segunda-feira, 10 de outubro de 2016

François e Lilie

Lilie quis caminhar, tomar um ar.

François a acompanha; iria com ela a qualquer lugar.

Seu coração tolo a ama tanto que dá a sua postura e gestos a poesia que ainda lhe pertence, mas que ele diz não mais escrever pois a musa a seu lado é tudo o que hoje lhe basta.

Ele é tão jovem… Tudo parece durar para sempre.

Seu amor por aquela moça, o dela por ele e aquela caminhada de mãos nos bolsos e silêncio em que ele faz um gracejo e abre um sorriso para mostrá-la seu contentamento por aquele tipo de momento acontecer de novo e aparentemente ser como das outras vezes.

François é poeta, ele sente…

Ele “aperta-sem-apertar” a mão da moça.

Não exatamente a segura, mas a toma pelos dedos… Os dedos bonitinhos que “são iguais aos dele”.

A mão dela aberta em diagonal sob a sua, e, no entanto, inerte.

François ama tudo o que eles conseguem se dizer sem nem sequer abrir a boca. Mas Lilie agora está perto e ao mesmo tempo distante.

Ele quer o contato, mas mal se atreve a tocá-la.

Ela não exatamente responde ao toque; rapidamente afasta a mão para baixo.

A dele desiste. Uma eternidade em dois segundos.

Lilie vai embora junto com a guerra; para ele soa simples assim.

A mesma guerra civil que a uniu ao tolo François.

A mesma guerra que o fez acreditar que ela o quereria por toda a vida.

Um jovem poeta com uns trocados no bolso, a alma desnuda e uma cama de hotel não eram o bastante.

“E eu?”

Pesadelos também se realizam.

- texto inspirado em "Les Amants Reguilérs" de Phillipe Garrel.

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