Eu sei que já faz um tempo e que como dizem talvez não seja bom ficar remexendo no passado, mas enfim. Peguei-me pensando em como as coisas teriam sido se houvessem acontecido de outra forma. Gosto de deixar tudo esclarecido e o girar dos ponteiros ajuda nisso. Talvez o que me motivou foi o fato de que desde aquela despedida em que ouvi de ti apenas algumas palavras de forma indireta, nunca mais nos vimos porque a vida quis assim.
Provavelmente, mesmo se eu te perguntasse sobre isso hoje, conhecendo teu jeito, ou tentarias mudar de assunto ou talvez eu nem teria como saber se estás sendo sincero comigo... Claro que sei que existe mais em ti além daquela superfície debochada e até previsível (eu conseguia ver isso), mas como não quis insistir, tudo neste parágrafo é apenas uma suposição.
Se fosse diferente e tu me dissesses que era verdade, que independentemente da imaturidade de certas pessoas para com os sentimentos dos outros tu um dia me amaste, te agradeço outra e infinitas vezes a consideração que tiveste comigo diante daquilo tudo; como eu procurei ter contigo.
Se for verdade, eu repito o que disse naquela época; mesmo que hoje talvez não haja muito ou nada que possamos fazer quanto a isso. Mesmo que ele tenha feito aquilo para debochar de nós e para ter certeza de que estava livre de mim, eu não me permiti entrar no jogo para te usar e simplesmente tapar um buraco. Até foi bom, porque descobri do quê mais ele era capaz.
Foi porque eu vi uma possibilidade de me dar uma chance, pela primeira e talvez única vez em muito tempo eu amaria alguém que sentia o mesmo, me abriria para isso (feliz ou infelizmente eu me apaixono com facilidade).
Talvez eu nunca saiba o que te levou a esconder o que sentias por tanto tempo, se foi mesmo o caso, ou por que a opinião dos outros parecia tão importante para ti como fui levada pensar (o que me faz questionar se tu não tinhas vergonha de mim e do que eles pensariam de ti se estivesses comigo; seja pelo meu jeito mesmo ou até o fato de eu estar numa cadeira de rodas, o que de qualquer forma eu dispenso e acho particularmente horrível, mas espero que não).
Se tu tivesses tido coragem de enfrentar teus medos, quaisquer que tenham sido, eu teria aberto meu coração, ido atrás do que poderíamos ter oferecido um ao outro. Se tu tiveres mesmo me amado e tivesse tomado alguma atitude quanto a isso, eu teria investido em ti e honrado teu amor.
Eu teria tomado teu carinho como meu e te ofertado tudo de bom e ruim que tinha e tenho. Eu teria sido tua companheira, teria amadurecido contigo enquanto estivéssemos juntos; estava sendo sincera naqueles poemas todos que lembro-me que respeitosamente devolveste a mim com as faces coradas e pedidos de desculpa sussurrados.
Não sei se isso importa agora, mas se um dia tu me amaste, se tivesse sido diferente, a gente teria sido feliz pelo tempo que tivesse durado, pelo menos de minha parte. Tenho certeza que sim. É uma pena, não vou negar.
Sinto-me lisonjeada pelo teu amor, se um dia ele existiu. E te desejo coragem para ires atrás do que quiseres. E que possas dar a alguém que valorize, como eu teria, o que o teu medo guardou, porque por aquele rapaz na época eu já não sentia mais nada. Que não te arrependas do que sentiste e sentes, mesmo quando não dá certo. Que a natureza faça com que a fêmea do quero-quero também queira o macho que a corteja para que tudo fique bem.
Mesmo se não fui o objeto real de tua afeição, meu desejo segue o mesmo.
Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
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