Nascida em beira de rio
De frente a calor e frio
Em um fardo que ainda pesa
Havendo de se fazer mulher
E até hoje ter de se provar
Que o pampa um dia fez brotar
Flor que no mapa não quer se perder.
Ana, a do Uruguai
Que entende da ânsia
De viver na distância
Das outras crias de seu pai
E faz do atravessar uma ponte
O que consegue de mais perto
De uma irmã de peito aberto
A dividir o mesmo horizonte.
Cujo colo é mais minha casa
Do que o teto sobre minha cabeça
Mesmo que o mundo faça com que pareça
Que não há mais lugar sob sua asa
E mesmo tendo de quem sabe deixá-la
Sei que merece e precisa de muito mais,
De chances para que vejam ser capaz
De ir além do que seu passado nos fala.
E quem sabe um dia eu volte
Só para ver que a moça da fronteira
Ergueu-se em égua caborteira
Escrevendo para si nova sorte
E me receba, chegada a minha hora
Na realeza de uma saudade
Conservada em lembrança e lealdade
De quem a viu por dentro e por fora.
29/05/2017
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