domingo, 17 de abril de 2022

A morte da morte

 Depois de morto
o morto ainda vive

do próprio nome em outro corpo
escrito em caligrafia que o tempo não comeu

da data que se lembra
e da que se quer esquecer

do tato que o olho reconhece
por sobre o inanimado

do brilho que pode a si ter voltado
ou envolvido outros dedos

do paladar doce, exigente
de quem dele só viu imagem

da surpresa da falta maior
do que a que o costume dita.

E o morto ainda viverá
até ser menos do que o que resta do seu fogo.

O morto apenas morrerá
na morte do que dele ficou. 


16/04/2022

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