Algumas coisas simplesmente mudam a ponto de se acabarem. E não há muito que, quase sempre, a gente possa fazer por elas.
É, eu acho, como uma pessoa com uma doença terminal que decide viver seus últimos momentos em casa, perto das suas coisas, daquilo que lhe é cômodo e familiar.
O que se pode fazer, no mais, é aliviar a dor quando ela vier, aproveitar o tempo que resta, tentando reter as partes boas que sobrarem e esperar que a Grande Cadela, a Magra, como dizia Erico Veríssimo, venha aprontar a última das suas sacanagens.
Acho que já me acostumei com esse tipo de morte, a das relações. De certa forma, até espero por elas, em alguns casos. O tempo vem com seu hálito de doença e infecta o que parecia imune, incólume. Mas nada escapa da mão do tempo, não é mesmo? De um jeito ou de outro tudo o tem como seu algoz final e definitivo…
O assunto se esvai, os silêncios aumentam, as diferenças maiores se sentam ao sofá também. Isso porque a Vida e o Tempo põem cada um pro seu lado. Em muitas das vezes, primeiro fisicamente, ou não, depende. Depois, o que é mais triste em ambas ocasiões, porque acontece mais devagar e que é mais palpável, as mentes e almas também se distanciam ao ponto de não haver nada além de estranheza e desconforto quando se tenta verificar se a paciente tem chance de melhora.
Claro que muitas vezes os sintomas acabam mesmo negligenciados de um lado ou outro, o que permite que a enfermidade atinja seu pico. Mas de vez em quando, por mais saudável que tenha sido, sua vida é curta e simplesmente expira.
Não posso negar que é triste. Tem coisas que não são mesmo feitas para durar para sempre. Mas nem por isso necessariamente não produzem boas memórias. São essas que prefiro guardar. Quero mesmo é me preocupar com aqueles que ainda não estão doentes e os que não estão em estado grave, para que não piorem. E também os que nasceram em ambientes contaminados. Não deixar que nossas casmurrices nos aborreçam.
Afinal, o que eles precisam e posso oferecer agora e sempre é um cobertor, uma sopa, um comprimido e um cafuné. Se não melhoram de todo, pelo menos não pioram. E até quem sabe renasçam ao receberem um sopro de ar fresco…
Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
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