- Fique comigo, Bianca. Você sabe que eu a desejo de todo coração e que se pudesse te ofereceria mais do que te peço. - a voz de Andrea ficou rouca e grave. - Porém, se for da vossa vontade, aceite esta maçã e poderemos ficar juntos. Se não, qualquer que seja o motivo, saiba que ainda tem meu coração enquanto eu viver; ou enquanto eu tentar viver sem a senhora.
- Eu fico, passarinho. - o soluço da princesa entregava seu coração partido. - Vamos para longe daqui, já tenho tudo de que me basta porque te amo. Vamos embora ter nossa casa e nossos filhos.
Andrea fez que não e suspirou. Tentou argumentar que não importa para onde fossem: a rainha e o rei iriam procurá-la e não sossegariam até encontrá-la e esfolá-lo vivo, não só por sua falta de sangue azul, mas também sob o pretexto de que ele havia se aproveitado da ingenuidade da princesa. E, por mais linda que fosse a ideia de vê-la radiante, grávida de um filho seu, apressar as coisas para justificar um casamento legal não funcionaria pois a criança sempre seria considerada bastarda. Provavelmente enviariam Bianca para isolamento num palacete ao qual ele nunca teria acesso e o bebê entregue para adoção, ou coisa pior. O rei nunca concederia sua mão a ele, muito menos um título nobiliárquico para facilitar suas vidas.
- Mas… nem mesmo se eu tentar falar com a minha mãe para que eu convença meu pai a aceitá-lo, ou… Para que escolha outra pessoa para herdar o trono, talvez um dos meus primos? Não tenho o melhor dos diálogos com a rainha, é verdade, mas não me custa tentar.
Andrea gesticulou com a mão que segurava a maçã, porém voltou atrás.
- Não é justo que eu te peça isso. Eu te amo, mas você é a filha que restou a eles. Não posso dar-lhes outra razão para luto. Se Vossa Alteza comer isto, não poderá voltar atrás. Não posso literalmente pedi-la para que me entregue sua vida, muito menos na flor da juventude. Ainda que eu morra por você…
Bianca pensou no que Andrea disse e percebeu a sensatez daquilo enquanto sentia-o aninhar a cabeça em seu colo. Se ele dizia que sua morte era a única maneira de terem um mínimo de paz, significava que ele a traria de volta de alguma forma. E ela viveria como o quê? Nem conseguia imaginar. Porém sabia da probabilidade de ter de casar-se com um homem que não amava, quer pela escolha daquele que parecesse menos pior, ou sendo forçada pelos pais caso insistisse em Andrea. Ambas opções lhe pareciam terríveis em diferentes graus.
Depois de um tempo, Bianca se mexeu sem intenção de se afastar dele e Andrea novamente agachou-se de frente para ela. Os olhos deles se encontraram e a expressão do rapaz era forte o bastante para que ela soubesse que com a tal maçã ele pretendia matá-la lentamente. Ainda assim, a princesa decidiu abraçar uma morte jovem, se era este o caso. Olhou para aquele cabelo bagunçado, meio molhado, o sorriso arreganhado e um tanto sujo, fundo naqueles olhos lânguidos e cansados e soube. Seria lento, doloroso, horroroso. Sanguinolento e cru, mas tão doce...
- Tenho mesmo que morrer jovem assim?
Silêncio.
- Sim, mas shhhhh… - Andrea entregou a maçã a Bianca e ela se aninhou em seus braços com o coração pesado.
Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
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