Quando olho para trás hoje, percebo que a morte do meu avô foi um divisor de águas na minha vida. Não apenas por eu ter apenas nove anos à época ou porque o amava. Mas também porque tal fato abriu meus olhos para muitas circunstâncias.
A morte do meu avô, repentina como foi, me deu consciência da minha própria mortalidade. Da loucura que é ter alguém de que se gosta perto de si, e no segundo seguinte, encontrar o luto e ter de se bastar apenas com as memórias. Manter esse alguém vivo nessas lembranças e dentro de nós.
Claro que outros parentes haviam falecido ao longo da minha vida e até antes de eu nascer. Como ainda era muito jovem, a morte não me parecia nada especial, muito menos o passar do tempo. As ausências não me afetavam. Mas desta vez foi diferente; o fim de alguém tão próximo de mim me mostrou que um dia, querendo ou não, o mesmo acontecerá comigo.
Eu fui crescendo e, por mais que eu tenha deixado de realmente pensar na morte da maneira assustadora com que o fiz antes, ela passou na verdade a me intrigar.
A partir do momento em que nascemos, começamos a morrer; uma reação química de cada vez. Todos os dias nos olhamos no espelho e algo muda, algo vem e também se perde.
A perda do meu avô me fez perceber que o tempo realmente passa. De que na verdade eu nunca soube o que realmente fazer com a minha vida; que ela não é fácil e que talvez eu nem mesmo sei quem sou. Eu notei que tinha paixões, sonhos e esperanças, mas que elas não parecem ser o suficiente para me fazer sentir viva e útil.
Entendi que não tenho uma vida totalmente minha e que não sei quando vou poder ir atrás dela. Me fez querer ser alguém melhor, por mim e pelos outros. Prestei atenção em padrões e depois de anos consegui admitir a mim mesma que há anos me sinto sufocada e preciso de liberdade.
Liberdade e espaço para fazer escolhas com mais sabedoria e não desistir daquilo que desejo. Que para crescer de verdade, como o mundo cobra, preciso ter a chance de cometer erros e encarar as consequências sem me torturar, muito menos com gente que me torture por eles. Que eu consiga conviver com outras pessoas e elas me façam querer ser menos egoísta, menos cruel...
Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
sábado, 23 de janeiro de 2016
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Anne de Green Gables - resenha
Anne de Green Gables é o primeiro volume de uma série de romances de formação escritos pela autora canadense L.M. Montgomery durante o sécul...
-
Olá, meu anjo. Que saudade… Um dia, quero perceber que o silêncio é o bastante para nós. Talvez já seja, não sei. Mas quanto isso, a gente...
-
Uma coisa que com o tempo percebi ser muito peculiar é a de que, no contexto em que vivo, existe muito contato físico. Como ainda preciso de...
-
Não precisa se explicar, só não cala essa carícia no ar, queimadura doce de bala... Deixemos para depois os erros e acertos dos heróis...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pelo feedback!