Não é que eu não seja grata aos meus pais. Eu sou, e muito. Sei bem do monte de coisas que eles fizeram por mim. Posso não ser a melhor filha do mundo; não ser das mais carinhosas e muitas vezes dizer e fazer coisas bem cruéis. Mas não quer dizer que eu não os ame.
O meu jeito e as coisas acumuladas em mim fazem com que eu não diga. E também porque, querendo ou não, no fim das contas nós três somos tóxicos uns aos outros. As pequenas coisas ditas e feitas a cada dia por cada um fazem com que nos machuquemos de muitas maneiras.
Também não é que eu não goste de ficar perto deles ou mesmo vá deixar de me importar um dia. Mas eu preciso sair daqui, não morar mais sob o mesmo teto assim que puder. Só quando isso acontecer eu conseguirei ver as coisas por um ângulo diferente e quem sabe entender a eles e a mim mesma. Essa sensação de sufocamento e pressão é o que realmente me mata.
Isso até mesmo faz com que minha condição de dependência física pareça um pouco pior para mim.
Claro que nada é perfeito e talvez isso da condição ainda dure um tempo, mas independentemente disso, só o fato de eu estar em outro lugar, com outras pessoas, já torna tudo bem razoável. As brigas e tudo mais que vem com ela acontecerão em outros contextos e isso certamente me ajudará a entender o que preciso mudar em mim e o que já é meu, entre outras questões.
Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
segunda-feira, 14 de março de 2016
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