Talvez a injustiça na dificuldade em amar a si mesmo como um todo tenha a ver com as facetas de nós que ficam mais aparentes dependendo do momento e de com quem estamos. É mais fácil amar e expressar as partes boas de quem somos para que elas atraiam os outros para perto de nós...
Mas a verdade é que só permanece quem olha para o resto e vê o todo. Por isso de certa forma pode-se encarar as partes boas como máscaras, mesmo que sejam sinceras. Mentiras que também são verdades - ou às vezes apenas invenção num devaneio de quem gostaríamos de ser.
E daí vem o medo de mostrar tudo e acabar sozinho; porque os outros merecem mais e melhor. Mais do que algo fingido ou pela metade, e certamente mais do que aquilo que abominamos em nós mesmos.
Talvez no fim a gente literalmente só permita que nosso desejo se realize e fique vulnerável de verdade para o próximo quando nos reconhecemos como amáveis e somos pacientes com tal vulnerabilidade - até porque mesmo com todo o trabalho para que os defeitos não sejam tão destrutivos, certas coisas nunca mudarão porque somos imperfeitos (mas não menos dignos de amor).
Talvez seja isso o que todo mundo quer dizer com "ame a si mesmo antes de amar o outro". Porque para olhar para as falhas deles, para aprender com elas e amá-las por tudo o que são, sem restrições ou inibições, precisamos fazer o mesmo conosco.
É tão injusto e triste só sermos completamente nós mesmos quando estamos sozinhos, sem ninguém olhando. Ou nas páginas dos diários, por entre as linhas e palavras honestas, porque só assim é que dá para se expressar. E tão doido perceber coisas que só nos dizem respeito e que temos que cuidar sozinhos, mas que até certo ponto são mais fáceis de enfrentar e menos doídas com as pessoas certas ao lado.
O que me faz questionar se faz sentido aprender (ou pelo menos tentar aprender) a se amar olhando para o amor alheio por nós. Que se sabe ser palpável e puro mesmo quando não viu tudo porque já nos vê como os melhores.
Talvez seja só com essa resposta que a gente consiga viver nosso potencial. Provavelmente com arrependimentos, que são muito normais, mas sem culpa; porque culpa é pior que a morte.
10 de agosto de 2018
Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
sexta-feira, 10 de agosto de 2018
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