Estou acostumada com cacofonia
e com não falarem minha língua,
mas para ser honesta,
eu não estava em clima de festa,
então boa parte do que acontecia
e também as pessoas que via
pareciam apenas ruídos
e vultos,
e ainda assim
para minha tristeza,
como por ti fui muito bem ensinada,
eu vi beleza,
a beleza que tu amas,
que tu verias
também,
embora me faltasse a tua própria.
Eu queria aquele raio de ouro
chispando
teu olhar,
mostrando
das botas o gasto couro
e queria naquele vento
cheiro de carne e o teu de terra, sândalo
e homem, cheio do teu cantar.
Eu te queria ali,
ao meu lado,
talvez contra uma árvore encostado,
só pra dizer do meu jeito sussurrado
o quanto tu és amado
como se só estivéssemos os dois
e te pedir,
quem sabe para depois,
que pegasses o violão
e trinasse aquela canção
em que contigo eu diria
na ênfase do refrão,
embora eu não saiba de certa harmonia,
o quão doce tu és, meu coração...
Pode parecer criancice
ou carne fraca,
mas embora nunca tenha me metido em barraca
e merecêssemos o luxo da cama,
senti inveja da grama
e da gente nela deitada
porque nela nos queria
só para que tu me contasses coisas
de fim de dia,
como segredo,
sem medo
de quem nos visse
com esse teu sorriso de infância eterna
espalmada na minha perna.
Isso sim,
meu bem,
eu digo sem exagero
que não seria estrangeiro.
04/11/2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pelo feedback!