quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Ciclo do desabrochar II

A verdade é que com o patriarcado e a masculinidade tóxica, muita coisa se perdeu. Ainda preciso ler mais sobre isso, livros inteiros cujos trechos tenho guardados, mas até onde sei é justamente essa perda e essa contaminação que faz com que a selvageria na mulher seja vista de uma perspectiva necessariamente negativa e estereotipada, assim como a masculinidade em si de muitas formas, mas isso não precisa ser visto como uma resposta pronta, porque cada pessoa é tão única e é tão fácil se perder de si...
É isso que faz com que tudo o que foge do padrão tanto na mulher como no homem seja relativizado, fetichizado, ignorado e/ou rechaçado. O ocupar os espaços, seguir as nossas vocações, o dizer o que pensamos, fazer e ter e ser o que somos e queremos ser, com toda a sua beleza e crueza e independentemente do que digam. A pessoa, e principalmente a mulher, com as suas razões, com as suas maneiras, com a sua raiva e desejo é vista como necessariamente monstruosa, insaciável, incontrolável, repugnante e que precisa ser controlada e/ou servir a propósitos específicos que mais têm a ver com os outros do que com ela mesma. E é mais doloroso ainda ouvir isso de outra mulher.
Mas a alma que lembra que é selvagem é a que se aceita o máximo que pode, que se carrega com naturalidade e nobreza em todas as suas facetas. Que volta para o início e ilha para o cerne sempre que necessário. Que é e faz aquilo que é necessário para o próprio bem e não caminha apenas sob águas rasas. Que sabe sair da zona de conforto para propiciar a própria evolução, mas que também sabe reconhecer seu verdadeiro lar. Que respeita a natureza do mundo que é e do mundo onde vive. A que, com a mesma mão, mata e traz à tona o que é preciso no seu devido tempo e, no entanto, não deixa de se mover.

19/08/2020

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