são nada menos do que o que todo mundo merece, e é isso que importa. Que, assim como fazemos muito de tão pouco, nem precisamos de tanto assim… Contanto que seja nosso; um presente, uma oportunidade. Ainda que demore, não é impossível a menos que tu diga que seja.
- exercício de escrita proposto pela Maria Vitória do blog A Estranhamente
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