Mas, como mais uma entre muitxs artistas que tentam ter algum tipo de renda através daquilo que mais lhe dá prazer, algumas constatações vêm me ocorrendo e obviamente não me fazendo desistir do ramo, mas me levando a muitos questionamentos de como a classe em geral (e especialmente aqueles na mesma situação que eu) é vista. Especialmente nos tempos atuais, com o advento da internet.
Eu venho de uma cidade não muito grande, no interior do meu Estado, geograficamente bastante distante mesmo da capital Porto Alegre. Tanto assim, que nem mesmo sei se este artigo será lido. Ou seja, a geografia já não me ajuda. Quando publiquei um romance do qual muito me arrependo em 2013 e passei por alguns perrengues no processo, praticamente todos, se não todos, os livros que vendi, foram para pessoas que eram minhas conhecidas. Com certeza muito também porque o livro era físico e porque gastei dinheiro que nem era meu para fazer um evento de lançamento; que foi pago com cem por cento do lucro das razoáveis vendas daquele dia.
Quando decidi publicar meu ebook na Amazon, com toda a convicção do mundo, sinceramente pensei que as mesmas pessoas acabariam adquirindo o livro. Ainda mais por ser de poemas e eu já ter sido de certa forma cobrada a publicar algo do gênero. Mesmo sendo digital. Mesmo não sendo logo de imediato após o lançamento. Mas por enquanto, seis meses depois, nada disso aconteceu, nem por parte delas, e eu me questiono o motivo.
Falta de hábito de leitura? Falta de um evento de divulgação? Crise econômica, mesmo ele sendo muito mais barato do que o meu velho romance? Falta de livro físico? FALTA DE INTERESSE?
A possibilidade da falta de interesse fica clara para mim quando lembro que esta semana um pintor amador dos EUA, que até aquele momento havia vendido seus quadros apenas a pessoas próximas, viveu a maravilha de ter duas peças vendidas a uma jovem celebridade do outro lado do mundo, que nunca o tinha visto antes, por 400 dólares cada uma, em pessoa, porque achou justo, sendo que o mesmo rapaz poderia ter adquirido qualquer outra coisa ou mesmo comprado as obras por pena do artista (o que, conhecendo o histórico do sujeito, com certeza não foi o caso).
Não posso nem imaginar a alegria do homem. Sempre que me for possível, procurarei fazer o mesmo, seja como presente ou para minha coleção pessoal, e com a mesma intenção do rapaz, e não só por estar na mesma posição. Por experiência própria sei que muitas vezes joias que tocam fundo em nossos corações podem ser encontradas nos lugares mais inesperados. O fato de eu até agora não ter conseguido vender sequer um livro para alguém próximo a mim e que diz apoiar a minha escrita me faz sinceramente questionar se tal apoio é verdadeiro. Claro que não se trata apenas disso, mas se não fosse, não estaria à venda e não teria me dado o trabalho de fazer tudo isso quando já está tudo publicado de graça e com prazer no blog. Não importa quando nem como, queremos apoio concreto daqueles perto de nós com relação ao nosso trabalho – e isso inclui divulgação e coisas do tipo.
As pessoas não fazem ideia do quanto não ser renegado assim nos ajuda tanto na parte burocrática e prática da coisa, quanto na motivação para seguir adiante. E do quanto dispensamos tudo isso. Queremos gente que se importe conosco e com nossa arte. Que hajam menos Vincent van Goghs neste mundo, sendo reconhecidos tarde demais. Os tempos sempre foram difíceis para nós...
21/10/2018
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