Às vezes olho para minhas falhas e o quanto tem sido difícil conviver com elas e chego ao extremo de pensar se não seria melhor se o mundo fosse utópico e eu não precisasse conviver com ninguém. Assim eu não machucaria ninguém. Não me sentiria só no meio da multidão e ao mesmo tempo não me acharia tão carente e até mesmo chata. Justamente algumas das coisas que um dia achei que uma pessoa deveria mudar para as minhas conveniências.
Se eu não pretendo mudar por ninguém, por que um dia quis cobrar isso de alguém? Como sou dúbia e ridícula.
Certa vez alguém me disse que gostaria que as pessoas não tivessem família. Que nascêssemos por simples brotamento, como algumas espécies de plantas, e saíssemos a descobrir o mundo por nós mesmos. Seríamos simplesmente nós e nossas opiniões andando por este mundo gigante; que sem dúvida faria de nós o que somos. Num mundo assim, não herdaríamos modos de pensar, viver e agir de ninguém, sejam eles virtudes ou preconceitos. Eles seriam simplesmente algo que desenvolveríamos e praticaríamos com os outros membros da sociedade.
Concordo com ela. É por isso que fico imaginando quão louco deve ser ter filhos. Duas pessoas completamente diferentes tentando impor visões de vida a outro ser igualmente distinto que com o tempo decidirá o que fazer com tudo isso. O que me faz questionar se eu seria uma boa mãe…
Ninguém é uma ilha e muito menos igual aos outros. Por isso, não queria que meus aspectos ruins me incomodassem até mais que os deles, que na verdade só servem de espelho.
Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
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