- Sim. Como de costume ele me abraçou duas vezes; quando cheguei e quando fui embora. E outra vez foi bom. Estou feliz por tê-lo visto outra vez e sei que ele sente a mesma coisa.
- O abraço dele é como o meu?
- Claro que não! O teu não tem carinho, não de verdade.
- E, no entanto, aqui tu estás de novo, deitada comigo, encostada perto do meu coração... Este coração que tu afirmas que eu não tenho, e, no entanto, tu me deste um e o escutas...
- Não tenho escolha e sabes muito bem que esta minha falta de opção é como uma faca de fio duplo. Além do mais, de qualquer forma eu cansei de tentar fugir. Não brigues comigo, por favor, apenas me abrace.
- Claro, minha rainha. Venha, fique aqui... Mesmo depois de tê-lo visto a sensação de carência ainda segue, não é?
- Confesso que sim e tenho medo disso. Espere... Para alguém tão certo de quem é e do que é capaz, até me espanta tu estares com ciúme dele. E por que a pergunta?
- Eu, com ciúme? Nunca. Sei do meu lugar. Ele pode viver no teu coração, como tu dizes, mas não da mesma forma, não na mesma intensidade. Por isso, nem me preocupo. E pergunto porque te conheço; só isso.
- Na mesma intensidade, mas não causa o mesmo dano. Sinto paz, fico serena. Contigo não é assim; é impossível saber o que vai acontecer. Eu até gosto do imprevisível, porém não do teu.
(Longo silêncio. Longo e profundo silêncio.)
(Choro de um, silêncio do outro.)
- Por favor, não faz isso comigo! Não, eu peço! Não tire ele de mim, não tire o amor dele de mim, não me faz duvidar, não me faz questionar isso. Se eu deixar de acreditar nisso e de ter isso de alguma forma, nada mais vai me sobrar para fazer ou crer. Não tira essa paz de mim, não arranca o significado dele do meu coração! Por favor, por favor, eu nunca te pedi nada...
(Mais silêncio e soluços.)
- Não tira isso de mim... Solidão... Não destrói isso.
- Shhh, meu amor... Não chore... Calma... O que aconteceu? Venha cá, respire... Não vai acontecer nada.
- Mentiroso/a!
- Eu sou o que sou, mas isso não importa agora... Nada disso vai mudar, fique tranqüila. Venha e durma, minha mulher, minha vida, minha rainha.
- Tu... Prometes?
- Prometo.
- Eu não acredito em ti; não posso acreditar. Mas abraça-me!
- Assim, pronto, pronto... Boa noite, querida.
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