Não sei o que é mais estranho. Desde que comecei a realmente perder entes queridos e entender o conceito da morte, da perda e do luto, tem sido mais ou menos assim: depois de remoídas todas as fases do luto com maior ou menor intensidade, a sensação é que com o tempo eu sigo em frente como se nada houvesse acontecido, embora eu saiba que isso não é verdade; acho que essa é a definição da expressão ‘fulano (a) está vivo no meu coração’. Talvez porque as lembranças sejam o que sobre e elas sempre estejam lá, no fundo da gente, talvez não tão sólidas, mas sempre ao alcance da mão.
É como se de certa forma eu agisse como se aquela pessoa ainda estivesse fisicamente viva. E aí vem o bizarro: de vez em quando, aparece algum detalhezinho, uma coisinha qualquer que traz para as memórias uma cor e textura diferente, que não se pode ver, mas se pode sentir, a da saudade.
Com a saudade, vem o lembrete da perda real, que ela realmente aconteceu e que não tem volta, e às vezes dói, não importando quão maduro a gente seja. E aí só nos resta deixar que doa, como quando a gente mexe numa feridinha que está querendo sarar, porque uma hora ou outra a casquinha nasce de novo.
A perda é uma facada na alma que as recordações em geral cicatrizam. Cicatriza, mas não some. Fica pra sempre. Nós muitas vezes nem notamos, mas segue no mesmo lugar, do mesmo tamanho. Só não sangra, embora fique dolorida nos tempos tempestuosos. E como o sol sempre vem, esperamos que o tempo melhore e possamos ir vivendo.
Letícia Bolzon Silva; graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário UNINTER e Especialista em Tradução de Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Escritora de prosa e poesia, redatora e tradutora freelancer.
domingo, 28 de fevereiro de 2016
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