Com o passar do tempo percebi que nenhuma pessoa, ou talvez muito poucas "esperam" que eu escreva sobre certas coisas e da maneira livre como o faço. E eu gosto disso.
É até gostoso ver a cara de tacho delas ao me perceberem abordando tais assuntos com tamanha naturalidade e até propriedade, apesar dos tabus colocados em torno de tantos deles, mesmo que velados.
Talvez por conta da minha deficiência em si, ou do meu jeito mais tímido, ou das posições claramente mais tradicionais, retraídas e até preconceituosas da minha família e de muitas pessoas à minha volta e como isso de certa forma ainda se reflete na pessoa que eu sou.
Seja porque o mundo patriarcal seja mesmo reprimido e puritano, encarando tantas facetas da experiência de viver como um ser humano em plenitude como uma coisa não-natural ou mesmo suja e incorreta.
Tenho minhas muitas dúvidas sobre o sentido de sermos como somos e estarmos todos aqui. Mas talvez a bênção da nossa espécie seja cada vez mais descobrirmos o que podemos ser e fazer e ter consciência mesmo dos nossos momentos irracionais.
Escrevo sobre tudo isso sempre que me dá vontade não só porque vivo apesar de tudo num país livre, mas porque não há motivo para que eu me esconda deles. Merecem ser discutidos por quem for como melhor lhes aprouver.
Portanto, não se espante, pois independentemente dos pudores que cada um tiver, sou de carne e osso como todo mundo e tomo partido daquilo que sei fazer para expressar-me tanto direta quanto indiretamente sobre isso. Seja por me colocar no lugar de outra pessoa naquele contexto, ou agregando aquela situação como minha ou como poderia ser e é para mim.
Libertemos o animal que vive dentro de nós. Como diz a canção, "vamos nos permitir"...
21/11/2017
Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
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