A cada dia me surpreendo comigo mesma. Com o quanto as circunstâncias de ter sintomas de depressão de quando em quando me fez me conhecer melhor, de maneiras que nunca tinha imaginado antes. Fico abismada com - mesmo que muitas vezes eu me sinta diferente dos outros de maneira negativa – o quanto sou humana.
Tenho aprendido a olhar para meus defeitos como se deve e aceitá-los como parte de mim, sem usá-los como desculpa para não assumir minhas responsabilidades. Porque, honestamente, pessoas sem defeito são entediantes. Sejam eles no caráter ou na aparência.
Confesso que fui muito egocêntrica quando criança; dessas de querer que os outros se curvem às suas vontades e opiniões sem pestanejar e de ser a primeira em tudo. De provar pros outros que sou boa no que me disponho a fazer. Embora este defeito talvez nunca desapareça por completo, claro que aprendi como as coisas funcionam. O mundo definitivamente não gira ao meu redor e gosto de pessoas que me mostram isso de modo sutil, de verdade, porque eu juro que hoje o faço sem perceber.
Acho que o que mais me deixa feliz e ao mesmo tempo estranha é que, por mais que o modo como fui criada e o contexto em que vivo tenham me “cobrado” para que eu amadurecesse bem mais cedo que as outras pessoas da minha idade em muitos aspectos, ainda sou uma criança em muitas coisas. Há muito que preciso aprender, e me dar o tempo certo de aprender.
E por trás dessa minha cara de quem sabe que não é melhor ou pior do que ninguém está alguém que está aprendendo a se gostar pra valer. Que só usa maquiagem quando tem alguma festa boa, que gosta do cabelo da cor que é, mesmo que ele seja insano. Que se pergunta se um dia as coisas mudarão, sendo que estão sempre mudando. Que há algum tempo vem se achando gorda e um pouco feia. Que se sente sozinha e carente. Que fica vulnerável e chora, mas não quer pena de ninguém. Que acredita no poder da motivação. Que se fere fácil, tem o coração mole.
Que não se sente o suficiente nem para si mesma. Que acorda sem saber o que fazer com a própria vida, mesmo que já tenha “planos para a faculdade”. Alguém cuja ansiedade não a deixa perceber que está viva neste exato segundo. Alguém para quem um simples gesto significa um monte. Alguém para quem as dúvidas da adolescência ainda não acabaram e que tem medo da vida adulta. Que, por mais que tenha completado duas décadas de vida, sempre será uma criança internamente. Ou, pelo menos, acha que sim.
Dessas que aposta todas as fichas na vida, mas que quer um beijo e um band-aid para quando cair no chão. Mesmo que, na maior parte das vezes, quem tenha de fazer isso seja ela própria.
Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
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