Mesmo com boas intenções, as pessoas podem dizer que não existe valor nos nossos sonhos, que eles nunca fazem sentido; seja de forma mais óbvia ou disfarçada. Elas tentam dizer que a maneira deles de viver é a única que dá certo e acabam nos moldando em algo que retrata mais aquilo que esperam de nós do que respeito absoluto pelos nossos interesses e habilidades. Tentam nos colocar em rótulos que não condizem com nossas ambições, principalmente quando tais objetivos ultrapassam a rotulação - independentemente dos sacrifícios que façamos por eles. Não nos dão espaço de tentar e falhar de modo geral. E isso nos faz perder a perspectiva em quem somos e no amanhã... Mas o futuro se faz quando a juventude não desiste do seu presente. É primeiramente o sonho e o trabalho que nos levam onde queremos, bem como o orgulho de onde viemos.
Essa juventude vai crescendo e descobrindo que a vida adulta não é fácil. Que o mundo lá fora exige muito de nós, muitas vezes nos cobra por atitudes e mentalidades que não podemos dar ainda. Somos obrigados a olhar para as tentações e perigos e a admitir que nossas vidas não são a perfeição que gostamos de demonstrar ou que pensamos que existe por causa das nossas barreiras psicológicas e físicas. Que não somos invencíveis, que sentimos medo, erramos para conosco mesmos e para com os outros e que muito pouco está realmente no nosso controle. Porém nos resta descobrir o que está; onde podemos endireitar as arestas e começar a crescer de verdade tanto como indivíduos quanto seres pertencentes a um coletivo com certas diferenças e ao mesmo tempo com problemas similares. Que devemos ser gratos pelas oportunidades e orgulhosos das tentativas de construirmos quem somos.
Vamos nos conhecendo, interagindo com o que está a nossa volta e, para tentar fazer com que essas interações funcionem, escolhemos (ou não exatamente) demonstrar apenas aquilo que consideramos a nossa melhor faceta, o que a certo ponto é normal e um tanto automático. O problema começa quando percebemos que estamos escondendo partes de nós dessas pessoas que amamos porque olhar para tais aspectos nos dá raiva e assusta muito. O que nos induz a questionar a verdade e solidez da nossa personalidade e das nossas relações; por mais que os sentimentos existam, tais como amor e carinho, eles não bastam, muito menos quando não somos abertos e genuínos com os outros. Pode nos fazer sentir cada vez menos dignos de afeto e aumentar a sensação de abandono, solidão e prisão... Até o momento em que nos perdoamos e aprendemos aos poucos a amar nós mesmos tanto quanto ao próximo. A lembrar da importância da entrega àquilo que amamos, ainda que isso traga responsabilidades das quais não nos achamos dignos, e das nossas qualidades. Que mais do que depender do outro para nos salvarmos da escuridão, precisamos ajudar a nós mesmos.
Com isso em mente, se inicia a saga para definir quem somos, enquanto levamos todas os nossos lados em conta. Aqueles determinados pelo ambiente e principalmente por nossas escolhas/ambições e suas consequências. Porque para que o processo de amar e pertencer a si mesmo e ao mundo se solidifique, precisamos nos mostrar, abraçar e ser honestos. Olhar para trás com carinho e gratidão para com aqueles que caminham junto conosco, nos apoiam e orientam, pensar sempre e sempre em melhorar como pessoas e naquilo que fazemos. Ter orgulho das nossas habilidades e dos nossos esforços para chegar onde estamos e da sinceridade dos nossos objetivos. Não esquecer que certas coisas dizem mais sobre os outros do que sobre nós, mesmo que às vezes ainda machuquem, e da noção de respeito pelo outro, por si e pelo que se faz; bem como da pureza dentro de nós mesmos diante do que apavora. Do conjunto da obra e dos pequenos detalhes. Da nossa força e da força das nossas palavras. Que certas coisas assustam menos quando temos gente boa do nosso lado. Que segundas chances valem a pena de vez em quando.
21/04/2020
Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
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Não precisa se explicar, só não cala essa carícia no ar, queimadura doce de bala... Deixemos para depois os erros e acertos dos heróis...
O sonho é a senha.
ResponderExcluirGK
É bonito como cada parágrafo desses se refere a uma coisa BEM específica tanto em termos de assunto como de onde eu tirei o assunto, mas ao mesmo tempo bastante ampla...
ExcluirDe fato! Bjs!
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