segunda-feira, 14 de abril de 2025

A arte de se justificar deveria cair em desuso

Devido à natureza social do ser humano, cada vez mais duas coisas me impressionam. De um lado, a distância a que tantos chegam com o objetivo de se encaixar em algum lugar, não importando qual ele seja. De outro, a coragem que uns poucos parecem ter de não tentar. De simplesmente existir e construir um contexto de pertencimento.

Justamente por isso, ainda me entristece perceber o que o desejo por amor e pertencimento pode fazer com alguém. Me entristece perceber que estou entre essas pessoas e que, por conta disso, ainda acabo me colocando em situações e entre pessoas que de um modo ou outro são constrangedoras e nada enriquecedoras tanto para as emoções quanto para o intelecto.

Ao mesmo tempo em que estou entendendo melhor que muito provavelmente muitos contextos não me trazem aquilo que desejo e preciso, ainda me vejo tentando me encaixar. Ainda me vejo me podando, me moldando a algo que no fim das contas vai me encolher. Porque me dói demais saber que meu lugar ali seja nulo ou extremamente reduzido.

Mesmo agindo sob o princípio de que não devo implorar pelo afeto de ninguém... Ainda me vejo abaixando a cabeça diante de amores cujas condições não parecem enxergar e abraçar tudo o que sou. Diante da perspectiva de por algum motivo ser menos para certas pessoas, eu ainda hesito, ainda me calo, ainda tento ocupar menos espaço. Enfim, ser menos de modo geral.

No fundo, isso é uma forma de se justificar. Assim como explicar sentimentos, escolhas e atitudes em contextos onde isso provavelmente é desnecessário. Conversar sobre sentimentos é bom. Ter noção do que norteia nossas ações e colocar outros envolvidos a par disso é muito correto e maduro. Mas fazer isso simplesmente para parecer agradável e amenizar todo e qualquer desconforto não tem sentido nenhum.

A verdade é que a gente precisa entender que nem todo mundo vai nos entender. Que nem todo mundo precisa nos entender. Que, no fundo, a nossa obrigação é encontrar ou criar o lugar onde poderemos ser nós mesmos de verdade. Que mesmo esse lugar nunca será perfeito. Que o único lugar igualmente imperfeito onde devemos buscar nos encaixar o máximo possível é dentro de nós mesmos.

A verdade é que a gente precisa se lembrar que se justificar vem da vontade de agradar. Da vontade de ser amado e de não assustar ninguém. De fazer com que a ideia que os outros têm de nós seja específica, reduzida e necessariamente benéfica. Fazemos disso uma arte que no fim não nos serve de nada. A verdade é que eu quero ficar ruim nisso. O preço de sermos nós mesmos é caro e assustador, mas só nos torna mais ricos.

abril de 2025

 

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