sábado, 24 de outubro de 2020

São Paulo, 23 de outubro de 2020

Estou com o coração pesado. Pesado de um jeito estranho, por uma dor que nem é minha e ainda tive que voltar pra pegar o guarda-chuva; era dia de feira e vi uma mulher perguntando o preço de uma flor. Como se beleza genuína tivesse preço que dinheiro pudesse pagar. A meia que eu usava ficou encharcada por causa da chuva e a dor que eu não esperava sentir talvez seja minha também porque poderia ser só minha, e muito pior.

Que raio de dia. Quando voltei pra casa, tinha uma barata no quintal. Matei a barata com raiva, chorando por causa dele. Tomei banho e um barulho enorme me assustou... A porta da minha casa se abrindo com o vento como se fosse uma folha de papel. Parece ele dizendo o que me diz. De uma vez só, com toda a vontade, e eu que lide com o estrago que pode vir a fazer e com o susto que dá. Desarmada... Ou quase.

Foi por ele ou por mim que chorei? A raiva era da barata ou dele? Nem sei direito. Agora só quero poder dormir e sonhar com ele me dizendo a verdade depois dessas horas que ele usou para pensar no que quer, e eu para ir à feira, sendo que nem sou do tipo que faz isso. Talvez as coisas estejam mesmo mudando.

- exercício de escrita criativa proposto pela Maria Vitória do blog A Estranhamente

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