Olá, meu bem.
É muito terapêutico te escrever essas linhas, pois a disciplina de pôr palavras no papel é algo que tento exercitar sempre que possível; ainda mais na situação em que sabes que me encontro. Tentar nomear o que ainda não tem nome é a única maneira de fazer com que eu não acabe enlouquecendo pela falta de controle da minha própria mente.
Sempre tive uma escuridão muito grande dentro de mim; na verdade só percebi isso agora. Acumulei muitas coisas ruins durante a vida toda, vindas de ações, palavras, pressões sofridas, traumas, pensamentos… Mas conseguia seguir em frente, porque sempre havia algo maior adiante. Eu conseguia esquecer. Pelo menos era o que eu imaginava.
Confesso que isso é tão forte que realmente me paralisa. De vez em quando não tenho vontade de fazer nada, nem mesmo coisas que gosto. Nessas horas algo me diz para ficar deitada, imóvel, e chorar até os olhos arderem, só para ver se assim toda essa porcaria vai embora logo.
Eu sei que isso não resolve as coisas, mas as pessoas não têm noção do quanto é difícil. Nunca pensei que um dia chegaria a esse ponto. Me pego pensando em desistir, largar tudo. Não exatamente em morrer, porque talvez até da morte eu tenha medo, mas algo muito parecido com isso.
Agora tem tanta coisa acontecendo… E tudo o que eu achava que tinha conseguido superar está vindo com força total, tudo acumulado e transbordando. Sinto-me mais do que nunca frágil e insegura, alguém que perdeu todo o controle que um dia já teve sobre mente, corpo e espírito. Pensamentos horríveis me acometem durante a noite e até de dia; a mínima coisinha me assusta e sinto vontade de chorar quase o tempo todo. Aquele choro doído, do fundo mesmo, que te tira o ar.
Há alguns dias o status quo com revira-voltas e bate-boca tem me deixado nervosa a ponto de querer gritar para que todo mundo fique quieto, porque para mim já basta a minha própria psique destruída com a qual lidar. Mas ainda bem que parece que a tensão externa vai diminuir um pouco. Sei que isso soa egoísta, mas sabes melhor do que ninguém o que realmente quero dizer.
Por isso o que temos é tão incrível. Tu fazes umas perguntas certeiras, me arranca informações, me fazes dar nome aos bois. Tudo isso porque queres saber quem eu sou, e eu também quero, eu preciso saber. Tu vês em mim coisas que eu nem sei se fazem mesmo parte de mim. E isso é fantástico. Tu realmente cavocas em coisas que eu não tenho coragem nem de tocar.
A linguagem que desenvolvemos é realmente fora do comum! Quero um dia poder retribuir um pouquinho de tudo isso.
Por hoje é isso. Até amanhã, eu te amo.
Da tua irmã.
Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
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