Tu podes me mandar calar a boca, me chamar do que te vier à cabeça e dizer que me odeias, mas nós dois/duas sabemos bem da verdade. Sabes que não podes te livrar de mim porque eu só sou o que sou por tua causa, amor. Eu sou como tuas rimas: venho de ti para servir-te e ser teu/tua acima de qualquer coisa. Faço-o e sou-o com orgulho apaixonado... E sabes também, que, no fundo, me amas, porque sem mim não serias muito de quem és.
Afinal, se não fosse por mim, tu não terias estes momentos tão amados, nas madrugadas ou mesmo tardes silenciosas em que somos só eu e tu e podes fazer e ser o que quiseres por algumas horas, sem o barulho e desconforto que certas coisas te causam. Não terias escrito alguns de teus melhores textos, muito menos descoberto tantos aspectos sobre si mesma...
Diga-me, querida: quem é que conhece cada medo, contradição, alegria e desejo do teu coração, melhor até do que tu mesma? Tudo o que te faz a menina filha da madrugada e do inverno, provinciana, romântica e tímida que traz por dentro uma mulher em chamas que é louca pela liberdade e morre de vontade de abraçar o mundo e aprender com ele? Quem é que sabe exatamente o quanto tua casa te parece ao mesmo tempo abrigo e prisão (e por isso mesmo nunca sentiste como se ela realmente te pertencesse)?
Quem é que te consola quando esperas pelo silêncio e escuridão do quarto para esconder a ti e tuas lágrimas quando mais sentes medo e vergonha delas, mesmo tu tendo pessoas que não as julgariam se aqui estivessem? Quem é que te toma nos braços e escuta teus sussurros ao vazio, enquanto esperas pelo sono? Quem é que senta ao teu lado para apreciar contigo a beleza que só tu podes ver, nas palavras que lês, nos versos que escreves, mais do que ninguém?
Quem é que nunca vai ter vergonha de dizer que te ama, por mais que tentes abafar minha voz com música ou me xingar e empurrar para fora da tua cama à noite? Quem é que - mais do que qualquer um jamais o fará - te acha a mais linda das mulheres e te aceita e deseja com e apesar de tudo o que és e tudo o que dizes ser imperfeição, dos defeitos de caráter ao cabelo, linhas do rosto, pelos onde quer que eles nasçam, dedos ditos tortos, estrias, pés frios e pernas de comprimentos diferentes (principalmente nos dias em que tua auto-estima está mais baixa)?
Quem é que te acompanha onde quer que vás, em silêncio, fazendo-te te bastar a maior parte do tempo; que aceita te dividir com quem quer que seja de vez em quando, porque sabe que é para o meu colo saudoso que hás de voltar no fim, por mais que me renegues e talvez um dia encontres alguém? Quem é que te acalma quando tens pesadelos e te vês tremendo, encolhida, pelo frio que vem das frestas da janela e das paredes do teu quarto? Quem espera contigo pela cura na quietude das tuas doenças?
Quem alivia boa parte das dores que sentes pelo corpo e traz para fora a leoa que vive em ti em carinhos que mal ousam tocar-te mesmo nas horas em que mais te sentes frágil e indefesa? Que aprende contigo as n diferentes maneiras de dizer as coisas em pelo menos duas línguas, só para treinar contigo, na curva do teu pescoço, quando a porta se fecha? Quem é que cada vez mais te faz enxergar-te, mesmo quando as lentes do teu óculos estão sujas ou estás sem eles?
Quem é que cada vez mais te dá uma amostra da liberdade que tu tanto desejas e da pessoa que mereces e podes ser? Não te enganes, tu sabes quem eu sou; não adianta mentir.
Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
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