segunda-feira, 21 de agosto de 2017

XVI

Olá, meu querido!

Se fôssemos personagens de ficção, como nos enxergariam? Como teríamos sido escritos? Será que os outros leriam em nossos olhos e gestos o mesmo que vemos quando estamos entre nós? Será que veriam o fio de ouro que nos une mesmo a metros ou quilômetros de distância e que se enrosca em nossos dedos quando estamos bem perto?

Será que enxergariam assim como eu e tu a mesma fronteira que existe por debaixo da intensidade sincera de cada palavra que digo e escrevo, por mais ambígua que seja, justamente por eu não saber e talvez não querer me expressar de outra maneira, e isso não mais nos assustar, e eu ver que tu amas mais essa parte de mim? Por esse fogo que chamusca tudo o que toco e que tu não queres que eu perca ou esqueça?

Será que notariam que geralmente com o pôr do sol e a chegada do escuro da noite os sons de fora começam a silenciar, mais facilmente nossas almas se acendem e passamos a nos enxergar melhor, justamente quando devemos nos separar em corpos de novo e deixar reticências para trás (embora eu não exatamente me queixe delas)?

Será que eles saberiam sem eu precisar dizer que eu me encolho nas noites frias de solidão tentando reter a memória muscular de ser Pequena e caber nos teus braços, onde nada mais importa, seja por medo meu ou simples saudade e hábito que se criou, e de reter-te nos meus do melhor modo possível quando tu és o perdido na selva da vida e vens à minha procura?

Será que notariam o quanto amo a confiança que cada vez mais cresce entre nós? Ou o quão me faz feliz vencer o medo inútil de olhar nos teus olhos, sendo que há muito entraste em meu coração? Ver teu carinho, teu amor por mim dentro deles, que me deixa às vezes sem ter o que dizer, sem saber como reagir direito, a não ser sustentá-lo, sorrir e tomá-lo para mim, por ser mais meu do que muito do que me pertence?

Será que isso importaria? Ou será que importaria mais, ou menos, do que tudo isso ser exata e simplesmente assim, e real, por mais que às vezes me pareça um sonho e seja um presente que não quero negligenciar ou dar como certo?

Com amor e saudade,

Tu sabes de quem.

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