Claro que cada um tem a sua sorte e ninguém pede para ser ou nascer do jeito que é; também existe muito no qual tentamos pensar no lugar daquilo que não podemos fazer - pelo menos em experiência e na maior parte do que ouço falar.
Detesto quando usam comigo ou outra pessoa a palavra superação... Como se a gente não fosse de carne e não quisesse viver - às vezes sentindo nojo de si mesmo e do mundo, sim - e fôssemos heróis que tivessem que mostrar para as pessoas que tudo é possível.
E o engraçado é que essa palavra e outras como "exemplo" não são usadas para descrever aqueles que não lidam bem com suas limitações; os casos em que infelizmente a pessoa pensa em morrer porque não enxerga perspectivas de vida normal e coisa do tipo... O que ouso dizer que ocorre justamente muito por causa dos olhares do mundo.
É ridículo que, devido às atitudes mesquinhas de alguns que, por exemplo, ocupam as vagas reservadas na rua e em lugares públicos sem precisar das mesmas, e que compram adesivos sinalizadores quando não possuem deficiências nem são idosos (nem disso não duvido mais), eu seja obrigada a carregar comigo um pedaço de papel para comprovar que sou deficiente!
Isso não deveria ser bandeira que tivéssemos que desfraldar a cada vez para termos o mínimo de respeito; somos tão mais que isso. Imagine quando eu for mais velha; será que vou precisar de cartão de idoso também?
Não posso nem imaginar o quão desconfortável seja para quem tem uma deficiência menos aparente que a minha.
Ninguém deveria ter que passar por isso, mas já que a falta de bom senso alheia nos obriga, que assim seja. Que o preço da provação desnecessária seja o constrangimento daqueles que se atrevem apenas a olhar para o próprio umbigo e com isso tentam nos dificultar ainda mais a vida. Porque sim, deficientes e idosos vão à faculdade, restaurantes, médico, bancos e todo o resto como todo mundo. Não vivemos num mundo alternativo em que jamais queremos ou precisamos sair de casa.
A igualdade não significa a mesma medida para todo mundo, mas medidas diferentes que compensem a dificuldade de cada um; é só isso que exigimos e que se não cobrarmos minimamente, nunca um privilégio do governo ou favor; só será entendido como realmente necessário quando algo do tipo acontece em sua própria família. Não queremos a sensação de que estamos atrapalhando ou que estamos dando trabalho para os outros e sim poder viver num mundo com menos obstáculos - já bastam aqueles que o corpo nos dá.
31/08/2017
Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
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Não precisa se explicar, só não cala essa carícia no ar, queimadura doce de bala... Deixemos para depois os erros e acertos dos heróis...
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